Há discórdias até nas uniões mais sólidas que são capazes de nos fazer perder a cabeça por momentos ou até mesmo voltar as costas à relação. Tudo depende da habilidade de cada casal para conseguir ultrapassar essas situações.
«Idealmente, no casamento, as pessoas vão partilhar valores e interesses. Terão uma intimidade afectiva e física que pode ser desenvolvida», afirma Vítor Rodrigues, psicólogo.
«Nesse sentido, podem estar cada vez mais casadas com o passar do tempo», sublinha o especialista. Identificámos seis pontos de discórdia comuns no casal e, com ajuda deste especialista, traçamos o caminho para os resolver. Sem dramas!
«Estamos sempre a discutir sobre a gestão do dinheiro»
Mais do que um sinal de preocupações económicas, a questão do dinheiro esconde outra, vital para a relação a dois, os valores de cada um. Geralmente, as pessoas desentendem-se sobre o uso do dinheiro porque discordam do valor relativo das coisas e do grau de importância dos próprios interesses, em detrimento dos interesses do parceiro. Para Vítor Rodrigues, a solução passa por «identificar o que é importante para ambos, estabelecendo em que devem investir o dinheiro comum, bem como até que ponto ele existe».
«Não concordamos com a educação religiosa do nosso filho»
É preciso abertura de espírito para reconhecer ao outro o direito a ter uma perspectiva religiosa, a viver da sua maneira a espiritualidade ou até a não ter vivência espiritual. Como o interesse da criança é o mais importante, deve-se informá-la sobre as diferentes religiões e deixar que a decisão seja tomada por ela, diz o psicólogo.
«Para escolher algo tão importante como a orientação espiritual, é bom esperar até à adolescência, ao momento em que tenha meios de fazer as suas próprias avaliações e de se orientar. As aptidões cognitivas mais diferenciadas, bem como os valores e as orientações de vida precisam de tempo para amadurecerem», refere.
«O nosso desejo sexual está desencontrado»
Um esforço para conhecer melhor o seu próprio corpo e o do outro e não viver a emocionalidade ligada à sexualidade como uma coisa negativa pode facilitar muito o reencontro do desejo. Pequenas fugas ao quotidiano, o investimento na intimidade e, sobretudo, não prescindir de viver a sexualidade, ajudam as pessoas a ultrapassar as diferenças.
Quando estas são extremas, tendo inclusivamente origem em vivências educativas ou sexuais traumáticas, pode ser necessário o recurso a apoio terapêutico. Assim é possível transformar «uma fonte de desacordo potencial numa fonte de grande acordo e cumplicidade», indica Vítor Rodrigues.
«A minha sogra interfere demasiado na nossa vida»
A união de duas pessoas (e, consequentemente, de duas famílias) pode trazer surpresas. «Antes do casamento é importante que saiba indagar qual é o grau de dominância que os pais têm na vida do outro. Tenho visto casos que correm mal porque uma das pessoas é autónoma e a outra está habituada a que os pais mandem», confidencia Vítor Rodrigues.
«Isto cria grandes divergências e tentar resolvê-las com cedências não é um bom, pois o recurso à auto-limitação cria áreas de ressentimento», alerta o psicólogo. Nestes casos, importa criar um espaço de intimidade, tentando resolver a questão impondo limitações aos familiares invasivos.
«O pai contradiz-me sempre diantedo meu filho»
É importante que os pais estejam de acordo sobre a educação. E, quando tal não acontece, não devem contradizer a ordem dada, nem discuti-la à frente da criança. O desacordo deve resolver-se entre adultos que, juntos, tentarão fazer melhor na próxima vez. Isto porque, para além de exigências contraditórias baralharem a criança, o facto de um dos pais «perder ou ser desvalorizado perante o outro, tende a transmitir que esse género (feminino, no caso mais frequente) pode e deve ser desvalorizado», adverte o psicólogo.
Veja na página seguinte: O que fazer quando ele passa mais tempo no trabalho do que em casa
Embora actualmente sejam autónomas a nível profissional, as mulheres continuam a assumir a tarefa de cuidar das crianças, o que implica uma sobrecarga e um acréscimo de stress. Quando o marido está frequentemente ausente, é natural que se sintam desapoiadas. Na opinião de Vítor Rodrigues, a excessiva valorização do trabalho «precisa de ser contrabalançada pela educação emocional, a habilidade de estar junto, de partilhar tarefas e momentos de intimidade». Estas são as três tácticas anti-conflito que deve seguir:«Ele dedica-se só ao trabalho e passa pouco tempo em casa»
Plano de acção
- Ganhar/ganhar
O conflito pode fomentar o envolvimento no casal. Encare o conflito como o verdadeiro adversário e enfrente-o. Assim ambos ganham.
- Ganhar/perder
Traduz-se em tirar espaço vital ao outro que vai cedendo, fica ressentido e, se tiver oportunidade, vinga-se.
- Perder/perder
Há uma cedência mútua para fugir ao conflito. Ambos acumulam frustrações e prescindem do prazer. Não funciona.
Texto: Maria Silva com Vítor Rodrigues (psicólogo)
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