O passar do tempo desgasta mesmo e a pressão do quotidiano também. Os níveis de satisfação sexual decaem significativamente depois de um casal completar seis meses de relação, refere um recente estudo norte-americano realizado na Universidade de Chapman, em Orange, na Califórnia, nos Estados Unidos da América. De acordo com a investigação, 83 por cento das pessoas relatam estar satisfeitas sexualmente na sua relação, nos primeiros seis meses, mas a partir daí quase metade delas se mostra insatisfeita com a sua vida sexual.

Cerca de 40 por cento dos inquiridos do sexo masculino estavam insatisfeitos, ao fim de seis meses, face a 25 por cento de mulheres que também se queixaram da qualidade dos momentos mais íntimos, em menos de um ano de relação. «Pode parecer cliché, mas é mesmo verdade que a falta de diálogo, a acomodação, os desencontros da vontade sexual e a vergonha de mostrar quando se quer fazer amor, esperando que seja o outro a ter a iniciativa, são as principais causas para a monotonia sexual nos casais», conta Fernando Mesquita.

Maria Joana Almeida, sexóloga, acrescenta outros fatores que contribuem para  o esmorecer da ligação sexual aos que o sexólogo e terapeuta sexual já referiu, nomeadamente «problemas de saúde ou emocionais, questões inerentes à evolução da própria relação, mas também razões contextuais ou sociais, como uma perda de emprego ou uma mudança nas condições financeiras familiares», sublinha a especialista.

Como reagir?

Comunicar será sempre o passo a dar, após a perceção de que a relação íntima a dois já não é como era. De acordo com Fernando Mesquita, «a comunicação é muito importante para que o casal não caia na monotonia», mas será preciso saber abordar o tema. «Comunicar não significa falar com o parceiro sobre o estado do tempo ou sobre a vida do vizinho», refere o especialista.

«É fundamental que o casal aborde a sua realidade, incluindo as necessidades de cada um, os seus desejos e/ou divergências que possam existir», concretiza o terapeuta sexual, segundo o qual «ignorar ou rejeitar o problema só irá criar uma ilusão efémera de tréguas no casal. Os casais felizes são aqueles que têm a capacidade de enfrentar as dificuldades e as diferenças, falando sobre aquilo que os incomoda, sem julgamentos desnecessários», diz.

Como abordar o tema?

«É importante que o elemento do casal que se sente insatisfeito com a vida sexual não se sinta constrangido por transmitir, ao outro, as suas necessidades, sentimentos, opiniões e desejos, mas essa insatisfação deve ser partilhada de forma positiva e construtiva. É importante que haja previamente uma reflexão sobre os motivos que podem estar na sua origem e que, depois, ocorra uma conversa honesta com o parceiro para que, juntos, possam identificar as causas, mas também soluções que agradem a ambos», recomenda Maria Joana Almeida, sexóloga.

Segundo a especialista, essa conversa deve ser isenta de ataques ou acusações, evitando-se recorrer a afirmações como sempre e nunca. O tom da conversação deve ser marcado pelo respeito, abertura  e sinceridade e assentar na escolha das palavras certas, sublinha a especialista. «Falar sobre intimidade e sexualidade não é diferente de abordar outras questões sensíveis para as quais nos preparamos. Podemos comunicar de forma eficaz mostrando sentimentos e dizendo que comportamentos gostaríamos de ter em conjunto e como gostaríamos de ver  a relação crescer e evoluir», diz.

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Estratégias para reacender o desejo

Cada casal é único e não existe uma receita universal para reavivar uma relação a nível sexual, mas existem estratégias frequentemente recomendadas pelos sexólogos. Namorar, namorar, namorar, relembrar a história da relação, nomeadamente os motivos pelos quais se apaixonaram, e criar novas experiências a partir daí! Usar a comunicação verbal e não verbal para se encontrarem e criarem momentos de intimidade sem desfechos predefinidos.

Passar tempo juntos fisicamente sem que haja relações sexuais penetrativas são alguns passos que podem ajudar. No livro «Aprender a A.M.A.R», publicada pela editora Edições Chá das Cinco, Fernando Mesquita descreve os «casais em modo CC ou em cativação contínua, casais que nunca dão por terminado o período de cativação, pois reconhecem que são meros aprendizes daquilo que o outro tem para lhes ensinar», pode ler-se.

Quando procurar ajuda especializada?

Para recuperar o desejo perdido nas relações de longa duração (porque sim, é possível), os especialistas recomendam procurar um sexólogo atempadamente, assim que um dos parceiros comece a sentir os primeiros sinais de insatisfação. «Muitos casais veem a psicoterapia como a última oportunidade para salvarem a sua relação, mas é muito importante que o casal não deixe chegar a relação a um ponto sem retorno», alerta o especialista.

A sexóloga Maria Joana Almeida também recomenda a consulta de sexologia para «desbloquear situações, impasses e mediar conflitos». «Quando um casal sente que não sabe por onde começar, pode ser um bom primeiro passo falar com um terapeuta (de casal ou sexual) que ajude a olhar para a vida de casal com outros olhos e a pintar o quadro com novas cores», acrescenta ainda.

É bom pôr as fantasias sexuais em prática?

«O facto de se fantasiar não significa que se tenha de pôr em prática tudo o que se pensa, mas é preciso saber lidar e aceitar as fantasias, pois ajudam a estimular ou a recuperar a intensidade do desejo», analisa o sexólogo Fernando Mesquita. «O conforto para explorar práticas sexuais novas, seja em novas relações ou em procurar juntar objetos ou imagens nas relações sexuais, deverá ser respeitado e refletido em conjunto», refere.

«A descoberta deve partir de vontades pessoais e da vontade do casal e não de pressões, de um dos membros do casal ou de pressões sociais, de conversas entre amigos ou de experiências vistas nos media», recomenda ainda a sexóloga Maria Joana Almeida. Veja também as oito dicas para apimentar a sua performance sexual e a galeria de imagens com as melhores posições para atingir o orgasmo.

Texto: Sofia Santos Cardoso com Maria Joana Almeida (sexóloga) e Fernando Mesquita (sexólogo e terapeuta sexual)