Todos precisamos uns dos outros
mas a frase «não sei viver sem
ti» é um sintoma de que está a
perder a sua individualidade e que está
dependente de outros (talvez mais do que deveria) para ser feliz.

Quando é que existe dependência
emocional?
Quando é que os afetos se tornam
patológicos e perigosos para a
nossa saúde física e mental?

A resposta (não) é simples. Quando não deixamos
espaço para a nossa autonomia
pessoal, quando confundimos
amor com dependência, quando
a relação afetiva anula a individualidade,
provocando uma
sensação de sufoco perante a
ausência do outro, quando estamos
mal com o outro mas não conseguimos viver sem ele... Em
suma, «quando acreditamos que
somos incapazes de tratar de nós
próprios e precisamos da ajuda de
outros para o fazer», explica Fernando
Magalhães, psicólogo
clínico no Centro Clínico e
Educacional da Boavista, no
Porto.

Esta dependência «é um sentimento
de inadequação, vulnerabilidade
e falta de confiança no
próprio julgamento, uma crença
de inaptidão e de que os outros
fazem tudo melhor», sublinha o especialista.
As pessoas que têm relações dependentes
costumam precisar da
sua droga pessoal, seja ela o companheiro,
os amigos, os pais...

Podem,
inclusive, depender emocionalmente
dos filhos e das suas
vidas. O medo e a insegurança
dominam estas pessoas. De facto,
o mito da metade da laranja ou
de não se ser nada sem o outro
são o reflexo de um medo reiterado
da solidão e do abandono que
pode levar uma pessoa a viver
sem respeito por si própria e sem
amor-próprio. A dependência
afetiva está relacionada com a
imaturidade emocional e é o
maior obstáculo para o crescimento
pessoal.

Conheça-se a si mesma

Os medos atuam como protetores
para que a pessoa dependente não
entre em crise. A separação é
vista como algo horrível mas o
apego doentio também não deixa
de corroer as pessoas interiormente. O primeiro passo para pôr
fim aos medos que criam estes
laços dependentes é promover o
autoconhecimento, o caminho
mais correto para uma pessoa
aprender a gostar de si mesma.
Segundo Fernando Magalhães,
em primeiro lugar, «há um conjunto
de crenças, regras e atitudes
irracionais que é essencial
identificar e depois modificar».

«Também é necessário transformar
a componente afetiva (medo e vulnerabilidade) em
emoções positivas. O sentimento
de incompetência, por exemplo,
é mais imaginado do que real,
e surge porque evita atitudes que
permitem construir confiança,
o que reforça o sentimento de
não ser capaz. Se, pelo contrário,
agir sobre o mundo, ganhará
a confiança necessária para sentir
que é capaz», sublinha o especialista.

É como o caso da mulher
que, à beira do divórcio depois de
oito anos de casamento, diz algo como «ele
não pode abandonar-me, viver
deixará de fazer sentido». Este
medo do desconhecido não lhe
permite enfrentar a sua nova vida
com os seus próprios recursos.


Até que um dia, finalmente,
percebe que, para ultrapassar essa dor, tem de aceitar a separação e
entrar em catarse, enfrentando as
suas carências, história e resolver
assuntos pendentes. Conhecer-se
e aprender a estar sozinha, gostando
de si, é a medida essencial
para dar lugar à transformação.
O autoconhecimento gera segurança
e ajuda a perder o medo do
desconhecido.

A mudança a partir do passado

Outro ponto interessante é ter
em conta a história pessoal de
cada um. Somos fruto das experiências afetivas passadas. Podemos
crescer e promover a mudança
quando conhecemos os
mecanismos que deram origem
à dependência. E podemos começar
a ver a vida de outra perspetiva,
e reescrevê-la.

A própria vida
é mudança, um imprevisto, um
movimento. Se uma pessoa tiver
consciência disso, terá mais recursos
para enfrentá-la e sentir-se
mais satisfeita. Quando isto a
ultrapassa, é aconselhável pedir
ajuda a um especialista, a pessoa
certa para lhe dar as ferramentas
que ativam as suas próprias capacidades,
com o objetivo de promover
a independência afetiva.

Veja na página seguinte: Medidas para se tornar independente

Igualmente importante é tentar
identificar as origens da dependência.

Esta pode ter várias causas, nomeadamente «pais superprotetores, que
tomavam as decisões por si e que
lhe deram poucas responsabilidades e pais críticos e medrosos que
a protegiam do mundo», refere o psicólogo.

Mas não só! «Passar
muito tempo com os pais e não
ter feito atividades sozinha ou
com amigos e ter parceiros críticos
e agressivos, que a fazem duvidar
de si» são outros dos exemplos
referidos pelo especialista.

Medidas para se tornar independente

Estas são alguns dos comportamentos e atitudes que o especialista recomenda:

- Faça uma lista de situações, tarefas
e responsabilidades em que depende
de outras pessoas.

- Sistematicamente, defina tarefas e decisões diárias sem procurar ajuda.
Comece pelas mais fáceis.

- Reveja relações do passado e clarifique
os padrões de dependência.

- Evite pessoas críticas, superprotetoras
e controladoras.

- Escreva todos os progressos e as
suas vantagens emocionais.

- Não evoque o passado. Concentre-se
no aqui e agora.

- Dedique alguns momentos do dia
para estar consigo própria.

- Faça alguma coisa que a deixe feliz. Dê um passeio na praia, leia um livro...

- Acorde com um objetivo.

- Decida ser feliz.

- Aplauda os seus sucessos.

Texto: Madalena Alçada Baptista com Fernando Magalhães (psicólogo clínico)