João Wengorovius Meneses, BCSD Portugal

"De que forma é que a inovação pode funcionar como motor de criação de produtos mais sustentáveis?" Esta foi a pergunta lançada por Joana Barrios, moderadora das Fast Talks, a João Wengorovius Meneses.

“Ao longo dos últimos séculos achámos que o progresso era irmo-nos distanciando da natureza com alguma altivez e até alguma arrogância quando se calhar, na realidade, o progresso é imitarmos a natureza, sermos biométricos e aproximarmo-nos mais dela e da sua sabedoria, que é uma evolução de 500 milhões de anos de vida na terra. Uma tecnologia que se sofisticou e se tornou inteligente”, começou por explicar o orador, que utilizou as aranhas e a robustez das suas teias para ilustrar os benefícios que existem quando, neste caso em específico, a moda imita a natureza.

Mas será que, na prática, isto é possível de concretizar? A resposta é afirmativa e dá o exemplo da Spinnova, uma deep tech finlandesa que se inspirou nas teias de aranha para criar uma bio fibra não artificial, altamente resistente e robusta. “Percebeu-se que através dos eucaliptos e das árvores em geral se consegue [fazer isso] a partir de tecnologia de ponta e que essa fibra era tão ou mais resistente do que qualquer fibra artificial e, ainda por cima, com a vantagem de se poder usar vezes sem conta,” elucida.

Para o Secretário-Geral do BCSD Portugal, um dos desafios atuais da Humanidade é a capacidade de “transformação para a sustentabilidade que, como qualquer transformação, implica inovação” e que pode ser feita a curto, médio e longo prazo. No mundo da moda isto pode aplicar-se de inúmeras formas: consumir menos e melhor, inovar nos materiais utilizados no fabrico têxtil ou, até mesmo, mudar o modelo de negócio das empresas.

Ricardo Costa, NGC - KOD Bio

A KOB Bio destaca-se por ser uma empresa pioneira em Portugal no campo da Biologia Sintética. Mas o que é a biologia sintética? “Biologia sintética é ler a mãe natureza”, diz Ricardo Costa sobre o seu projeto fundado em 2o23 e que pretende colocar a ciência e a inovação ao serviço do mundo da moda.

Partindo da ideia de que todo o nosso vestuário vem da natureza, aquilo que a KOD Bio pretende fazer é abandonar o modelo de extração, “que usa e abusa das matérias-primas”, e adotar o modelo da criação, que se destaca por ser mais sustentável e conseguir promover um maior equilíbrio.

“A tecnologia e a ciência evoluíram de uma forma tão avançada nestes últimos cinco/dez anos que nós conseguimos replicar, através de informação genética, os materiais que estamos a utilizar hoje”, começa por explicar sobre esta transição da indústria petroquímica para a bioquímica e que lhe permite criar produtos de origem biológica, como detergentes ou pigmentos para tingir, para processar o têxtil.

“Então de onde é que vêm os nossos produtos? Nós lemos a mãe natureza, pegamos nessa informação genética, introduzimos no microrganismo e por uma tecnologia que existe há mais de dois mil anos - que é a tecnologia da fermentação utilizada na cerveja e nos iogurtes e através de um princípio ativo do microrganismo - e dando-lhe a energia suficiente ele consegue criar esse produto.”

Ana Tavares, RDD Textiles

Todos aqueles que quiserem explorar e implementar novas tecnologias dentro do sector têxtil vão encontrar na empresa liderada por Ana Tavares o seu braço direito. Para além de utilizar algumas das alternativas de origem biológica criadas pela KOD Bio, a RDD Textiles propõe-se ainda a apresentar essas alternativas ao mercado e à sua implementação comercial.

“A primeira vez que [a tecnologia de tingimento através de bactérias] ficou comercialmente disponível no mercado com uma marca foi há pouquíssimo tempo”, refere a CEO sobre uma parceria para uma marca inglesa de mass market que a enche de orgulho. Mas desenvolver e trabalhar com inovação nem sempre é fácil, explicando que o principal desafio tecnológico dos materiais alternativos com que trabalha é a sua performance, resistência e durabilidade face às opções convencionais a que o consumidor já está habituado.

“Nestas tecnologias, e todas as outras que sejam mais bio e que não sejam tão derivadas do petróleo, vamos ter sempre a mesma questão: não temos os mesmos parâmetros de solidez à luz, à lavagem, à saliva que teríamos com os produtos químicos que podemos usar derivados do petróleo. No entanto, são parâmetros bastante aceitáveis se considerarmos aquilo que é o tempo de utilização de uma peça", remata.

Manuel Lopes Teixeira, CENIT ModaPortugal

Manuel Lopes Teixeira começou a sua intervenção ao recuar 13 anos no tempo e recordar o primeiro projeto sobre sustentabilidade que desenvolveu para uma das maiores empresas de fast fashion do mundo: o grupo Inditex. O objetivo era poder promover “uma maior transparência sobre o produto” e implementar um sistema que permitisse “transmitir isso de forma transparente para o consumidor”.

“Entretanto isto passou de um sonho e passou a ser uma obrigação de mercado”, afirmou o CEO da “Estratégia ModaPortugal”, aludindo aos novos objetivos definidos pela União Europeia no ano passado ao nível indústria do têxtil de vestuário e que, na sua opinião, vão levar a uma transformação radical da indústria da moda europeia. O resultado? O fim do chamado fast fashion em prol de um modelo de moda mais sustentável e mais circular.

“Dentro de pouco tempo vai ser obrigatório na Europa termos um passaporte digital da roupa, um QR code onde imediatamente fazemos uma análise do código e sabemos onde é que o produto foi fabricado, que produtos químicos tem ou não tem, quais as matérias-primas, que processos de certificação passou”, salienta.

Mas, na sua opinião, as transformações não se ficam apenas por aqui e vão ter impacto direto na carteira dos consumidores. “Estamos a entrar para uma indústria que, sendo diferente, a moda terá de ser mais cara. Não é possível continuar a vender moda ao preço da chuva", alerta.