Para quem pensava que este era um problema exclusivo dos teenagers, uma espécie de ritual de passagem, descobrir uma ou mais borbulhas na idade adulta parece desapropriado. Mas é algo cada vez mais comum, como têm vindo a alertar vários especialistas. "A acne consiste na inflamação dos folículos pilosos e das glândulas sebáceas da pele. Tem ciclos, dependendo da parte hormonal, sendo ainda geneticamente determinada", indica o dermatologista Orlando Martins.
Tende a aparecer na puberdade, fase de maior agitação hormonal, e dado o papel importante das hormonas, as disfunções, como ovários poliquísticos, devem ser analisadas. "Mexer e espremer as borbulhas ou pontos negros e usar cosméticos inadequados pode piorar a acne. Há também factores ambientais e climáticos, trabalhar em local com ar condicionado desidrata a pele, que não deixa de ser oleosa, apenas produz mais óleo, piorando a acne", refere.
"A acne evoluiu nos últimos anos", afirma Orlando Martins. Quando começou a exercer dermatologia, era frequente ver "raparigas e rapazes com acne aos 13 ou 14 anos". "Agora deparo-me com mulheres na faixa dos 30 anos com acne grave, que provoca dor e cicatriz", afirmou à revista Saber Viver. Além do ritmo de vida atual ser mais agitado, "também há um fator hormonal relevante, a toma da pílula contracetiva cada vez mais cedo", diz.
Nas últimas décadas, com a mudança de mentalidades, a prática generalizou-se. "As mulheres começam a tomar cedo e sem fazer o descanso recomendado", critica. "Aos 30 anos, deixam a pílula e a acne chega em força", realça o dermatologista. "Depois dos 20, o tratamento tem mesmo de ser agressivo, senão o problema vai manter-se até à menopausa, convivendo rugas com acne", aconselha ainda o especialista.
Dieta ilibada
A alteração dos hábitos alimentares é, segundo alguns profissionais, outra das causas. "Não há comprovação científica de que algum alimento provoque acne", garante, no entanto, o dermatologista. Apesar de tudo seguir uma dieta equilibrada é um dos princípios fundamentais para uma pele saudável. Como aconselha o médico, se desconfia que algum alimento lhe provoca reacções adversas é melhor evitá-lo.
Os suspeitos do costume são o chocolate, as azeitonas, os amendoins ou as nozes. Já os fatores emocionais e o stresse são "importantíssimos", como frisa Orlando Martins. "Quando há libertação de adrenalina e de outras hormonas, a acne piora", assegura. Entre os fatores externos encontram-se ainda "os cosméticos e a exposição solar, não só porque o protetor solar é oleoso", sublinha.
"Mas porque há um espessamento da camada superior da pele, que faz com que os folículos sofram inflamação", justifica o dermatologista. "Alguns fármacos, como a cortisona, também podem desencadear acne temporária", alerta ainda o médico, que aconselha o acompanhamento especializado. Quando a acne começa a incomodar deve consultar um dermatologista, que avaliará o tipo de acne e que definirá o tratamento necessário.
O que deve fazer para erradicar a acne
Nos casos ligeiros, a limpeza da pele com produtos suaves e a aplicação de uma pomada anti-acne podem ser suficientes, mas situações mais graves podem exigir a conjugação de limpeza e medicamentos. Depois da consulta, determinando-se a necessidade de tratamento com isotretinoína, para a acne mais grave, há uma fase de tentativa de cura. Aí, é obrigatório o controlo efectivo do ciclo menstrual com anticoncepcionais.
"Os medicamentos são muito agressivos e podem provocar malformações no feto em caso de gravidez", adverte o especialista. Depois há a fase de reabilitação, em que podem ser feitas abrasões ou peelings. A limpeza e hidratação da pele acneica é fundamental na rotina de cuidados diários. Use produtos específicos para pele oleosa, cosméticos, hidratantes e protetores solares com a designação oil free, à base de água ou não-comedogénicos.
Pode também aplicar máscaras periodicamente. Na maquilhagem, prefira a base em pó, porque é menos irritante para a pele. E não se esqueça de limpar bem o rosto antes de dormir, de deitar fora as embalagens abertas há mais de um ano e de lavar os pincéis e aplicadores de produtos de beleza regularmente. As limpezas na esteticista são uma boa aposta, "mas têm de ser muito bem feitas para não deixar cicatrizes", sublinha.
"Há uma tendência para mexer ou mesmo tentar abrir os quistos e isso não se pode deixar", avisa o dermatologista. Nos últimos anos, a empresa farmacêutica Dermira Inc investiu milhares no desenvolvimento de um medicamento contra a acne mas, no início de março de 2018, anunciou a sua suspensão antes do início da comercialização. Os resultados dos últimos testes laboratoriais não convenceram os especialistas.
Fumar pode provocar acne
Uma pesquisa recente do Instituto Dermatológico San Gallicano de Roma, em Itália, defende que as fumadoras estão em risco de desenvolver uma nova patologia, a que dão o nome de "acne dos fumadores". Num grupo de 1.000 mulheres, entre os 25 e os 50 anos, 41% das fumadoras tem acne, contra dez por cento das não fumadoras. As fumadoras apresentam um tipo de acne não inflamatória (com borbulhas, pontos negros e microquistos) em 91% dos casos, na testa e bochechas.
Outro estudo, publicado no British Jounal of Dermatology, no Reino Unido, conclui ainda que fumar na adolescência quadruplica a hipótese de manter acne na idade adulta. Independentemente da sua idade, há um comportamento a evitar a todo o custo. Não esprema as borbulhas. Ao fazê-lo, pode infetá-las ou ficar com uma cicatriz. De acordo com vários estudos, uma em cada duas mulheres tem acne após os 25 anos.
Texto: Joana Andrade e Luis Batista Gonçalves (edição digital) com Orlando Martins (dermatologista)
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