“A Rua da Boavista chama-se Boavista, mas não é por ter uma bela vista, senão seria assim que se chamaria”. É assim que começa a nossa conversa com António Polena, um dos responsáveis do Look Living, um alojamento local de apartamentos de medidas apalaçadas na Rua da Boavista, em Lisboa.
Estamos entre o Cais do Sodré e Santos, numa rua movimentada, onde não faltam novidades e coisas que fazer. Não estivesses nós na mesma rua que vai dar ao elevador da Bica, uma das mecas turísticas de Lisboa que está no roteiro de qualquer turista que se preze.
Voltamos à conversa com António: “O elevador da Bica chama-se assim porque tinha, ou tem, uma bica de água. E dizia-se que devia-se vir lavar a vista aquela água porque fazia bem. Por isso é que se chama Rua da Boavista”.
Depois desta breve lição de história da topografia de Lisboa, António explica-nos as motivações por detrás do nome Look Living. “Começámos a ver que nome podíamos dar, que fosse relacionado com a identidade do próprio espaço e da localização, que tivesse leitura internacional, mas que não fosse um daqueles nomes em que queremos parecer elitistas e que só falamos em inglês. Então chegou-se ao Look (de visão) e ao estilo de vida. Daí Look Living”, diz-nos o responsável que também detém o Dona Graça (nome típico, em português), um alojamento semelhante, mas, agora sim, na Rua da Bela Vista à Graça.
E que espaço é este? Continuamos com as lições de história, o que num edifício com mais de 300 anos, em estilo pombalino, não é difícil. Foi aqui que há praticamente 100 anos nasceu João Villaret, e que além de alojamento pretende ser um espaço de cultura e arte, resumindo assim os três conceitos associados ao espaço: Look Stay (o alojamento propriamente dito), Look Store (venda de obras de artistas portugueses) e Look Events. Este último ainda não está a acontecer, mas em breve os responsáveis pretendem organizar workshops, provas de vinhos, momentos musicais ou jantares com chefs.
Ao passarmos a grande arcada da entrada subimos à sobreloja, a receção, onde não falta uma cama. Nada tema, é apenas exposição, e não um espaço extra de descanso, que servirá de mostruário.
“Tentou-se preservar ao máximo o que existia. As portas são originais, a escadaria tem as rugas próprias da idade. E isso conseguiu-se manter, com custos acrescidos, porque às vezes é mais fácil deitar tudo fora e colocar novo”, acrescenta o nosso anfitrião. A iniciativa colheu frutos e a recuperação da responsabilidade do gabinete Florêncio Pedro Arquitectos foi agraciada com um Prémio Gulbenkian.
É também na receção que encontramos diversas obras de artistas como Beatriz Leão, Maria Isabel Nascimento Ferreira, Fulvio, Sebastião Lobo, Margarida Reduto, Manuel Mendonça e Alan Louis, com uma dupla função: por um lado servir de galeria de arte e por outro dar a oportunidade aos visitantes de comprar as obras. E também referências de vinho da Real Companhia Velha, cuja amostra de vinho do Porto encontramos nos quartos como oferta.
Apartamentos onde podemos viver
Deixamos para trás a receção e temos oportunidade de conhecer as tipologias de alojamento. São 16 apartamentos no total entre dois estúdios, dois lofts, cinco T1 e sete T2. Comprovamos que a remodelação respeitou a identidade dos espaços, onde se destacam o mosaico hidráulico, a pedra lioz ou o soalho de madeira. Os amenities são da Benamôr, uma marca lisboeta. Num dos apartamentos T2, que em tempos foi o escritório de um despachante, deixou-se a estrutura do guichet. Os apreciadores de decoração e de edifícios antigos, têm muito que explorar.
Não fosse o facto de nos irmos cruzando com os hóspedes, esqueceríamos que estamos num alojamento local, e quase temos pena de não se tratar da nossa casa. Apesar de serem os clientes estrangeiros os que mais reservam o espaço, também há clientes portugueses, sobretudo do Porto, que vêm passar o fim de semana. A melhor publicidade parece ser o passa palavra. Abertos desde novembro de 2022, em poucos meses conseguem ter uma taxa de ocupação elevada. Sem qualquer tipo de divulgação.
Um dos hóspedes passa na escada e afirma “I will return soon”. À partida, a satisfação foi garantida. “Eu acho que o que faz a diferença é a proximidade que se cria e a experiência que se propõe que as pessoas tenham. O próprio espaço respira isso. E queremos ter um serviço muito bom. Fui buscar pessoas aos hotéis de cinco estrelas para trabalhar aqui”, explica António Polena, que acrescenta que “é um serviço muito personalizado”, nomeando, por exemplo, o facto de já ter preparado o pequeno-almoço de um dos apartamentos cujos hóspedes estão de saída às 6h.
Pernoitamos num dos lofts, no último andar. Apesar de estarmos numa das ruas mais movimentadas da zona, com janelas viradas para a rua principal, o silêncio impera. António assegura-nos que uma das principais preocupações foi garantir um bom isolamento. Atestamos que a prova foi superada.
Para aqueles que escolherem uma estadia no Look Living, além da excelente localização, têm ainda outra experiência. O pequeno-almoço, composto por 14 elementos e deixado à porta num saco de juta, é da responsabilidade do Planto, o restaurante descontraído do chef Vítor Adão e um all day dining que funciona como apoio ao alojamento, numa das lojas do rés-do-chão do edifício.
As amplas janelas deixam o sol entrar nos diferentes espaços, incluindo os comuns. Uma casa com luz é uma casa com vida ou não estivéssemos num dos países que mais dias de sol tem por ano.
Ao sairmos, ecoo-a na nossa mente uma frase de António. “Pelo menos em casa dos meus pais era assim: quando recebiam uma visita, davam o melhor quarto da casa às pessoas. E qual era o melhor quarto? O deles. Eu fui habituado assim e é isto que nós queremos transmitir aos nossos hóspedes”. Da nossa parte, o objetivo foi cumprido.
O SAPO Lifestyle ficou no Look Living a convite do alojamento.
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