Os tetos são altos, a pedra de lioz está presente no balcão, nas mesas e também no chão, e as paredes surgem adornadas pela omnipresente madeira escurecida e pelo papel de parede vibrante: o 18.68 Cocktail Bar abriu em maio no Bairro Alto Hotel, com o seu ADN a refletir uma forte aposta na mixologia. Tanto o nome como o espaço do projeto acabado de estrear resultam de uma homenagem à história local: o bar ocupa as antigas e originais instalações do quartel de bombeiros voluntários mais antigo do país, no Largo Barão de Quintela, estabelecido no ano de 1868. A comida de partilha, de inspiração portuguesa e japonesa, acompanha a singular carta de cocktails, a maioria de autor, e não o contrário: as estrelas são as criações concebidas ao balcão pelo bartender de serviço. Tiago Santos está responsável pelo bar e o chef Bruno Rocha pelas propostas gastronómicas. Com morada fixa no r/c, o 18.68 tem ligação direta para o burburinho da cidade, estando situado na fronteira entre dois bairros emblemáticos, e apresenta propostas que podem ser aproveitadas a partir do final da tarde.

Feitos no momento e para toda a gente ver. Ao todo existem 18 cocktails, 15 de autor e três clássicos, distribuídos por um trio de categorias, com propostas para começar — os Maçaricos —, cocktails para harmonizar e para fechar a noite — Rescaldo —, concebidos a partir de vermute, gin, whisky, medronho ou rum. Na carta de bar constam as descrições destas combinações improváveis para ajudar no momento da escolha: do cocktail que pode ser “curto, fresco e cítrico” ao “tropical e frutado”. A oferta vai mais além e inclui raridades licorosas e espirituosas, das tradicionais amêndoa amarga e ginja ao whisky de origem escocesa, mas também portuguesa e até japonesa. Bourbon, Cognac, Mezcal, Cachaça, Brandy e ainda Tequila são outros dos complementos, sem esquecer a seleção de vinhos naturais —  isto é, de pouca intervenção —, e de assinatura portuguesa.

18.68, o novo cocktail bar lisboeta instalou-se num antigo quartel de bombeiros
18.68, o novo cocktail bar lisboeta instalou-se num antigo quartel de bombeiros Queijo de Azeitão. Bairro Alto Hotel

Para acompanhar as estrelas da casa foi criada uma carta que aposta numa variedade de snacks e também no conceito de finger food: são exemplos a tosta de salmonete curado, funcho e laranja, e o “rissol de carabineiro”. Já entre as propostas para partilhar, destaque para a barriga de atum, óleo de manjerico e torresmos e ainda para a gamba da costa, meloa e leite de tigre de agrião. Carnes curadas, queijaria e doces, como a baba de camelo e granita de gin tónico, completam o menu forte em petiscos contemporâneos com base em raw food. A comida de inspiração portuguesa e japonesa é essencialmente de partilha e em parceria com produtores locais, e o diálogo com quem prepara os cocktails uma constante.

Em 1868, Lisboa e a sua população enfrentavam uma escassez de meios para fazer frente à vaga de incêndios que engoliam a cidade. A 18 de setembro, a farmácia dos irmãos Azevedo, no Rossio, voltava a ser ponto de encontro entre personalidades da época: da conversa entre José Isidro Viana, então vereador da autarquia, e o maestro Guilherme Cossoul, entre outras individualidades de alto gabarito, nasceu a ideia de criar a primeira companhia de bombeiros voluntários. Nesse mesmo ano, Cossoul tornar-se-ia o fundador da Real Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, a mais antiga do país. Nomes pesados do comércio, da aristocracia, das ciências e das artes tornaram-se sócios da companhia que ficaria conhecida pelo povo como a “Bomba dos Fidalgos”. Mais do que uma data, o 18.86 Cocktail Bar é um legado revisitado.