A hora do banho é um ritual noturno para James Hern – uma oportunidade para passar algum tempo precioso com a filha. Mas agora que Imogen, de oito anos, deixou de achar graça a patos de borracha, o pai, de 51 anos, arranjou uma atividade mais invulgar para mantê-la entretida. “Trabalho a partir de casa, então trago o quadro do escritório para a casa de banho e estudamos um pouco de matemática”, contou Hern, consultor de negócios do Surrey, ao Daily Telegraph. Hern já tem tudo pensado. O aumento dos custos com o ensino superior puseram-no a pensar que a filha vai precisar de entrar numa universidade prestigiada – e cara - para ter mais hipóteses de conseguir um bom ordenado.
Este homem é completamente transparente em relação às suas ambições – e não está sozinho. Pertence à nova raça de “pais tigre”, os quais empurram os filhos para a excelência no início de cada ano escolar. Uma raça que pode ser muitíssimo mais feroz do que as homólogas femininas – as mães.
As “mães tigre” agem de forma mais silenciosa. No livro Domar o Pai Tigre, a jornalista Tanith Carey escreve que a competição pelos feitos da criança é tão renhida que as mães guardam ciosamente os certificados de honra e outros prémios para, quando outros pais vão visitá-los, exporem orgulhosamente nas paredes da sala.
Já os pais tendem a ser mais “expressivos e orgulhosos”. Não têm escrúpulos em dar uma ajuda nos bastidores, em enviar emails aos professores a indagar sobre os objetivos curriculares ou, especialmente, em apoiar ruidosamente os filhos em eventos desportivos.
O psicoterapeuta Phillip Hodson salienta que, quando estes pais decidem envolver-se no trabalho escolar da prole, optam por uma abordagem mais orientada para o alvo, o que pode ser contraproducente. “O facto de os homens serem educados para serem competitivos, e de serem mais agressivos do ponto de vista hormonal, pode ter consequências negativas”, afirmou Hodson ao Telegraph.
Rachel Andrew, psicóloga clínica que trabalha com crianças, conhece cada vez mais pais que sentem que o futuro sucesso dos filhos já não pode ser deixado ao cuidado da escola. “É socialmente mais aceitável serem os homens a falar de competitividade”, salienta a especialista, acrescentando que “as mães tendem a preocupar-se com a eventual exclusão dos miúdos dos grupos sociais se disserem abertamente que estão a tentar colocar os filhos à frente do resto”.
Karen Tindall, ex-professora e agora explicadora na zona norte de Londres, também tem observado de perto a ascensão dos “pais tigre”, normalmente bem-sucedidos, que subscrevem a ideia de que as crianças devem ser “fortalecidas” ou que a pressão escolar durante os primeiros anos é positiva na construção do caráter. “Os pais que vêm falar comigo tendem a ser muito orientados para os objetivos. Querem resultados rápidos. Dizem coisas como: ‘Consegue pô-lo nesta escola ao fim de dez explicações? Eles estão menos interessados nos pequenos passos necessários para lá chegar. Estes pais-alfa tendem a querer replicar em casa o tipo de sistema competitivo que experimentam no trabalho”, explica.
No entanto, ao fazê-lo, podem não conseguir perceber os perigos de querer “vencer a todo o custo”. “Ignoram que o objetivo principal deve ser educar os filhos para se tornarem adultos emocionalmente saudáveis, não para serem capazes de sustentar mansões e carros desportivos”, afirma Tindall.
E você, é um “pai-tigre”?
Os sucessos do seu filho tornaram-se gradualmente o único tema de conversa em sua casa? Se não quer tornar-se num irritante “pai-tigre”, tenha atenção ao seu comportamento.
- Inclua atividades na vida do seu filho que não sejam orientadas para nenhum objetivo e nas quais o resultado final seja indiferente.
- Mantenha a perspetiva. Não é preciso que as crianças tragam certificados e troféus para você obter a sua validação como pai. O seu filho pode ter talentos que estão fora do alcance das áreas tradicionalmente reconhecidas; valorize qualidades como a bondade, generosidade e consideração.
- Fique quieto. O desporto é uma área onde os “pais-tigre” se sentem autorizados a mostrar as garras. No entanto, pode ser contraproducente. Um estudo da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, descobriu que a pressão das bancadas é uma das principais razões para as crianças abandonarem o desporto.
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