Valentim Quaresma

Um resumo da coleção. “Esta é uma coleção emotiva para mim e um retrocesso às minhas origens criativas.”

Os maiores desafios. “A produção desta coleção foi muito mais intrínseca e mais incisiva, que foi a recuperação têxtil. Oitenta por cento da coleção foi feita através da manipulação têxtil e de recuperação de antigos tecidos, aquelas coisas que vimos todas esfarrapadas. É uma coisa com a qual trabalho há muito tempo como joalheiro e foi passar a minha metodologia para o têxtil e olhar para os tecidos também com valor. Na joalharia não se perde nada, o metal é todo reciclado. E a verdade é que comecei a olhar para os tecidos com esse valor e tentar reaproveitá-los sempre com técnicas que, para mim, são interessantes e se isso casa com o conceito e a imagem que eu quero transmitir.”

Um balanço da 60ª edição. “O tema desta edição é muito interessante porque é o núcleo. Acho que todos nós estamos a olhar para o nosso núcleo. Eu e os meus colegas estamos a pensar o que é que vamos fazer, a olhar para nós para projetar o futuro e isso é o mais importante.”

Constança Entrudo

Um resumo da coleção. “No fundo é um conto, é um intermédio entre a realidade e sonho. [A Merin] É uma figura mitológica que passou por aqui - nós não a vimos na verdade, mas ela esteve presente – e criou desordem, desconstruiu preconceitos, deixou linhas, deixou rasto e representa a minha marca. Esta criatura representa a libertação do tear, que é o princípio de tudo pois a marca começou com uma técnica que é feita fora do tear. É uma colaboração com a artista Ema Gaspar, em que desenvolvemos a história deste monstro que consegue escapar do tear e vai crescendo de estação para estação, de noite para o dia, e que representa a transformação que todos temos e a metamorfose.”

Os maiores desafios. “Esta coleção surge numa fase em que, nos últimos meses, se falou muito da recessão, as lojas ficaram com medo de comprar e houve uma preocupação geral das pessoas. E acho que é óbvio nesta semana da moda. Nós apresentamos em Paris e eu senti que o facto de ter uma coleção tão colorida e tão alternativa acabou por ser das mais arriscadas porque as pessoas tentaram jogar pelo seguro. É interessante ver a reação que isso tem em mim inconscientemente com tudo isso que estava a acontecer. Acho que o maior desafio foi mesmo esse, foi eu ter sentido que o mundo estava apreensivo, as pessoas não sabem como é o futuro e perante todo este cenário dramático senti que o que eu podia trazer como designer de moda era um pouco de esperança.”

Um balanço da 60ª edição. “O balanço parece-me positivo. Parece-me que está a correr tudo bem.”

Luís Buchinho

Um resumo da coleção. “Tem uma energia muito pura, muito dada pelo corte mais minimalista que vai beber muito dos anos 1990, com a influência de peças extremamente depuradas, e com o uso de uma paleta de cores muito agressiva com as cores primárias a falar muito alto ao pé do preto, branco e cinzento. Isso criou uma silhueta com um equilíbrio muito perfeito para um vestuário extremamente prático e extremamente cosmopolita, mas que depois pode ser acessorizado e ganhar uma vertente mais sofisticada dependendo da forma como a própria consumidora o consome. A coleção também faz um pouco um contraponto com aquilo que se está a passar agora em termos da Inteligência Artificial na questão da criação dos estampados. Eu quis que os estampados fizessem uma alusão notoriamente digital, que fossem coisas feitas em computador e que não tivessem nada de mão humana. Quis criar esse contraponto, mas com uma silhueta dinâmica, extremamente feminina e humanizada.”

Os maiores desafios. "Eu senti desafios nos últimos 30 anos. [risos] Acho que nós temos uma tarefa muito difícil e um país onde deveríamos começar a ter empresas de grande porte e capital financeiro a investir nas marcas e a torná-las em algo mais sério e mais empresarial. Já demos os trunfos todos nas apresentações, desfiles, editoriais e agora devíamos passar para um plano puramente económico-empresarial que fizesse com que estas marcas dessem receita."

Um balanço da 60ª edição. "Apresentar uma coleção é sempre um momento em que há uma consolidação de um trabalho que é muito exigente ao longo destes meses todos e obviamente que estou muito contente."

Luís Carvalho

Um resumo da coleção. "O tema é Touch, mas acho que podia ser união porque aqui tento unir os vários tons de pele num só e trabalhar as formas da superfície da pele em termos de construção de peças de formas muito orgânicas, muito patchwork e os tons nude e terra ali misturados."

Os maiores desafios. "O maior desafio foi começar e criar o conceito, mas assim que percebi o que queria fazer a coisa fluiu e não senti nenhuma dificuldade. A partir do momento em que defini o tema sabia exatamente o que é que queria fazer, o tipo de peças e o tipo de coleção que queria, algo muito no gender. Todas as peças são unissexo, tirando os vestidos, que é um caminho que estou a construir na marca porque cada vez tenho mais procura. Decidi fazer uma coleção que dá para todos e é muito mais simples e tem a ver com a essência da marca."

Um balanço da 60ª edição. "É superpositivo. No geral, o feedback é sempre positivo. Da minha parte, e daquilo que queria fazer, também estou satisfeito com o resultado final e não poderia estar mais contente."

Gonçalo Peixoto

Um resumo da coleção. "Com o mote ‘Sometimes I just wanna kiss girls’ esta é a principal inspiração da coleção e o que decidi na season anterior é que a partir de hoje todas as minhas coleções teriam este mote e seria uma exploração contínua. Esta foi, de todas, aquela que seria mais o meu espelho enquanto pessoa, enquanto criador."

Os maiores desafios. "Senti que a pandemia foi, na verdade, a melhor coisa que aconteceu porque fiquei contra a espada e a parede e tive de perceber o que é que ia fazer com a minha vida e com a marca a partir daqui. Foi quando decidi assumidamente criar esta linha mais acessível que tenho no seu website e a partir daí as coisas começaram a correr muito bem. Agora o meu desafio é aguentarmo-nos enquanto estrutura. A produção em Portugal ainda é muito difícil e por isso neste momento as minhas maiores dificuldades enquanto criador são a estrutura, encontrar uma boa equipa e mantê-la, um bom consumer care, ou seja, toda essa parte que vem com o online, que é neste momento a fonte de rendimento da marca. Todas essas adversidades são o mais importante e onde quero melhorar."

Um balanço da 60ª edição. "Eu acho que correu bem. Quando estou a criar uma coleção faço o contar de uma história. É quase como ires ao teatro e ouvires os atores. Aqui não os ouves, mas a sequência, as cores, a luz é o contar dessa história. Ela foi contada como eu queria que fosse, nem com nenhum personagem a menos e nem com nenhum personagem a mais. Por isso o rescaldo está a ser incrível e acho que efetivamente a equipa fez um bom trabalho."

João Magalhães

Um resumo da coleção. “A apresentação teve duas partes. A primeira foi a passagem de um filme, que fiz com a Leonor Bettencourt, para lançar o meu site e que começa com uma brincadeira: estamos em casa aborrecidos, vamos a uma plataforma de online shopping e damos por nós irritados com uma coisa que há cinco minutos nem queriamos e agora ou está esgotada, ou muito cara ou não há o nosso tamanho. Há uma sensação de angústia e acho que muita gente passa por isso. Quis pegar nisso e fazer uma brincadeira e levar isso ao extremo. O filme passa de um momento mais pessoal para um momento mesmo de violência física à volta de uma roupa que uma das personagens conseguiu comprar. Depois fiz uma coleção cápsula, mas com um conceito que fosse bastante forte e visível e a brincar com os códigos que eu desenvolvo: sentido de humor e alguma troça e crítica social. Por isso é que as t-shirts têm várias piadas “Shitty clothes for shitty people” ou “Big pants for your money”. Continuei a energia do filme e peguei na personagem que para mim representa o início da era consumo, a dona de casa dos anos 1950 com o cabelo armado e materialista, e decidi brincar com essa figura hiperfeminina.”

Os maiores desafios. “Em termos de execução tive muito pouco tempo e pensei como é que poderia fazer uma coisa pequena, densa, em que se percebesse bem a mensagem e que tivesse algum impacto. Estive muito tranquilo durante este processo porque todas estas peças – se tirarmos a fantasia das joias, das máscaras e do cabelo – são bastante vestíveis e com uma construção bastante sólida.”

Um balanço da 60ª edição. “Foi positivo. Colaboro com pessoas há alguns anos e só foi possível chegar até aqui porque essas pessoas serem tão excelentes. E, por já nos conhecermos tão bem, muitas vezes já nem é preciso falar. É possível fazer as coisas num curto espaço de tempo quando a equipa já está muito bem consolidada, já sabemos o que é possível e no que é que somos bons. Para a próxima edição, que já estou a preparar, quero que seja o meu regresso a um desfile à séria com mais de 30 coordenados pois queria fazer uma coisa mesmo grande. Aí vai ser preciso mais tempo e também quero redefinir estruturas de trabalho e fazer colaborações diferentes.”

Carlos Gil

Um resumo da coleção. "É uma reflexão dos meus 25 anos de carreira, onde me dediquei e mergulhei nos momentos profundamente transformadores por que esta marca passou. Esta coleção é isso mesmo, é a Alma, o reflexo desse tempo, a evolução, mas, essencialmente, o resultado da consciência de uma identidade cada vez mais marcante."

Os maiores desafios. "Esta foi uma coleção especial, exatamente por assinalar os meus 25 anos de carreira. Queria manter o ADN da marca, com uma imagem forte e positiva e, claro, para a mulher Carlos Gil que é elegante e determinada. E acho que consegui. Procurei unir diversas emoções que traduzem este percurso, no padrão exclusivo. É a junção das flores que mais gosto, que fui recebendo ao longo deste tempo numa mistura de cores ajustadas às tendências em versão com fundo branco ou preto."

Um balanço da 60ª edição. "Foi uma edição muito positiva onde consegui, finalmente, estar um bocadinho mais junto dos meus e de quem me apoia - porque normalmente é sempre tudo muito corrido e acabo por não conseguir ter tempo. Acredito que seja um momento de viragem e que principalmente me dê forma para continuar, pelo menos, por mais 25 anos."

Nuno Gama

Um resumo da coleção. "Começa numa paixão por Almada Negreiros e os painéis da gare marítima de Alcântara, na Nau Catrineta. É uma coisa que me leva back to my memory de infância, as cantilenas, as coisas de família, os abraços, as primeiras memórias, e depois um rewind de 30 anos: quem é que eu sou, o que é que eu quero, o que é que faz sentido, para onde é que quero ir, o que é que os clientes procuram, o tipo de cores, tipo de vestuário, como é que posso marcar a minha diferença e posso continuar a ser aquilo que sempre fui. É uma história minha em compartilha com os meus clientes."

Os maiores desafios. "O maior desafio de todos é que nós temos uma parte de estampados com andorinhas e uma série de coisas que não foram mostradas porque infelizmente a transportadora ficou de entregar e não entregou. Andam perdidas e foi um bocadinho filme de terror. Foi quase roubarem a alma da coleção de alguma forma. Mas paciência pensei ‘Roubaram esta alma e vamos encontrar outra.’ Paramos todos, olhamos para tudo e fizemos de outra maneira. Foi isso: reconstruir. E eu acho que a vida é isso mesmo."

Um balanço da 60ª edição. "Há uma coisa muito difícil de explicar a quem está de fora: a ressaca que temos disto tudo. Nós trabalhamos, trabalhamos, trabalhamos e depois de repente hoje o desfile começou. E eu disse ‘Esta é a nossa música’, o Hugo virou-se para mim e disse ‘Sim, já está a começar o nosso desfile.’ Eu disse, ‘Mas eu nem estou ali, nem nada’. Fui completamente atropelado.  Não tens tempo. É uma coisa de muita solidão porque se estás aqui e estás a 100% não podes ir jantar com a família enquanto as outras pessoas são livres de fazerem o que querem e lhes apetece. Não tenho feedback [da coleção], mas da minha parte dei o meu melhor e espero que as pessoas tenham sentido isso de alguma forma."

Nuno Baltazar

Um resumo da coleção. “Descrevo esta coleção com um nome: Transverse, onde a ideia de dois universos aparentemente paralelos – o universo religioso, da procissão e da fé e o universo queer, preformativo, livre – podem dialogar. O meu objetivo foi criar uma linha transversal que se traduz, trabalhando elementos destes dois universos, vestindo a roupa do avesso, mostrando o interior, que é tantas vezes mais divertido e aquilo que nós guardamos para nós - como as medalhinhas que normalmente as senhoras põem junto aos soutiens - mas os forros [das peças] são leopardo por isso há esse lado que nós somos muito mais do que aquela primeira camada que por vezes aparentamos, principalmente num momento de fé e de performance. E depois esse diálogo da imagem das Santas de Roca, a maquilhagem com as lágrimas falsas e sofredora, mas numa proposta leve, queer, divertida, livre, e esta avó que abraça o seu neto na sua diversidade com muito amor. Acho que esta coleção para mim era um abraço.”

Os maiores desafios. “Trabalhar com uma paleta de cores tão reduzida, porque habitualmente trabalho com muita cor e mais contraste, e o trabalhar outros corpos, porque é diferente e sinto que preciso de aprender mais para fazer melhor. A coleção parte de uma inspiração no ‘O Lobo e o Cão’, um filme da Cláudia Varejão (2022), que aborda estas temáticas numa comunidade queer em São Miguel e na forma como se relacionam com a religiosidade. No fundo foi essa dificuldade: como é que crio uma narrativa que, efetivamente, cruze este universo, mas sem desvirtuar o meu trabalho. Percebi que tinha de trabalhar na minha coleção abrindo-a a outros corpos performativos e tornando-a mais aberta.”

Um balanço da 60ª edição. “Consigo fazê-lo em dois pontos muito curtos: a reação do Mikael, este meu convidado [que encerrou a apresentação], no final do desfile, a forma como me abraçou e agradeceu o espaço que eu abri para que ele e toda a sua comunidade se sentissem representadas aqui. Só isso é um balanço incrível. Depois por ter uma amiga que veio com a filha que não percebeu bem o desfile consegui abrir espaço para que se iniciasse um diálogo. Acho que só isso faz com que o balanço, ainda que não o tenha conseguido fazer pelas razões óbvias e pela falta de distanciamento, tem de ser muito bom. Se for só isso já valeu a pena.”

Dino Alves

Um resumo da coleção. “Fala da vontade e da necessidade que as pessoas têm em mudar a sua aparência. Eu faço um paralelismo curioso entre o século XIX porque na verdade, para mim, já havia essa espécie de lógica da cirurgia plástica, mas sem a parte da ciência. As pessoas punham enchimentos nas saias e punham anquinhas para ficarem com umas formas voluptuosas. Portanto brinquei um bocadinho com isso assumindo esses detalhes que, no último desfile já tinha apontado em algumas saias, e agora trouxe isso para o lado de fora da roupa. Eu fiz essas coisas em seda e assumidamente como um detalhe das peças. A mensagem é que as pessoas podem mudar a sua aparência à vontade. Se sempre resulta isso é discutível. Muitas vezes não ficam realmente melhores, mas isso é outro assunto. Portanto cada um é livre de fazer o que quer com o corpo. Mudem a sua aparência só não mudem a sua essência. Porque alguma coisa tem de ser verdadeira."

Os maiores desafios. "O desafio é quando se faz alguma coisa que é realmente nova e que nunca se testou. Aquelas ancas que viram nas saias, eu nunca tinha feito, nem nunca vi desta forma. Já vi por dentro, escondido, mas assumir aquilo que fique com ar consistente e de objeto é difícil. Temos que testar várias vezes, puxar pelo raciocínio porque não há uma técnica ou molde. Esse foi o grande desafio. Ultimamente tenho usado mais tule, um tecido muito sensível e que se rasga com muita facilidade, e mesmo no desfile é muito difícil. O desafio maior é a parte mental, ou seja, o que é que eu quero dizer. Não consigo fazer nada se não tiver nada para dizer e acho que nem valha a pena. No geral vejo muita gente a fazer coisas que não passa história nenhuma. Eu não me contento apenas com o design das peças. Não faço moda só pelo design. Saias mais curtas, com mais roda com menos roda, com biscos sem bicos toda a gente consegue. Contar uma história através disso é que não é para todos. O desafio inicial é esse e depois como é que pego na parte mental e passo para a parte visual, como vou materializar isto, e depois a parte técnica."

Um balanço da 60ª edição. “No meu caso consigo sempre perceber a energia assim que entra o primeiro look e depois a ovação final é o que nós recebemos no imediato, é uma espécie de cachet e nesse aspeto acho que correu muito bem. Também é fundamental apresentar sempre coisas novas, mas sinto que desde os últimos 10 desfiles, há um ADN completamente definido e que qualquer pessoa identifica como marca Dino Alves. Há alguns itens que aparecem sempre, mas de outras maneiras."

Luís Borges

Um resumo da coleção. "Big bang, explosão de cor, diversidade, atitude. E, acima de tudo, trazer para a passerelle pessoas reais."

Os maiores desafios. "Quando temos um desfile de roupa são as roupas que, à partida, vão brilhar. Nos acessórios é mais difícil. Em termos de campo de visão estamos ao longe e para se ver o acessório tem que ser alguma coisa grande, e depois conseguir fazer um styling que bata com o acessório e que fique uma coisa cool e que o desfile fique ‘wow’ não é assim tao fácil."

Um balanço da 60ª edição. "Eu dou os parabéns à equipa da ModaLisboa porque fazer uma Lisbon Fashion Week não é fácil, os apoios não são muitos. Agora como estou do lado de designer e diretor criativo percebo aquilo que eles passam. Quando vinha assistir e pensava, ‘Mas porque é que esta pessoa deixou de fazer desfiles’ hoje em dia percebo porque é muito difícil. É um investimento enorme, nós não temos grandes apoios e tenho pena que existam pessoas que venham à ModaLisboa para serem vistas, para tirarem fotos e depois não consomem o que é português."