Demorei vários meses até me decidir a adotar o Snapchat. No fundo, precisei de entender qual poderia ser o seu interesse para mim — que não sou propriamente um entusiasta de tudo partilhar, sobretudo conteúdos não editados —, primeiro, e a lógica por trás do seu funcionamento, depois. A entrada da Burberry nesta app, como um delicioso teaser para os seus bastidores antes dos desfiles, foi decisiva para me convencer, pois de supetão provaram que estava errado: afinal é possível usar o Snap de forma criativa e com uma mensagem trabalhada sem prejuízo da espontaneidade e da temporalidade.

Na verdade, desde que Christopher Bailey acumulou, em julho de 2016, os cargos de CEO e de diretor criativo, a Burberry tem-se mostrado mais atual do que nunca e um exemplo a ser seguido por outras marcas de luxo no que toca à gestão das redes sociais (já são 7,6 milhões só no Instagram) — eles estão entre os primeiros da indústria da moda a entender que tudo mudou ou está a mudar, dos clientes às suas expectativas e ao timing. O que explica o facto de estarem a recorrer a “it people”, e já não só a modelos, para usar as suas principais tendências de modo a criar em nós a sensação (ainda que ilusória) de que a roupa está ligada a uma atitude e a um estilo de vida que também podem ser nossos.

Por outras palavras, eles entenderam que cada vez mais pessoas fora do circuito privilegiado, que inclui compradores, editores das principais revistas e sites de moda e agora também os bloggers mais influentes, não querem mais ter de esperar 3-6 meses por artigos que já foram mostrados e usados em tempo real por outros. Ciente disso, a Burberry está a fazer história ao ter colocado à venda, logo após o desfile em Londres, a sua Coleção Setembro 2016 — outra novidade: a partir de agora, as coleções masculinas e femininas passam a desfilar juntas e sob a mesma designação de Coleção de Setembro. É histórico porque o conceito “veja agora-compre agora“, que é como quem diz direto das passarelas para a loja, vai mudar gradualmente a forma como temos acesso à moda, sendo que por moda não falo apenas do segmento de luxo mas igualmente, e sobretudo, do streetwear.

Por João Miguel Simões, texto (follow me on Instagram @jmigsimoes)