Ansiedade, insónia, tristeza, intranquilidade.
Quando sintomas como estes se apoderam
do seu bem-estar, importa identificar as causas
que os motivaram, para as poder eliminar ou minimizar.

Igualmente importante poderá ser atenuar os
sinais de
mal-estar, para impedir que dificultem essa
missão. É neste campo que o recurso à fitoterapia
pode fazer sentido.

Neste artigo, contámos com a
colaboração do clínico geral Pedro Lôbo do Vale para
lhe revelar algumas plantas medicinais cujas propriedades
ajudam a afastar estados de tristeza e/ou ansiedade.
Saiba quais são, de que forma atuam e como as
pode consumir, de modo a potenciar todos os seus benefícios em prol do seu bem-estar.

Hipericão

Também conhecido como erva-de-são-joão, o hypericum perforatum «é
utilizado como primeira linha de
tratamento no combate à depressão
ligeira a moderada na Alemanha
», salienta Pedro Lôbo do Vale,
segundo o qual «a sua toma pode
ser complementada com a de outras
plantas, nos casos em que a
ansiedade e as insónias sejam sintomas
associados».

Atua ao nível da
regulação dos neurotransmissores
(substâncias químicas produzidas
pelos neurónios), como explica
Pedro Lôbo do Vale. «As hipericinas
têm um efeito antidepressivo,
por inibição da ação da monoaminooxidase
(uma enzima).
A hiperforina é um inibidor inespecífico
da recaptação da serotonina,
noradrenalina e dopamina».
Segundo o Manual de Medicinas
Complementares (Editora Oceano),
«melhora a tensão e a ansiedade,
alivia a depressão leve e suaviza as
emoções durante a menopausa», refere.

Poderá ser tomado sob a forma de infusão,
duas ou três chávenas por
dia (uma colher de sopa de partes
aéreas floridas para um litro de
água) ou sob a forma de suplemento
(cápsulas ou comprimidos,
300 mg a um grama por dia). Lembre-se que a toma de hipericão
está contraindicada em mulheres
grávidas ou a amamentar, já que
entre os efeitos adversos se contam
«mudanças no leite», além de «dor
de cabeça, rigidez no pescoço,
náuseas, vómitos e aumento da
pressão sanguínea», refere o Manual
de Medicinas Complementares.


Segundo Pedro Lôbo do Vale, «a
toma concomitante com certos contracetivos orais, inibidores
seletivos da recaptação da serotonina
(ISRS), inibidores da enzima
monoaminooxidase (IMAO) e
fármacos antirretrovirais deve
ser monitorizada por supervisão
médica». «Embora raramente,
a utilização pode provocar
reações de fotossensibilidade, pelo
que se aconselha a evitar a exposição
prolongada à luz solar durante
o período da administração»,
salienta o clínico geral, segundo
o qual «sendo mais provável no
verão, esta reação desaparece completamente
a partir da descontinuação
da toma», quando questionado sobre possíveis efeitos adversos.

Valeriana

Segundo o Manual de Medicinas
Complementares, o uso adequado
desta planta «favorece o sono,
reduz os despertares noturnos e
aumenta a sensação de sono em
muitas pessoas». Como tranquilizante
natural, «a valeriana reduz a
ansiedade, a tensão nervosa, a insónia
e a dor de cabeça», refere a
mesma fonte.

«O óleo essencial, os
ácidos valerénicos, os iridóides sesquiterpénicos
e os flavonóides, em
ação conjunta, contribuem para a
obtenção de uma ação ansiolítica
e tranquilizante», detalha Pedro
Lôbo do Vale. «O rizoma e a raiz
são as partes medicinais», informa
o Manual de Medicinas Complementares,
segundo o qual, entre outros
efeitos, esta planta «atua sobre
os nervos periféricos e relaxa os
músculos lisos e esqueléticos para
reduzir a tensão».

Como tomar? Para infusões, utilizar
um grama para 100 ml (ou cinco gramas para 500 ml) de água a
ferver e tomar duas a três chávenas
por dia. Como suplemento, tomar
600 mg a um grama por dia. Saiba ainda que a valeriana está
contraindicada «na gravidez, aleitamento
e em crianças menores
de três anos», enumera o clínico
geral, que sublinha a importância
de se «respeitar as posologias».

Dores de cabeça,
espasmos musculares, palpitações,
vertigem, mal-estar gástrico,
falta de sono e confusão podem,
segundo o Manual de Medicinas
Complementares, resultar da toma
de doses elevadas de valeriana.
«Os utilizadores podem tornar-se
resistentes aos seus efeitos com o
uso prolongado».
Segundo Pedro Lôbo do Vale,
são «desconhecidas» interações
com medicamentos e/ou alimentos,
mas, «por vezes, numa percentagem
mínima de indivíduos,
pode provocar o efeito contrário»,
favorecendo a depressão.


Veja na página seguinte: Os benefícios da passiflora e do lúpulo

Passiflora

Aliviar a ansiedade, a intranquilidade
e a insónia são os principais
usos desta planta que, segundo o
Manual de Medicinas Complementa Complementares,
é oriunda do sul dos Estados
Unidos, Índia e Antilhas, México
e América Central e do Sul, tendo
sido utilizada primeiro como
sedativo pelos nativos americanos
e Aztecas.

«A ação sedativa e
ansiolítica é proporcionada pela
sinergia entre os flavonoides constituintes
e os restantes componentes», afirma o clínico geral.

Maltol
e alcaloides diversos são, segundo
o Manual de Medicinas Complementares,
alguns desses componentes.
Segundo Pedro Lôbo do Vale está
«também aconselhada durante a
gravidez». Como infusão, deve-se tomar
dois gramas para 150 ml (ou oito
gramas para 600 ml) de água a
ferver, uma chávena duas a três
vezes ao dia (para as insónias, a
última deve ser antes de deitar).
Como suplemento, 300 mg a um
grama por dia.

«A ansiedade e a
insónia podem ser sintomáticas
de uma perturbação psicológica
mais grave que necessita de
consulta com um profissional de
saúde mental», pelo que «não deve
utilizar-se mais de duas semanas
sem consultar antes o médico»,
adverte o Manual de Medicinas
Complementares. Esta planta deve
utilizar-se com cuidado em crianças
e doentes hepáticos ou renais
«devido à falta de estudos médicos
suficientes», sublinha ainda.

Os componentes da
passiflora «aumentam os efeitos
dos antidepressivos inibidores da
monoaminooxidase, que costumam
utilizar-se para tratar a
depressão, os ataques de pânico e
as perturbações alimentares», bem
como «os efeitos dos sedativos que
se vendem sem receita», refere ainda o especialista. Segundo a mesma
fonte, «não produz efeitos secundários
significativos, mas «algumas
pessoas podem sentir sonolência»,
salienta Pedro Lôbo do Vale.

Lúpulo

Da família de plantas da marijuana,
esta planta (Humulus lupulus) é
usada pela fitoterapia «como sedativo,
para ajudar a digestão ou
como antibiótico», refere o Manual
de Medicinas Complementares. Segundo
Pedro Lôbo do Vale, está
ainda indicada «para ansiedade e
insónia».

O óleo essencial, os amargos
da resina e o lupulino têm ação sedativa.
«A ação sedativa dos constituintes ativos
contribui para a diminuição dos sintomas
associados à ansiedade e para a indução do
sono», refere Pedro Lôbo do Vale. Como tomar? Como infusão, usar 0,5 a um
grama por chávena, bebendo três chávenas
por dia. Como suplemento, tomar 42 mg a
70 mg por dia.

Está contraindicada em caso
de gravidez, aleitamento e hiperestrogenismo,
refere o clínico geral, segundo o
qual esta planta «pode produzir um efeito
estrogénico». Quando tomado nas doses
recomendadas, são desconhecidos efeitos
adversos.

Quando as plantas não chegam

Indícios de que deve procurar ajuda médica:

- Se sofre de depressão ligeira ou moderada e já recorreu
à fitoterapia, sem obter resultados benéficos.

- Se tem sintomas indicativos de depressão grave, como
insónia, instabilidade psicológica acentuada, choro contínuo,
isolamento, pensamentos suicidas.

Texto: Rita Miguel com Pedro Lôbo do Vale (médico de Clínica Geral e docente do Mestrado em Nutrição da Faculdade de Medicina de Lisboa)