Nasce nas pastagens atlânticas da açoriana ilha de São Jorge, tem reconhecimento nacional e além-fronteiras, conta com mais de cinco séculos de história, ao remontar à descoberta do território em meados do século XV. O Queijo São Jorge DOP obedece a um caderno de produção que lhe determina ao pormenor a feição: feito a partir de leite de vaca cru, coalho e sal, apresentando um aroma forte e sabor ligeiramente picante. Tem um teor de gordura de 36%, e as curas variam entre três e 36 meses. Na ilha de São Jorge, este Denominação de Origem Protegida (DOP) é produzido na Uniqueijo (União de Cooperativas Agrícolas de Lacticínios de S. Jorge, UCRL) e comercializado pela LactAçores.

Que não se confunda o queijo ilha com o Queijo São Jorge DOP. Com o Presidente da Confraria do Queijo São Jorge percebemos os porquês
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Este mês de janeiro, o Queijo São Jorge DOP, assume protagonismo à boleia da iniciativa “À Roda do Queijo de São Jorge DOP”, evento promovido pela dupla de entidades já aqui referidas.

Iniciativa que se corporiza numa “roda” de criações gastronómicas por parte de mais de duas dezenas de chefs nacionais, no contexto dos restaurantes onde lideram as cozinhas. A iniciativa arrancou a 20 de janeiro, Dia Mundial do Queijo, para se prolongar até dia 29 janeiro.

Os intérpretes do Queijo São Jorge DOP trabalham diferentes curas do produto, de sete, 12 e 24 meses, para o apresentarem em pratos de autor, assim como na presença do produto em tábuas de queijos que procuram realçar as características destes no seu estado original.

“À Roda do Queijo de São Jorge DOP” para provar o carácter singular dos açores em dezenas de restaurantes do continente e ilhas
créditos: Jorge Blayer Góis

Dois dos chefs envolvidos na iniciativa, Miguel Laffan (Torre de Palma, Alentejo) e João Alves (restaurante Magma, em São Miguel), apontam-nos os porquês e as qualidades do Queijo São Jorge DOP. Carácter que os levou a associarem-se à presente iniciativa.

Um queijo adaptável a inúmeros pratos

João Alves sublinha que iniciativas como a aqui referida concorrem para “que se estenda o conhecimento e a valorização deste produto e da região. Estamos ainda muito longe do reconhecimento que merecemos como região, gastronomia e de produtores de excelentes alimentos”. O chef destaca a adaptabilidade do Queijo São Jorge DOP a diferentes pratos: “num dos pratos da nossa carta temos uma massa fresca com chambão de vaca e dois queijos (São Miguel fresco e São Jorge) que demonstra exatamente como os três ingredientes melhoram juntos”.

A rica mesa açoriana encontrou porto de abrigo no restaurante Magma
O restaurante Magma, do chef João Alves, é um dos espaços onde decorrem as jornadas do Queijo São Jorge DOP. Divulgação

No que respeita aos pratos que apresenta nas jornadas gastronómicas, João Alves destaca, na entrada, a Abóbora e queijo, sementes de girassol e rebentos de mostarda (São Jorge DOP 24 meses), seguido da Vazia black angus, crosta de hortelã, cremoso de batata e queijo, compota de tomate e cebola com sucos de carne (São Jorge DOP 12 meses) e, na sobremesa, “A nossa infância, banana, marmelada e queijo” (São Jorge DOP sete meses). Sobre esta última proposta, o chef do restaurante Magma, vê-a como fazível em casa: “com certeza, todos se lembram do que as nossas mães faziam. Esta sobremesa está completamente ligada à nossa infância e aos Açores (Banana prata, queijo São Jorge e marmelada).

"Gostamos da pureza dos nossos produtos" - Miguel Laffan

Já Miguel Laffan, sublinha o carácter diferenciador do Queijo São Jorge DOP face aos “demais através do seu aroma cru, de sabor intenso derivado das suas pastagens e o picante exemplar que transporta, podendo baixar ou aumentar intensidade consoante seu tempo de cura”.

"Fazer uma tampa no queijo para o servir à colher é matá-lo"
"Fazer uma tampa no queijo para o servir à colher é matá-lo"
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Dos pratos que apresenta no decorrer do “À Roda do Queijo de São Jorge DOP”, Miguel Laffan refere que “durante este período de celebração, todos os clientes começaram e terminaram a refeição com o queijo. À chegada, um soufflé feito com o queijo com sete meses de cura, e no final deixar o queijo ser o que ele é, grandioso, servido com uma compota de Pera Rocha e especiarias com pão de fermentação lenta torrado”.

Miguel Laffan
Chef Miguel Laffan. créditos: Chefs Agency

No que toca à criatividade dos portugueses a trabalharem no prato os queijos nacionais, Laffan sublinha que “não diria que somos pouco criativos, gostamos da pureza dos nossos produtos e não achando a necessidade de os manipular, mas existe pratos que ganham muito na sua associação, gratinados, bechamel, saladas e o meu favorito soufflé de queijo”.

“À Roda do Queijo de São Jorge DOP”, em Lisboa, conta com a participação dos restaurantes Fogo, Oitto, Prado, Pica-Pau, Solar dos Presuntos e Tasca da Esquina. No Porto, juntam-se os restaurantes Almeja, Apego e Oficina. No Ribatejo, a ação conta com o restaurante Ó Balcão e, no Alentejo, com a Gadanha Mercearia e o Restaurante Palma do Torre Palma Wine Hotel. Na Madeira, a ação conta com o Kampo e Já Fui Jaquet e, nos Açores, com os restaurantes Sabores Sopranos e São Jorge (São Jorge), O Petisca (Pico), Magma e Taberna Saca-Rolhas (São Miguel), Q.B. (Terceira) e Cantina da Praça (Faial).

A preservação e promoção do Queijo São Jorge DOP é assegurada pela Confraria do Queijo São Jorge, que conta com mais de 30 anos de história. Uma associação científica e cultural, responsável pela certificação dos queijos produzidos por todos os produtores da Região Demarcada, através de um painel de provadores devidamente qualificado, treinado e monitorizado.

“À Roda do Queijo de São Jorge DOP” para provar o carácter singular dos açores em dezenas de restaurantes do continente e ilhas
créditos: Jorge Blayer Góis

Um labor de gerações

“De geração em geração tem havido uma dedicação e cuidado crescente em preservar e promover a genuinidade e excelência do Queijo São Jorge DOP, um produto único no mundo, criado com a melhor matéria-prima que só a natureza da Ilha de São Jorge pode oferecer, e que é um excelente representante da qualidade nacional”, refere António Aguiar, presidente da Uniqueijo.

“Esta iniciativa procura divulgar e consolidar o valor deste produto de excelência, reconhecido internacionalmente, em parceria com o trabalho essencial dos chefs e equipas que trabalham o Queijo São Jorge DOP, e com o consumidor final, que poderá provar diferentes curas e pratos criados especialmente para esta ação”, acrescenta Pedro Tavares, presidente da LactAçores.