Alma. Âme. Arima. Anima. Tamashi. Como usar a mesma palavra em várias línguas? Criando um menu de cocktails onde a premissa é ter bebidas com nomes fáceis de pronunciar, pensados para qualquer pessoa, mas que são também uma homenagem ao nome do restaurante de comida de autor de Henrique Sá Pessoa.

Assim, em português, francês, basco, italiano e japonês se fazem os novos cocktails do restaurante duas estrelas Michelin, em pleno coração do Chiado. Em várias línguas, mas com ingredientes portugueses, incluindo as próprias bases. Da vodka de Baga ao gin do Alentejo, passando pelas incontornáveis ginja e amêndoa amarga, o segredo está nas mixologias da autoria de Fernão Gonçalves, conhecido pelo seu trabalho em locais como Rocco, Coyo Taco, Brilhante ou Sala de Corte, e nas palavras de Henrique Sá Pessoa, “dos melhores bartenders de Lisboa”.

A aposta pouco comum em restaurantes do gabarito Michelin é do diretor do restaurante, Duarte Coelho, que, não pondo de parte a carta de vinhos e o menu - houve em fevereiro a renovação do menu Costa a Costa -, quer dar sobretudo um pouco de luz a um parente pobre, digamos assim, mas que tem vindo a ganhar cada vez mais expressividade, não só nos hábitos de consumo, como também no tipo de oferta.

De Alma e cocktail. Assim se fazem as novidades no restaurante de assinatura de Henrique Sá Pessoa
Cocktail Arima créditos: Daniela Costa

“Apesar de o nosso conceito ser sem dúvida a comida e a carta de vinhos, nós queremos que, sempre que um cliente peça um cocktail, seja algo com qualidade e não serem só bebidas misturadas”, afirmou Duarte Coelho no evento de apresentação, que é ainda composta por três mocktails, bebidas sem álcool. Sielu (finlandês) com ananás, lima, ginger beer e hortelã, Linghun (mandarim), com lima, gasosa e hortelã e Soul (inglês), à base de flores, limão, pepino, clara de ovo e gasosa, encerram a nova carta de bar, pensada sobretudo para o momento pré-refeição.

“Nós temos um programa de vinhos ótimo, com uma grande equipa de enologia”, afiança Henrique Sá Pessoa, mas a sugestão de Duarte em “ter alternativas ao vinho”, foi bem acolhida.

“Eu acho que nos restaurantes, ingratamente, só se fala da cozinha e nunca se fala da sala. E nos últimos anos, a valorização da sala tem sido cada vez mais falada e os próprios chefs têm consciência que, sem uma grande equipa de sala, o restaurante não tem qualquer rumo”, afirmou, não poupando elogios ao diretor do Alma.

De Alma e cocktail. Assim se fazem as novidades no restaurante de assinatura de Henrique Sá Pessoa
Cocktail Alma créditos: Daniela Costa

Cocktails que começam em A e terminam quando quiser

Passada a explicação, passamos à experimentação. São três os cocktails que nos são apresentados. Começamos em basco, com o Arima, com vodka Egoísta e uma espuma de azeitona, o twist que nos põe a pensar duas vezes em como meter o copo à boca. É também a opção mais forte, ou seja, mais alcoólica. O senhor que se segue é o próprio Alma, onde a ginja Mariquinhas ganha destaque, num cocktail agradável de se beber. Terminamos com o Tamashi, em que japonês só o nome e a alusão às amendoeiras em flor daquele país, pois a amêndoa amarga não deixa dúvidas de que bebida mais nacional não há.

“Antes existiam os cocktails clássicos e havendo o histórico dos mais pedidos, fizemos aquilo que ia ao encontro do que os clientes mais pediam”, explicou Fernão Gonçalves sobre as suas propostas, onde se transformou, por exemplo, um clássico pisco sour em amarguinha sour.

Mas, questiona-se o leitor, o Alma vai passar a abrir apenas para bebidas? A resposta é não. Trata-se de mostrar que um restaurante com dupla estrela Michelin está a reinventar constantemente a sua oferta e, neste caso, mostrar também que o que é nacional é bom, para uma clientela que é sobretudo estrangeira.