Ser mãe ou pai é sempre um desafio. Uma aventura, que normalmente se começa a escrever num sonho de infância quando brincamos aos pais e às mães e que começa a ganhar contorno com o desejo adulto de ter um filho ou uma filha com a pessoa que amamos. Na maioria dos casais, o sonho concretiza-se através de uma gravidez viável e do nascimento de um bebé, noutros a chegada do filho acontece através da adoção.

 

Neste artigo gostávamos de olhar para alguns dos desafios que pais e filhos adotivos enfrentam.

 

Indepentemente dos motivos que levam uma família adotar, devemos ter sempre presente que a adoção é sempre um ato de enorme generosidade, na medida que dá a uma criança uma segunda oportunidade de crescer numa família. Tal como todos os projetos de maternidade e paternidade a adoção também se sonha perfeita, mas tal como todos os projetos de maternidade e paternidade biológica não há caminhos 100% perfeitos. Afinal nada no mundo é 100% perfeito. Ser pai e mãe é sempre um caminho povoado por desafios. O cenário idealizado por muitos pais e mães que decidem pela adoção, é o encontro perfeito entre a vontade de acolher e a vontade da criança ser acolhida e receber uma nova família.

 

Por vezes este cenário de encontro e de troca de amores, tarda acontecer criando ansiedade nos pais adotivos. Devemos ter presente que em Portugal, muitas das crianças em situação jurídica de adoptabilidade, viveram situações traumática precoces e construírem durante a sua primeira infância modelos de vinculação inseguros que condicionam a forma como construem novos vínculos relacionais.

 

Inúmeros estudos científicos, têm sublinhado o impacto que a relação precoce e os primeiros vínculos afetivos, têm no desenvolvimento neuronal da criança, mais especificamente na maturação das estruturas do cérebro que desempenham funções de regulação emocional. Sabe-se estatisticamente que crianças que viveram situações de maus tratos têm maior probabilidade de desenvolverem perturbações do humor e do comportamento. Por vezes os pais são levado a pensar que o amor que sentem pelos seus filhos é o elemento suficiente para ultrapassarem todos os desafios e para determinar a construção de um vinculo seguro.

 

É indiscutível que o amor é um elemento importante, mas a nossa experiência tem nos dito que por vezes o amor só por si, não é ingrediente suficiente, para a construção de um vínculo seguro. Talvez o grande desafio, dos pais adotivos, é compreenderem que suas crianças trazem para o seio da nova família modelos de relação aprendidos na família de origem ou na instituição na qual viveram uma parte da sua vida. Estes padrões relacionais que porventura cumpriram uma função adaptativa noutro contexto, na nova família são percecionados como desadaptados ou desafiadores.

 

Compreender e acolher estes comportamentos, é acolher parte da história da criança, e consecutivamente acolher histórias de desencontro que porventura todos nós gostamos de pensar que não acontecem no nosso mundo. A grande maioria dos pais e das crianças adotadas, acabam por encontrar um equilíbrio relacional que permita um jogo de reciprocidade afetiva, que é gratificante para ambos, tornando o vinculo emocional seguro. Contudo por vezes, a construção de um vínculo seguro é mais difícil.

 

Os pais e as crianças começam a ficar progressivamente descrentes na relação e a ameaça de rutura começa a pairar na família. O desencontro relacional em muitos casos materializa-se através das birras repetidas, da falta de troca de afetos, na baixa tolerância à frustração, na ausência de proximidade física ou simplesmente num desligar progressivo. É neste momento quando a descrença se começa apoderar dos pais e das crianças que achamos que a procura de um apoio especializado é importante.

 

Existem momentos que a nova família precisa de ser apoiada, de forma a que pais e criança reencontrem o caminho para uma vinculação segura. Este é um apoio que se pode ser feito dependente dos casos de diferentes formas: aconselhamento parental, terapia familiar, a intervenção terapêutica individual com a criança. Independentemente da intervenção terapêutica adotada, o objetivo é sempre apoiar os pais e a criança a desenharam formas construtivas de relação nas quais pais e filhos encontrem um espaço de crescimento emocional. Acabamos este breve texto reafirmando a nossa forte convicção que construir uma família é sempre um processo complexo, onde amor, esperança, contenção e pensamento andam de mão dada, de forma a evitar que a criança adaptada sinta de novo o medo de ficar só ou perdida.

 

Pedro Vaz Santos PIN – Progresso Infantil Consulta da Adoção

 

Pedro.santos@pin.com.pt