Planto. Primeira pessoa do singular do verbo plantar. Meter na terra, semear, estabelecer, fazer nascer. E Planto. Restaurante de all day dining de Vítor Adão, aberto em agosto de 2022, perto do Cais do Sodré. Um jovem, que já não é promessa, no panorama gastronómico português, porque dispensa apresentações. Um transmontano que se deixou conquistar por Lisboa depois de passar por cozinhas como o DOC e DOP, do chef Rui Paula, Ocean e Vila Joya, no Algarve, CUT no hotel 45 Park Lane, em Londres, do chef Wolfgang Puck, e de ser chef executivo do grupo 100 Maneiras, já por Lisboa. Antes de abrir o Plano, o seu restaurante assinatura na Graça, em agosto de 2019, ainda foi consultor da Quinta do Arneiro e abriu o pop-up Izakaya Tokkuri, no Bairro Alto. Um curriculum de respeito de um chef que completou recentemente 33 anos.

É um restaurante, um café ou um bar? É o Planto, de Vítor Adão
O Chef Vítor Adão. créditos: Carlos Vieira

Plano e Planto. Dois filhos do mesmo pai, que não podiam ser mais diferentes e, ao mesmo tempo, tão semelhantes. Como são aqueles que partilham laços familiares. “A semelhança entre nomes foi propositada?”, questionamos.

“Sim, são conceitos completamente diferentes, mas com alguns elementos em comum. Daí a semelhança entre nomes. A minha ideia foi trazer para aqui o mesmo cuidado com o produto, mas numa cozinha mais simples, descontraída, pensada para todas as horas. O nome Planto vem daí: do protagonismo que é dado aos produtos, seja na cozinha ou no bar, que é um elemento fundamental”, explica o chef.

À imagem de Vítor Adão, o Planto é o restaurante descontraído e desempoeirado, longe do conceito de fine dining do seu antecessor, com uma decoração muito particular: plantas por todo o lado, num efeito naturalista que acompanha um balcão que não vai encontrar em mais lado nenhum, com blocos de cimento.

É um restaurante, um café ou um bar? É o Planto, de Vítor Adão
O balcão é feito de blocos de cimento. créditos: Carlos Vieira

E desempoeirado porquê? Porque “temos cocktails a serem servidos desde as 9h, com ingredientes como melão, manjericão, pistácio, citrinos, frutos vermelhos, maçã, hibisco, coentros, alecrim e até couve-flor, e para cada um deles existem sugestões de pairing da cozinha. A ideia é haver sempre este encontro entre a cozinha e o bar”, acrescenta.

Resumindo: o Planto é aquele restaurante a que pode ir a qualquer hora do dia, entre as 9h e a 1h, com foco nos ingredientes vegetais sem ser vegetariano e onde pode encontrar sugestões para todo o tipo de gostos ou vontades. Do pequeno-almoço ao brunch, dos snacks aos pratos principais. E invariavelmente, sobremesas. Pelo meio tem uma carta de cocktails e um casamento perfeito entre bebida e comida. “Mais que preparada, Lisboa precisava disto”, responde Vítor Adão, que acrescenta que a importância dada aos cocktails, nada tem a ver com modas, mas sim, “tem a ver comigo. Adoro cocktails. E adoro a forma como a coquetelaria pode funcionar em perfeita sintonia com a cozinha, como juntos podem elevar uma refeição a outro nível totalmente diferente”.

A carta de bar foi entregue a Konstantin Gutnik, premiado bartender ucraniano, com mais de uma década de carreira, que nos recebe de sorriso fácil no Planto e que pacientemente explica toda a ideia por detrás de cada cocktail. Dos clássicos Mimosa (6,50€) e Bloody Mary (7€) aos especiais como Pistachio Pie (com rum de ananás, licor de Amaretto e cacau, mix de bitters, citrinos e gelado de pistáchio, 13€) ou Umeshu Highball (com Umeshu, gin japonês, vermute e água tónica, 10€). Na carta de cocktails tem as descrições que servem de barómetro de sabores. Assim tem o degistivo, o aperitivo, o frutado, o cítrico, etc, que ajudam a guiar de acordo com os gostos de cada um. São mais de 20 cocktails. Temos muito por onde nos entreter.

É um restaurante, um café ou um bar? É o Planto, de Vítor Adão
créditos: Carlos Vieira

Natacha Bagão faz as honras da casa e conduz-nos pelas várias opções do menu (além de tomar conta das plantas). Há pratos de partilha como o húmus, guacamole e totopos e baba ganoush (5,50€ cada um), tacos de camarão (3 unidades, 12€), o célebre hambúrguer de vaca Barrosã (14€), ou uma katsu sando de presa de porco preto (13€), uma sandes de inspiração japonesa. Falando de um menu all day dining, opção é coisa que não falta. Mateus Pessoa é o chef executivo do Planto, uma vez que Vítor Adão tem de dividir atenções pelos seus dois projetos.

É um restaurante, um café ou um bar? É o Planto, de Vítor Adão
Katsu sando de presa de porco preto, uma sandes de inspiração japonesa. créditos: Carlos Vieira

“Nós, cozinheiros e pessoal da restauração no geral, funcionamos com um horário um bocadinho diferente da maioria das pessoas. Às vezes estamos a chegar a casa quando os outros estão a sair para o trabalho, e acabamos por fazer refeições em horários pouco habituais. Ter uma carta completa o dia inteiro é um bocadinho o reflexo da minha própria experiência. Onde é que se come um grande hambúrguer ou um pad thai às 9h, por exemplo? Ou uns ovos ótimos às 22h? O desafio foi encontrar o equilíbrio, propostas que funcionassem a todas as horas do dia para públicos diferentes”, resume Vítor Adão.

Localizado na Rua da Boavista, nº 69A, entre o Cais do Sodré e Santos, o Planto é mais um dos espaços que veio dar uma nova vida a esta zona da cidade, com esplanada aberta para a rua, com capacidade para 16 pessoas. Tudo isto num edifício apalaçado que mereceu o Prémio Gulbenkian Património para a sua recuperação e que é hoje o Look Living, um conjunto de apartamentos em formato alojamento local.

É um restaurante, um café ou um bar? É o Planto, de Vítor Adão
créditos: Carlos Vieira

“As novidades são sempre bem-vindas, trazem mais gente para a rua, mais atenção. O nosso trabalho não passa por olhar para os outros, mas para nós: garantir que oferecemos sempre o melhor serviço, a melhor comida, os melhores cocktails. Que continuamos a procurar o melhor produto, em Trás-os-Montes e não só, e a apresentá-lo, no prato e no copo, de formas criativas, descontraídas e cheias de sabor”, concluiu.

O Planto reserva ainda algumas surpresas. O restaurante é pet friendly, pelo que pode levar o seu amigo de quatro patas. E outro destaque vai para a prateleira que enfeita uma das paredes do restaurante com pickles, uma forma de combater o desperdício alimentar, aproveitando-se a fruta e vegetais em excesso na época, quando estão no seu melhor. Depois são aproveitados, não só no prato, mas também nos cocktails.

É um restaurante, um café ou um bar? É o Planto, de Vítor Adão
créditos: Carlos Vieira

“Bar aberto todo o dia, mas com excelente comida?”, desafia Vítor Adão. Se todos os caminhos vão dar a Roma, algum passa pelo Planto, com certeza.

O SAPO Lifestyle esteve no Planto a convite do restaurante.