O que têm Meryl Streep, Andie MacDowell, Susan Sarandon e Michelle Pfeiffer em comum?

São todas actrizes de sucesso, com um talento e carreiras invejáveis, é verdade.

Mas há algo mais que as distingue das restantes mulheres e que qualquer uma de nós ambiciona. Todas elas já passaram há muito a barreira dos 40 anos mas continuam irresistíveis e tão dinâmicas como qualquer jovem de 30 anos. Mas, seja celebridade ou não, qualquer ser humano envelhece.

Os genes são parte integrante deste processo e a vida que temos é que determinará até quando iremos viver felizes e saudáveis, o que por outras palavras significa que está nas nossas mãos controlar o modo como envelhecemos. Por isso, deixámos a genética para os especialistas e partimos à descoberta das estratégias que, de dentro para fora, pode implementar desde já para que, quando soprar as 60 velas do bolo, toda a gente a felicite pelo seu 40º aniversário. Incrédula? Nós explicamos-lhe tudo...

A resposta da ciência

Nos últimos anos, são várias as estratégias que a ciência tem criado para travar o tempo. Tomando como ponto de partida o decréscimo hormonal que ocorre com a idade foram desenvolvidos tratamentos que visam restabelecer esses níveis. É o caso de DHEA (que pode proteger de doenças crónicas e melhorar a cognição), a testosterona, cuja lacuna é associada à falta de libido, fraqueza muscular e osteoporose, e a melatonina (hormona que regula o sono), substâncias com eventual acção anti-idade.

A cada dia que passa há descobertas promissoras como o resveratrol. Contudo, estima-se que a primeira geração de fármacos anti-envelhecimento demore ainda mais de uma década a chegar a nós. Entretanto, o poder dos antioxidantes como a vitaminas C, E ou B tem reforçado a ideia de que a toma destes nutrientes em suplemento previne os efeitos da idade. Especialistas, contudo, defendem que em
vez de basear a alimentação nestas substâncias o melhor é seguir uma dieta em que estas ocupem o lugar central.

O clã antioxidante

Denominam-se radicais livres e, na corrida contra o tempo, são alvos a abater. São considerados responsáveis pelo processo de envelhecimento celular e têm origem no metabolismo e na resposta do organismo a agentes externos como os raios solares, tabaco ou poluição. A produção de radicais livres é inevitável e tende a aumentar com a idade. A boa notícia é que a sua acção pode ser minimizada se reunirmos uma força aliada eficaz. Os antioxidantes!

Tratam-se de alimentos ricos em vitaminas (B, C, E), minerais e substâncias (licopeno ou co-enzima Q10), que agem como uma barreira natural anti-idade. Exemplo disso é o chá verde, rico em flavonóides. Embora as frutas e os vegetais tenham maior reputação, a missão não estaria completa sem outros grupos alimentares, nomeadamente as proteínas, hidratos de carbono e as gorduras.

Especialistas em longevidade, como o norte-americano Michael Roizen, autor do plano RealAge, defendem que uma dieta diversificada é a garantia de vida longa e saudável e que quatro porções de fruta diárias podem rejuvenescer-nos quatro anos.


Veja na página seguinte: O que deve mudar na alimentação

Alimentação equilibrada

Com o passar do tempo, as necessidades do organismo também mudam.

As calorias perdem destaque comparativamente à juventude e outros nutrientes assumem maior relevância, como o cálcio para o fortalecimento ósseo, ou as proteínas
para o reforço da massa muscular.

Manter uma dieta equilibrada é fundamental para prevenir os efeitos colaterais da idade, apostando em alimentos nutritivos e ricos em nutrientes.

Combustível do organismo, a proteína não pode ser esquecida, devendo sim ser diversificada. Consumir peixe (pelo menos três vezes por semana), preferir as aves e reduzir a carne vermelha a um prato semanal é, segundo os especialistas, a aposta certa. O ovo, a soja, os frutos secos e os lacticínios são outras
alternativas equilibradas.

As gorduras monosaturadas como o azeite são também benéficas, não devendo exceder cinco colheres de chá por dia. Embora a maioria dos alimentos tenha um lado positivo, alguns funcionam como um acelerador de idade ao contribuir para o desgaste do organismo.

Tratam-se de produtos nutricionalmente pobres e calóricos como os refinados
(pão branco), pré-confeccionados ou com elevado teor em açúcar ou gorduras saturadas (manteiga, queijo e carne). A presença de gorduras saturadas e trans na dieta está associada à inflamação das artérias, afecta o sistema imunitário e contribui directamente para o declínio cognitivo.

Uma questão de peso

Estudos realizados em laboratório demonstram que uma dieta com a restrição de calorias em cerca de 30 por cento pode prolongar a esperança de vida em ratos e outros animais. As razões para este fenómeno podem ser várias, desde a manutenção do organismo em estado de alerta (o que minimiza efeito dos radicais livres) ao metabolismo mais lento ou à fraca ingestão de alimentos potencialmente inflamatórios como as gorduras saturadas ou o açúcar.

Contudo, não há provas científicas que assegurem igual resultado em seres humanos. Visto uma restrição calórica drástica poder ter consequências graves para a saúde, os especialistas advogam a dieta equilibrada e nutritiva em que só o excesso de calorias é eliminado.

A manutenção do peso certo é vital para o bom funcionamento do organismo, pois evita sobrecarregar artérias, coração ou articulações e tem um reflexo imediato em níveis determinantes como o colesterol, tensão arterial e açúcar no sangue. E para isso não basta uma dieta. É preciso gastar energia e pôr cada músculo em acção.

Não há desculpas!

Se acredita que o desporto só beneficia quem começa cedo engana-se! Estudos divulgados pelo British Medical Journal revelam que mesmo quem inicia a prática regular após os 40 anos reduz o risco de problemas cardíacos em mais de 50 por cento. Razões para começar não faltam, por isso, comece já hoje.

Saiba que o êxito desta operação depende da motivação e satisfação, por isso experimente várias modalidades e convide amigos ou familiares. Uma vez implementado o treino regular complemente-o com exercícios localizados (usando pesos ou apenas o peso do corpo) que tonificam os membros superiores,
inferiores e tronco.

Ao contrário da marcha diária, nos exercícios resistência adicional «o intervalo mínimo deve ser 48 horas, pois a sua intensidade não permite recuperar os músculos utilizados antes disso», aconselha Elvis Carnero. E não se esqueça: nenhuma sessão está terminada sem a fase de alongamentos. Esta é vital para fomentar a flexibilidade e relaxar os músculos após o esforço, evitando dores corporais.


Veja na página seguinte: O que puzzles e quebra-cabeças têm a ver com rugas

O efeito surpresa

Além da actividade física, deve exercitar também o cérebro. Para o manter em forma nada mais simples do que usá-lo.

Mas como? Abolindo desde já a rotina previsível que o faz funcionar em piloto automático.

A capacidade de
aprendizagem pode perder rapidez com a idade mas não desaparece. Precisa apenas de ser espicaçada.

Quebra-cabeças ou puzzles podem dar uma ajuda, mas o que importa é que actividade lhe proporcione prazer e seja difícil.

Isso pode exigir esforço, mas é mais estimulante para o cérebro. A memória, que receamos perder, não tem limites e é susceptível de evoluir em qualquer idade se for trabalhada.

Segundo Ramón Campayo, recordista mundial de memorização, «criar e associar imagens mentais, ler rapidamente e ser auto-confiante é essencial para uma boa memória». Partir de um plano global e só depois
fixar-se nos pormenores é outra das técnicas deste terapeuta para assimilar informação.

Viva a curiosidade

A atitude perante a vida determina a energia do seu cérebro. Isto porque condiciona a forma como reage aos estímulos que a rodeiam. Manter uma postura rígida e fechada a novas experiências, contribui a pouco e pouco para a distanciar do presente, logo prepara-a mal para o futuro.

Deixe-se surpreender e aproveite cada oportunidade para pôr a cabeça a funcionar. Como? É simples. Leia, vá ao cinema, exposições, inscreva-se em cursos de dança, culinária, jardinagem ou aceite o desafio de voltar à sala de aula e aprenda uma língua nova. Acompanhe as últimas tendências da moda, cultura e descubra as músicas que estão a causar sensação. Participe numa associação, partilhe um hobby com amigos ou explore novas realidades através da Internet.

Tudo são boas estratégias para manter desperto o bichinho da curiosidade e exercitar o cérebro. E se alguém lhe disser que há uma idade para tudo responda que a vida é sua e que vai aproveitá-la.

Texto: Manuela Vasconcelos com Elvis Carnero (fisiologista do exercício)