Um relatório da McKinsey não deixa dúvidas: os primeiros anos do século XXI foram muito bons para a indústria de moda “fast fashion” graças à redução de custos e ao aumento do consumo. Mas se não mudarmos alguma coisa, quem mais sofre é o ambiente e consequentemente a sociedade.

De acordo com o documento “Style that’s sustainable: A new fast fashion formula”, a produção de roupa entre os anos 2000 e 2014 duplicou e a procura de novas peças aumentou, em média 60%, por cada ano.

E esta é a parte menos bonita da indústria. Os consumidores são atraídos porque há cada vez mais oferta. Esqueça aquela máxima de que só há duas coleções por ano – de primavera/verão e de outono/inverno – até porque atualmente as principais lojas de roupa “fast fashion” têm várias coleções por ano. A conclusão é que de 2000, em que havia apenas duas coleções, para 2011, as lojas ofereciam em média cinco coleções. O relatório dá o exemplo da Zara que chega a ter 24 coleções e da H&M que fornece entre 12 a 16 coleções e que todas as semanas tem novos produtos a serem colocados em loja.

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Se por um lado os consumidores estão a ganhar um novo guarda-roupa, por outro é o ambiente que está a perder, e não só. Aqueles que trabalham como mão de obra barata,ajudam a manter este ciclo e sofrem as consequências no seu dia a dia.

A McKinsey alerta que nunca se produziram tantas peças de roupa como agora ao se atingir, em 2014, uma produção de mais de 100 mil milhões de produtos, o que dá uma média de 14 novos elementos por pessoa. Mas o ciclo de vida de uma peça de roupa reduziu significativamente, sendo agora usada durante menos tempo e rapidamente posta de parte.

Juntando a esse fator o aumento do poder de compra da classe média de países populosos como o Brasil, a China, a Índia, o México ou a Rússia, podemos imaginar um cenário futuro com consequências desastrosas. Porque para produzir roupa é necessário gastar-se grandes quantidades de água, recorrer ao uso de produtos químicos que invariavelmente vão acabar na atmosfera sem contar com todo o processo de desenvolvimento de matéria-prima.

“Estimamos que, se 80% da população destas economias emergentes tiveram o mesmo comportamento de consumo de roupa que outras economias mais desenvolvidas em 2025, e se a indústria não se tornar ecologicamente mais eficiente, a pegada ecológica vai tornar-se ainda maior”, avisa o relatório.

Uma cadeia de valor mais sustentável

Apesar de todo o cenário descrito, o relatório não deixa de apontar o trabalho que tem sido desenvolvido por algumas empresas. É o exemplo da H&M e da Levi’s que se associaram a uma organização que faz a recolha de roupa e calçado usado tendo como destino a reciclagem. Ou a C&A que até 2020 se comprometeu para que o algodão usado nas suas coleções seja completamente orgânico.

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O relatório deixa ainda algumas sugestões para as marcas de “fast fashion” como desenvolver padrões de conceção de produtos que facilitem a sua reciclagem ou reutilização, investir no desenvolvimento de novos tipos de fibra, que não tenham tanto impacto ambiental na produção de vestuário, encorajar os consumidores a fazerem um uso mais responsável no tratamento das suas roupas de forma a baixar o consumo de energia através da orientação das próprias marcas ou apostar na inovação para permitir que o processo de produção seja mais eficaz.

“Com o aumento do poder de compra da chamada geração “millennial” vai haver grandes expectativas para que o negócio opere de uma forma sustentável o que tem grande impacto na tendência de compra. A produção pode ter um custo mais elevado mas pode contribuir para a inovação estando o negócio menos exposto a riscos externos e como resultado ser mais sustentável e lucrativo”, são as conclusões do documento.