Inserido na 48ª Edição do PT Fashion – The Sofa Edition, o Take 1 mostrou as tendências de 9 designers portugueses para o próximo outono/inverno 21, divididos em três dias: 18, 19 e 20 de março.

18 de março - quinta-feira

Maria Carlos Baptista, da plataforma Bloom, foi a primeira designer a abrir as portas desta edição inteiramente online, com a coleção “Espaço Negativo”. Esta teve como base o espaço imaterial da memória e a fragmentação física do mesmo. Uma realidade intransmissível, fria pelo distanciamento e acolhedora pelo retorno de vivências passadas, que permitiu uma absoluta liberdade de expressão e interpretação.

Seguiu-se Estelita Mendonça que para a próxima estação de outono/inverno trabalhou a imagem da marca aliando-a à utópica liberdade em forma de Rave dos anos 1990. A ideia foi retratar a tenda de campismo como proteção têxtil, redoma ou habitat portátil que faz todo o sentido neste momento de isolamento social. A ideia de “camping”, “isolamento” e “habitat portátil” é assim explorada pela justaposição dos planos de dança com planos da tenda iluminada e isolada onde aconteceria esta rave para um.

A primeira noite deste Take 1 chegou ao fim com a ilustre Katty Xiomara, que nos presenteou com “Aurora”. Esta coleção sugere um renascer, depois do agora nasce a aurora e um novo dia recomeça. Tudo germina na espiritualidade, na ironia, no desespero e na esperança.

19 de março - sexta-feira

“E Faz-se Luz”, a coleção de Inês Torcato, abriu o segundo dia e assumiu a forma de uma manifestação artística por todos aqueles que estão à frente e atrás das câmaras, das cortinas, dos palcos, das telas e dos museus. Nesta estação, e sempre, defende-se a Cultura, dá-se um rosto às adversidades e luta-se pelos direitos, Acredita-se que a moda, como Cultura, é para todos, todos os géneros, todos os corpos, todos os tons de pele, todos.

Seguiu-se Maria Gambina com “Fagan”, uma coleção inspirada na convulsão social e económica vivida em Inglaterra a partir do fim da década de 1970. As silhuetas volumosas e ritmadas são harmonizadas com detalhes deslocados, com picos metálicos e layers plissados. Neste contraste projeta-se a frustração perante a injustiça e a desilusão sistemática. As riscas construidas por união de coloretes e camadas de flores cortadas a laser manifestam uma luta interior constante mas serena. Duplo gabardine desenhado e duplo feltrado protegem cetim em riscas gráficas e voile plissado, confortados por malhas orgânicas e recicladas. As cores são o preto, com apontamentos gráficos em vermelho e branco e camuflados por verde azeitona.

Miguel Vieira fechou a noite com a coleção DNA, que representa pessoas que tem confiança na sua aparência e veem a sua roupa como uma extensão de si próprias, como algo que faz parte do seu ADN. Estas têm o poder de serem elas próprias, de escaparem aos estereótipos e de usarem o que quiserem, quando quiserem. Para elas, o clássico pode ser moderno porque a sua atitude os torna irreverentes e únicos. Na coleção destacam-se os tons azul medieval, o verde inverno, o castanho licor de café, o cinzento nuvem, o preto caviar e o branco trufa. Já as silhuetas destacam-se pela guia, geométrica e clássica, com linhas puras e estilizadas e alfaiataria estruturada. Destacam-se ainda a lã, a caxemira, a alpaca, o pelo de ovelha falso, o lurex e tecidos para camisas, estampagens desenvolvidas em atelier e forro personalizado.

20 de março - sábado

O último dia iniciou-se com Ernest W. Baker, onde o sonho é o caminho para o inconsciente. Para dar vida à estação, recorrem ao cinematográfico, não pelo seu poder de contar histórias, mas pela sensação estética que os sonhos semi-lembrados, e o ano passado, nos deixaram. Nas peças é possível ver t-shirts estampadas, calças tartan, roupões exuberantes e ainda camadas que criam silhuetas uniformes como o dia a dia.

David Catalán apresentou “Reworks”, uma coleção que revisita a essência da marca. Esta é desenvolvida em função das necessidades do workwear misturadas com o guarda-roupa clássico. Os icónicos fatos monocromáticos são um elemento central na escolha das peças-chave para esta coleção. A paleta de cores ilustra e enfatiza uma estética neutra, desde as cores densas a leves tie-dyes. A silhueta relaxada é considerada adequada para o homem moderno com um toque contemporâneo, segundo aos tempos atuais. A coleção é desenhada com materiais inovadores caracterizados por uma textura em veludo, destinada a ser jovem, irreverente e adaptável à nova forma de consumir.

O Take 1 chegou ao fim com o desfile online de Alexandra Moura, que nos presenteou com “Subversion”. A coleção convive com referências de meados dos anos 1990, altura em que a designer iniciou o seu curso de Design de Moda, moldando o seu sentido estético e a forma de ver a moda e por consequência, a peça de roupa. Um mix de estilos e géneros, onde a influência da música e da estética underground ganharam força. “Subversion” vive de exercícios de construção/desconstrução, de constaste de cores pálidas com fortes e ácidas, mas também da subtileza do comportamento dos materiais, dos acabamentos e dos detalhes.