Secar, suar, derreter, murchar, perder as cores vivas, ceder ao próprio peso. Este é um léxico que o food stylist não quer ver incluído na cartilha dos dissabores de uma sessão de fotografia de alimentos. Isto porque, como bem o sabe, qualquer um destes desastres culinários pode trair horas de planeamento e preparação e comprometer o produto final. Para o especialista na arte de apresentar alimentos para as revistas ou livros de culinária, publicidade e vídeos, a “cereja em cima do bolo” é um produto final que apeteça “trincar com os olhos” nas páginas de uma revista.

Convém, então, que a cobertura do bolo não derreta e que a cereja mantenha o ar fresco e apetecível. Ou seja, seguir uma máxima que se aplica na arte de bem vender uma receita: Não basta a comida ser boa, tem de parecer bem. Isso mesmo sabe-o a food stylist Filipa Inglez. Uma conversa que começa por firmar alguns princípios básicos quando o assunto é Food Styling e quando a intenção é responder à altura dos predicados que começámos por enunciar neste texto. Aportuguesando, ser um “estilista dos alimentos” exige, segundo Filipa, a capacidade de firmar um pacto entre “arte e ciência. Saber compor e equilibrar um quadro onde cabem os alimentos e conhecer as características e comportamento dos mesmos”. Ou seja, uma questão de “químicas”. Entre os ingredientes que confluem para uma boa fotografia e entre esta e os destinatários finais, por exemplo os leitores. “Uma boa imagem pode transmitir sabor e textura”, refere Filipa.

É o resultado de um trabalho que inclui o chefe que confeciona e emprata, o estilista que compõe o quadro, o fotógrafo que captura o momento, entre outros elementos. Não foi em equipa que Filipa começou a sua carreira no food styling. “Tirei o curso de artes decorativas na fundação Ricardo Espírito Santo. Comecei por ser produtora de interiores, atividade que ainda exerço. A par, comecei a fazer food styling”. Um início de atividade que obrigou Filipa a abarcar todos os instrumentos: “Na altura fazia tudo, comprava os ingredientes, confecionava, fotografava, aconselhava-me com um fotógrafo. Acabou por ser uma boa escola pois deu-me visão de conjunto. Uma questão de aplicar, à apresentação dos alimentos, conceitos teóricos e práticos que já trazia da decoração”. Atualmente, Filipa trabalha, entre outros clientes, com a Bimby.

A food stylist explica-nos parte do seu método de trabalho. Em regra o trabalho é planeado com muitos meses de antecedência. O processo que culmina na fotografia parte de um tema. “Começo a pensar na decoração, na história para cada tema, também considerando a época do ano. Montado o cenário, a margem para efetuar mudanças é curta. Por um lado uma mesma sessão pode envolver a fotografia de muitos pratos. Por outro, alguns alimentos carecem de fotografia quase imediata. Não quer com isto dizer que não se façam ajustes. Por vezes aquilo que pensamos não resulta na prática”.

Se os alimentos, em si, são apelativos, o trabalho está facilitado. Em confeções menos fotogénicas Filipa recorre a algumas técnicas, jogando com a decoração. “Um saleiro, uma toalha, uma boa luz aplicada pelo fotógrafo, ajudam a criar uma manobra de diversão”, diz Filipa com um sorriso. O cenário montado para um alimento em 2012 não é, contudo, igual ao de há dez anos. O Food Style, evoluiu, não foge às tendências do mercado. “Durante muito tempo fotografou-se os pratos a partir de uma posição superior. Mais tarde recorreu-se a efeitos de luz, uma atmosfera romântica e uma aproximação macro dos preparos. Hoje, a tendência é apresentar os alimentos ´limpos´, simples, realçando as qualidades de cada preparo. No fundo há que saber equilibrar”.

Quando toca à composição, Filipa tem alguns amores e ódios de estimação. “Gosto de fotografar entradas. Já os gelados são complicados pois derretem e para, os poder empratar, têm de estar um pouco moles. Depois de empratados, congelamo-los e só posteriormente é que empratamos para a fotografia”. Ainda nos alimentos exigentes Filipa refere os sufflés, pois tendem a “baixar muito”, logo após a cozedura. “Não gosto de fotografar crepes, empadões e lasanhas, assim como alguns doces conventuais. São pouco fotogénicos”.

No que toca a maquilhar os alimentos, Filipa desfaz mitos. Melhorar a aparência de um prato não significa acrescentar aspirina na taça de champanhe para criar mais bolhinhas, pó de talco para simular açúcar em pó, ou batom para realçar a boa cor de uma maçã. “As receitas que fotografo, por exemplo, para a revista e livros da Bimby estão a ser confecionadas no momento. Logo não se acrescenta nada para além daquilo que a receita indica. O que, eventualmente, posso pedir é que não se confecionem os alimentos até ao fim para realçar a sua cor. Pode, também, acontecer que o prato não esteja acabado, ou seja, com todos os temperos”.

Texto: Jorge Andrade 

Fotos: Filipa Inglez

Foto de abertura (banco de imagens)