Proibir a utilização deste tipo de linguagem não é solução
Os pais tentam afastar os seus filhos da utilização de expressões desesperadas, que provavelmente são impulsionadas por sentimentos desesperados, e que se podem transformem em atos desesperados. Gritar “odeio-te” é uma dessas expressões. Consequentemente, muitos pais proíbem a utilização deste tipo de linguagem e tratam o assunto como uma violação das regras familiares, reagindo geralmente de forma violenta com uma resposta corretiva.
“Nunca fales assim para nós! Vai já para o teu quarto. Discutimos as consequências mais tarde”.
Esta não é uma boa forma de agir. Pais e filhos adolescentes, muitas vezes, ficam dolorosamente presos no seu comportamento relacional negativo, agindo e reagindo repetidamente, de maneira a manter o problema ou até mesmo agravando-o.
É necessário comunicar imediatamente, não castigar. Os pais devem saber o que fazer com os filhos adolescentes difíceis. Têm que tratar “odeio-te!” muito a sério. Esta expressão revela desespero, expressa uma extrema infelicidade que tem que ser discutida naquele momento. Ignorar pode ter consequências muito perigosas para o seu filho adolescente.
O seu filho necessita de uma resposta empática
Os pais têm que perceber que a maioria das declarações “odeio-te!”, proferidas pelos filhos adolescentes, efetivamente não tem a ver com o ódio real pelos pais. O seu filho adolescente quer transmitir ou assinalar que está a viver um ou mais problemas perturbadores, e esta é a forma de o dizer. O jovem está a viver grande ansiedade e sente-se frustrado pelas exigências dos pais, restrições ou falta de compreensão. "Odeio-te!" significa que "estou no extremo da minha raiva por vocês". O jovem sente-se ferido pelo que os pais fizeram ou não fizeram. "Odeio-te!" significa efetivamente "eu sinto-me realmente magoado devido à forma como vocês me trataram". O jovem usa esta linguagem extrema com efeitos de chantagem. "Odeio-te!" significa realmente "se não queres que eu te odeie, então deixa-me fazer à minha maneira"
Neste momento, o que o jovem precisa não é a raiva ou a punição dos pais, mas uma resposta empática que lhe permita expressar o seu transtorno extremo.
Forma empática de agir, aceitar e demonstrar um amor mútuo
Em vez de os pais se colocarem à defensa, devem dar uma resposta empática:"Eu importo-me com o que tu sentes, eu quero saber o que tu sentes, e eu vou ouvir-te para saber como te sentes."
Quando o seu filho adolescente disser "odeio-te!”, os pais deve responder algo como "ao dizeres que me odeias, estás a dizer-me que estás muito magoado. Por favor, fala comigo sobre a tua infelicidade e diz-me o que sentes".
Então, depois de conversarem, faça-lhe um pedido: "Já que é infelicidade, e não ódio, o que realmente sentes, da próxima vez que te sentires assim, com uma dor tão profunda, podes simplesmente dizer ‘Eu sinto-me extremamente infeliz!'. O problema em usares a palavra ódio entre nós é que ela pode assustar os dois. Pode assustar-me a mim, porque eu posso perguntar-me o que tu poderias fazer numa situação de desespero. Pode assustar-te a ti, porque podes acreditas que me odeias e podes sentir-te incapaz de aceitar o meu amor".
Além disso, "odeio-te" pode ser perigoso de dizer. Naquele momento em que é dito, com raiva, pode motivar ações odiosas. Palavras más afirmam crenças negativas e podemos sentir que estamos no direito de nos tratarmos de forma odiosa. Assim, ambos, pais e filhos, podem agir de forma negativa e podem ter motivos para nos arrependermos.
Por isso, o diálogo é o único caminho a seguir, na procura de aceitação e demonstração de amor mútuo.
Elisabete Condesso / Psicóloga e Psicoterapeuta
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