É na camada mais profunda da pele, a hipoderme, que tudo começa. Aí localizam-se os adipócitos, células que funcionam como reservatórios de gordura. Quando esta é armazenada «ocorre uma série de reacções metabólicas que produz (...) substâncias tóxicas», conta Agnelo Martins, médico e director da Clínica South Beach, no livro «Como tratar a celulite». Estas substâncias são depois eliminadas pelos sistemas de drenagem, os vasos sanguíneos e linfáticos.

Se este mecanismo não funcionar, elas vão acumular-se e associar-se à «retenção de líquidos e edema. Por sua vez esta retenção de substâncias tóxicas dificulta cada vez mais o sistema de drenagem devido à pressão nos vasos, originando um círculo vicioso», acrescenta. E eis que a celulite tem as condições para se manifestar.

Esses «nódulos de gordura, que são protegidos por septos fibrosos à volta, onde a irrigação sanguínea é diminuída, e acompanhados por um processo inflamatório», descreve Manuela Cochito, dermatologista, são um problema complexo. A solução passa por perceber as suas causas e pôr em prática um plano global.

A anatomia da celulite

Segundo Miguel Trincheiras, dermatologista, «na mulher, os septos fibrosos que dividem os glóbulos de gordura têm uma forma vertical, mas no homem esta é oblíqua e entrecruzada. Logo, quando há acumulação de gorduras entre os freixos fibrosos femininos estes fazem um ponto de ancoragem em profundidade e a gordura tende a ficar saliente entre eles, dando o tal aspecto ondulado, o que não acontece no caso dos homens».

Por outro lado, explica Agnelo Martins, «no sexo masculino os adipócitos aumentam em volume enquanto na mulher, para além de aumentarem em volume mais rapidamente, multiplicam-se».

A influência dos genes

Até as mulheres magras têm celulite. Porquê? «Há uma tendência genética que leva à acumulação da gordura nos adipócitos e que se transforma em celulite. O factor genético tem um papel muito importante, podendo ser estimulado ou diminuído pelo estilo de vida», explica Agnelo Martins.

Paralelamente, «a mulher está geneticamente preparada para potenciais gravidezes e para que o organismo armazene reservas, quando come em excesso, para depois gastar em épocas em que não há comida, o que hoje não acontece e, portanto, acaba por acumular», acrescenta Manuela Cochito, dermatologista.

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A papel das hormonas

«A própria fisiologia do sexo feminino favorece a celulite», refere Agnelo Martins, segundo o qual as alterações hormonais (nomeadamente ao nível dos estrogénios) na puberdade, gravidez e menopausa promovem e agravam a pele «casca de laranja». «Também a pílula facilita o desenvolvimento da celulite», acrescenta, pelo que deve aconselhar-se com o seu ginecologista sobre a mais adequada para si.

Má circulação também complica

Ao dificultar a eliminação de líquidos e detritos, «a diminuição ou o abrandamento do retorno venoso e linfático promove a celulite», aponta Agnelo Martins no seu livro. Para contrariar este problema, deve abdicar do tabaco, sedentarismo, excesso de sal, alimentos ricos em gordura saturada, vestuário muito apertado, saltos altos, pontiagudos ou apertados, e evitar estar muito tempo sentada ou em pé. Se tiver problemas circulatórios consulte um cirurgião vascular ou angiologista.

O problema do stresse

«Provoca o aumento de secreção de estrogénios e, consequentemente, favorece o aparecimento da celulite», escreve Agnelo Martins. A atividade física é um excelente antídoto, tendo ainda a vantagem de favorecer a circulação sanguínea.

A influência da alimentação

O excesso de gordura, hidratos de carbono, açúcares e bebidas alcoólicas promovem o aumento dos adipócitos e são aliados da retenção de líquidos, devendo, portanto, limitar o seu consumo. Pelo contrário, uma alimentação equilibrada e rica em vegetais, cereais integrais e fruta ajuda a salvaguardar a silhueta da celulite, dada a sua riqueza em fibra que contraria, nomeadamente, a obstipação e gases também associados a este problema.

Glossário

- Adipócitos: Células localizadas na camada mais profunda da pele que armazenam triglicéridos e têm a capacidade de aumentar até 100 vezes o seu tamanho e de se multiplicarem.

- Pré-adipócitos: Células jovens que se podem transformar em reservatórios de gordura.

- Lipólise: Processo de libertação de gordura das células gordas (adipócitos).

- Lipogénese: Processo de transformação de glucose (açúcar) em gordura que determina o aumento da dimensão dos adipócitos.

Texto: Nazaré Tocha e Rita Caetano com Agnelo Martins (médico), Miguel Trincheiras (dermatologista) e Manuela Cochito (dermatologista)