Maria João Marques, autora do blogue The Beauty Routine, conta como enfrentou o mundo de cara lavada durante sete dias. Passar uma semana sem usar maquilhagem? A resposta ao desafio foi imediatamente afirmativa. Um sonoro sim, apesar de escrito num e-mail. Pareceu-me, naquele momento, uma tarefa simples, fácil, divertida. E não podia estar mais enganada. Olhando para trás, não consigo pensar numa altura mais ingrata para passar uma semana inteira sem usar uma pincelada de maquilhagem. Aconteceu em pleno inverno, uma altura em que o rosto perde qualquer sinal de saúde. Acontece a todas.
Nessa altura, torna-se numa espécie de circunferência ovalada cinzento-amarelada, com todos os tipos de imperfeições à vista, nomeadamente borbulhas, marcas e olheiras (muito) profundas. Não podia contar com a pele dourada do verão para desviar as atenções, ou com o sol para ferir a vista de quem tentasse olhar com demasiada atenção. O que já era mau com maquilhagem, tornou-se insuportável sem esta ajuda vital. A cereja no topo do bolo? Os três jantares e duas reuniões importantes a que tive de comparecer completamente… nua! Faço-me entender? Mas vamos começar pelo princípio.
A véspera
Decidi despedir-me da maquilhagem em grande, usando eyeliner, iluminador e o batom mais vermelho que encontrei, como foi o caso do Ruby Woo da MAC. Sentia-me bem, cheia de confiança para a semana que começaria daí a poucas horas. Nunca me senti dependente da maquilhagem e este desafio pareceu-me uma extensão do que a maquilhagem já significava para mim… Diversão!
O primeiro dia
8 da manhã. Olho em redor e, um pouco perdida, tento perceber o que posso ou não usar. O BB Cream é um creme ou conta como maquilhagem? E, se tapar só esta borbulha que apareceu durante a noite, estarei a fazer batota? Sim, claramente. Tentei pensar em vários argumentos possíveis para contornar a única regra a que tinha de obedecer, não usar maquilhagem. Desisti. Apliquei hidratante, creme de olhos e bálsamo de lábios e saí para trabalhar. Com o novo disco da Beyoncé a tocar bem alto nos auscultadores, recuperei alguma da confiança que deixei em casa.
Quando cheguei ao trabalho, já me tinha esquecido do que me faltava. O estado de graça não durou muito e desmoronou assim que me cruzei com colegas. «Estás doente? Porque é que não ficaste em casa?», perguntaram. O segundo golpe não tardou a ser desferido, minutos depois, pela colega que se senta à minha frente. «Ficaste aqui até tarde ontem? Estás com uma cara… O que aconteceu?», interrogou-me.
Estas conversas, que mais pareciam ataques, repetiram-se várias vezes ao longo do dia. Grrr… Voltei a pôr os auscultadores e concentrei-me no trabalho, à espera que o tempo acelerasse. Logo no primeiro dia, aprendi uma importante lição que me acompanhou durante a semana. Evitar espelhos! Não voltei a olhar para nenhum…
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Segunda tentativa
No segundo dia, já sabia o que me esperava e preparei-me o melhor que consegui, tentando compensar a falta de camuflagem com a ausência da necessidade de disfarçar imperfeições. Para isso, antes de me deitar, apliquei esfoliante (Expert Radiance de Novexpert), máscara de argila (Clinique) seguida de máscara hidratante (Sisley) e a pele deveria ficar perfeita. De manhã, reforcei a aplicação do hidratante com óleos nutritivos (Sisley Hydra-Global) e um bálsamo de luminosidade (Élixir de Jeunesse de Eisenberg).
Por fim, penteei as sobrancelhas, sem gel, cera ou lápis. Este gesto fez toda a diferença, sobretudo quando, mesmo com roupa sofisticada, me sentia de fato de treino. Nesse dia, esperava-me uma prova difícil, o jantar anual da empresa. Quando a hora chegou, não resisti à pressão. Sentia-me um patinho feio no meio de cisnes maquilhados, que se divertiam com os seus batons e as suas pestanas volumosas. E, depois das entradas, num momento de fraqueza, esgueirei-me até à casa de banho e pintei os lábios com o tal batom vermelho, a única cor capaz de me consolar.
Em minha defesa, tenho de dizer que tinha comigo o afamado Touche Eclát, a caneta corretora-iluminadora da Yves Saint Laurent. Ainda assim, fiel à filosofia de que maquilhagem só é maquilhagem se a pele estiver perfeitamente corrigida e luminosa, não lhe toquei. Tentei convencer-me de que não estava a usar maquilhagem e redimir-me da prevaricação, sacrificando a beleza da pele. Mas estava. E o pior era que eu sabia disso!
Começar de novo
No dia seguinte, envergonhada com a recaída, impus-me um castigo. Começar de novo. Seriam mais sete dias infernais a evitar saídas nocturnas, saídas diurnas, passeios onde quer que fosse e até mesmo compras no supermercado. O desafio teve o seu lado positivo. Poupei muito dinheiro. Também me deu em que pensar. Como sempre fui uma pessoa muito mais crente nos cuidados da pele do que na maquilhagem e todas aquelas pessoas com quem partilhei este desafio me responderam invariavelmente.
«Bom, isso não deve ser muito difícil para ti. Tu mal te maquilhas!», defendiam. Também pensava que sim, até me surpreender, percebendo que no pouco que me maquilhava estava uma grande parte da confiança com que encarava o dia a dia. O ritual matinal de limpar o rosto, aplicar hidratante, concealer e um pouco de base, blush, máscara de pestanas e, finalmente, quando calhava, iluminador e batom, tinha o dom de fazer desaparecer todos os pormenores que me incomodavam sem me mascarar.
Os dias passaram sem que me habituasse realmente. Também não obtive qualquer conforto na confirmação do mito de que um detox de maquilhagem ajuda a pele a ficar mais bonita. É realmente só um mito. Não notei qualquer diferença para melhor que não pudesse ser explicada pelas máscaras e cuidados extra que tive. Afinal de contas, a Eau de Beauté da Caudalie foi uma fiel companheira nestes dias e uma grande aliada na luta contra a pele baça e sem vida.
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O fim do desafio
Quando o fim do desafio chegou, finalmente, não senti, contudo, vontade de afundar a cara em maquilhagem. Não me apetecia cor ou brilhos. Queria recuperar alguma vitalidade, queria parecer mais descansada. Assim, passei dois ou três dias sem blush, batom ou máscara de pestanas. Apenas um pouco de fond de teint. E era suficiente, sentia-me bem outra vez. Mas ninguém deu conta. Só eu parecia notar. Foi apenas no dia em que apliquei máscara de pestanas que as pessoas mais próximas comentaram «Ena, já usas maquilhagem outra vez!».
Antes disso, nada me denunciou. Nem a base, nem a ausência de olheiras, nem o iluminador (Armani Fluid Sheer). Esta semana não mudou a minha opinião sobre a maquilhagem e continuo a contar com ela como conto com os acessórios certos. Definitivamente, dá um colorido diferente (e tão necessário) não só ao inverno mas como a todas as estações do ano e ajuda-me a ficar melhor nas fotografias. O que mais posso pedir?
Texto: Maria João Marques (bloguer)
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