Em adultos, é comum repetirmos uma série de conselhos que ouvimos da boca dos nossos pais quando eramos pequenos. Mas será que todos esses ensinamentos estão corretos? É natural que não.
Mike Brooks, diretor do Centro de Avaliação e Psicologia de Austin, Texas, tem dedicado boa parte da sua vida profissional a analisar questões desta natureza. Num artigo para a Psychology Today, o terapeuta e autor de Tech Generation: Raising Balanced Kids in a Hyper-Connected World e autor do site Tech Happy Life, fala de uma recomendação que lhe parece especialmente enganadora: “Como pais, estamos sempre a tentar ensinar e orientar os nossos filhos. Queremos que sejam adultos felizes, bem-sucedidos e integrados e encorajamo-los com vários conselhos ‘sábios’ que aprendemos ao longo dos anos (muitos transmitidos pelos nossos pais). Há um que considero bastante nocivo: dá sempre o teu melhor. Mas o que significa isto, exatamente?”
Sem pôr em causa as boas intenções deste mantra, Broooks lembra: “Como diz o ditado, de boas intenções está o inferno cheio. Vamos olhar com atenção para esta frase – queremos mesmo que nossos filhos façam sempre o melhor possível? Tenho a certeza que não”. Confuso? “Quando lavo a loiça, cozinho, arrumo roupa ou alimento um blog, nem sempre faço o meu melhor. Regra geral, faço o suficiente. E doseio o esforço à necessidade, ou vontade, de me sair bem na tarefa. Claro que às vezes tento o meu melhor, mas não sempre”.
O psicólogo socorre-se ainda do seu exemplo como desportista amador para explicar como não podemos querer ser os melhores em tudo. “Não sou nenhum corredor de elite, mas já fiz algumas meias-maratonas e maratonas. Quando corro, normalmente tento terminar num bom lugar. Não sei se estou a dar o meu melhor porque podia ter contratado um treinador, ter adotado um regime diário intensivo, adaptado a minha alimentação e ter deixado de comer qualquer tipo de junk food. Basicamente, começaria a treinar como um atleta olímpico. Isso seria dar o meu melhor. Mas não o faço, nem por sombras.”
Um exemplo mais específico ainda: “Suponha que o seu filho tem dois exames pela frente – um de Química e outro de História, e ele tem uma média de 69 a Química e 97 a História. Na noite anterior, será que ele deve dar o seu melhor em ambas as disciplinas?”. Brooks não tem dúvidas de que a resposta é não.  “Com um prazo tão limitado e com uma nota tão boa a História, o melhor a fazer será incentivá-lo a melhorar o desempenho a Química”.
O especialista considera que existem inúmeros outros exemplos que provam que “dar o melhor, sempre” é uma má ideia.  “Na verdade, parece-me uma boa receita para o fracasso e uma forma rápida de promover o perfeccionismo, a ansiedade e outros sentimentos de desconforto”.
O que realmente queremos para eles? “Que sejam felizes. E a verdadeira felicidade não se alcança tentando sempre dar o nosso melhor”. Mais: essa máxima pode até ser contraproducente porque é irrealista e geradora de frustração. “Para mim, gosto do conselho: não trabalhes arduamente em tudo; opta por te empenhares de forma inteligente”, remata o psicólogo.