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Cátia Goarmon, carinhosamente conhecida como Tia Cátia, estreou em fevereiro último uma nova temporada do seu programa de cozinha. Os Segredos da Tia Cátia, transmitido de segunda a sexta no canal televisivo 24Kitchen (15h00 e 21h00) conta com a presença regular de diferentes convidados. Numa temporada repleta de sabores portugueses e do mundo, já passaram figuras como a chef Justa Nobre e, mais recentemente a chef Michele Marques.
Natural de Petrópolis, Rio de Janeiro, Michele Marques vive em Portugal desde 2005. Estudou jornalismo, mas desistiu quando viu que não era o caminho que pretendia prosseguir vida fora.
Em 2010, numa viagem a Itália, começou a pensar sobre cozinha profissional. Fez um curso de cozinha italiana e quando regressou, matriculou-se na Escola de Hotelaria de Portalegre. Em 2013, realizou um sonho, abrir as portas do seu próprio restaurante, a Mercearia Gadanha, em Estremoz.
À conversa com o SAPO Lifestyle, a chef assume a sua paixão pela cozinha alentejana, não esconde o que mais aprecia num cliente e quais são as características que melhor a definem: “persistência e perseverança”.
Como foi participar nesta nova temporada d’Os Segredos da Tia Cátia sabendo que cozinhar a quatro mãos implica grande empatia?
Já conhecia a Tia Cátia, que é uma pessoa extremamente afável e simpática. Houve sempre muita empatia e boa disposição. O dia de gravações foi muito bem passado, tanto com a Cátia, como com o resto da equipa.
Se tiver de resumir a cozinha que prepara numa frase, como a apresenta?
Uma cozinha de conforto, que abraça e aconchega quem nos visita na Mercearia Gadanha em Estremoz.
Habituamo-nos a enaltecer os sucessos, esquecendo que com os insucessos também crescemos. Qual foi o insucesso na sua vida profissional que mais a fez crescer como cozinheira?
Considero-me uma pessoa sortuda, tenho trabalhado, e muito, para esta sorte continuar ao meu lado. Tive experiências profissionais com as quais não me identifiquei e por isso mudei de profissão, mas acho que todas as experiências são válidas. Nunca deixei de me empenhar em nenhum dos sítios por onde passei.
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Imagine que alguém que não conhece de todo a cozinha portuguesa se sentava à sua mesa. Que prato lhe prepararia que fizesse a síntese do nosso país?
Se o comensal fosse brasileiro, serviria bacalhau. É o melhor cartão de visita na representação da gastronomia portuguesa, na sua riqueza e diversidade de ingredientes de norte a sul do país.
Na mesma linha, que ingredientes fazem a síntese da sua cozinha?
Procuro valorizar o que há em abundância na minha região, dando ênfase ao porco e ao borrego alentejano.
Quais foram as palavras mais elogiosas que recebeu sobre a sua cozinha?
Recebo clientes que dizem que estão há dias a viajar pelo país e que referem que foi a melhor experiência gastronómica que tiveram. Também tenho clientes que me dizem que será difícil não voltar ao nosso restaurante. Para mim, o melhor elogio é quando de facto voltam.
Em sentido contrário, quais as palavras que mais a magoaram?
Normalmente o que mais magoa é a falta de respeito com os colegas de sala, ou mesmo com o incumprimento das reservas, não falo só da falta, mas atrasos e diálogos que se tornam num monólogo de desabafo de uma frustração que nada tem a ver connosco. Isso sim magoa, as pessoas acham que por estarmos atrás de um balcão temos de ouvir tudo.
O que falta dizer sobre a cozinha portuguesa que não foi dito até agora?
Oh, quem sou eu para dizer algo do género? Acho que estamos a fazer um trabalho de maior união e consistência, com um único objetivo, levar a imagem da gastronomia portuguesa mais além. O caminho ainda é longo, mas os primeiros passos estão sendo dados.
Uma chef para vingar nas cozinhas portuguesa precisa de se tornar uma estrela e contar com exposição mediática?
Julgo que a exposição ajuda, mas nem todo o cozinheiro foi feito para ser uma estrela. Mas penso que hoje em dia a realidade é diferente daquela de há dez anos, quando abri o restaurante. Agora, com as redes sociais, chegamos a muitos lados, mesmo sem essa dimensão mediática que refere. Portanto, tem um pouco a ver com a disposição para alimentar estas redes, participar em encontros e congressos gastronómicos, festivais de street food, entre outras iniciativas.
Se tivesse a possibilidade de escolher uma pessoa famosa para lhe preparar uma refeição, qual seria e porquê?
Seria o Alex Atala [chef brasileiro, à frente do restaurante D.O.M.], porque a conversa seria um grande aprendizado e com certeza a comida seria boa!
Qual a sua principal característica?
Persistência e perseverança
O que mais aprecia num cliente?
Educação e cordialidade
Que pessoa ou pessoas foram determinantes para si na sua profissão? Alguém teve influência na forma como trabalha hoje em dia?
Com certeza meus pais, meus professores e formadores tanto do Brasil, como de Portugal e sem dúvida o meu mentor de estágio.
Há alguma região do país em termos de gastronomia que prefira? Porquê?
Cada região tem suas riquezas, mas identifico-me melhor com a do meu Alentejo, seja o Alentejo interior, seja o litoral. Talvez pela ligação com a terra que escolhi para viver há mais de 17 anos.
Há segredos na cozinha que não se partilham? Ou não há nada a esconder?
Penso que devemos ensinar e passar todos os nossos conhecimentos, profissionalmente liberta-me para ter vida própria e não perder a consistência nas refeições que servimos no restaurante. Já a nível pessoal, dá-me um enorme prazer poder ensinar o pouco que sei.
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