O seu filho reagiu mal a uma ordem sua e bateu a porta do quarto com estrondo. Você fica furioso? É natural, onde é que já se viu tamanha falta de educação? Então, sai atrás dele, pega-lhe no braço e grita qualquer coisa como: "Não voltas a fazer isso".
Quando abandona o quarto, você… fecha a porta com estrondo. Pois. Não é fácil manter a calma em todas as situações. Mas atenção: a raiva gera raiva e, por vezes, as crianças, perante a irritação e a zanga dos pais, duvidam do amor que eles nutrem por elas. Estão só a fazer género? Parece que não.
Laura Markham, editora do site Ahaparenting.com e autora do livro Peaceful Parents, Happy Kids: How to Stop Yelling and Start Connecting (Pais Pacíficos, Filhos Felizes: Como Parar de Gritar e Começar a Conectar-se), defende que nenhuma manifestação de raiva ensina uma criança a agir bem ou a corrigir um comportamento.
"Se elas se comportam mal, a intervenção mais eficaz é estabelecer um limite claro e depois ajudá-las a descobrir onde erraram. Quando descarregamos a nossa raiva, estamos apenas a agir com base na culpa e na vingança – e a nossa raiva tem um efeito profundo nas crianças", argumenta.
A especialista defende que, "na melhor das hipóteses, os miúdos assumem que são pessoas más e que nunca conseguirão ser bons o suficiente". No pior cenário, "muitas dessas crianças temem secretamente que as mandemos para a cadeia ou que as troquemos por um novo filho".
Ou seja: se a criança sabe e sente que é amada ao comportar-se de forma adequada, "quando age como um monstro, tem medo de ser ela própria um monstro".
Laura Markham acrescenta que «amar incondicionalmente quando se está furioso não é fácil». Mas aconselha a respirar fundo e a evitar reagir a quente. Ao dar espaço à resolução da raiva, não só está a poupar o seu próprio sistema nervoso como a dar um exemplo de contenção e sobriedade, ensinando o seu filho a agir de forma tranquila e sem gritos.
5 conselhos para evitar momentos de tensão com os filhos
O truque é respirar fundo e não extravasar a raiva a sangue quente. É que a raiva não é a lição mais adequada. Acalme-se primeiro e explique depois à criança que não teve o comportamento adequado, aplicando-lhe as consequências de forma racional.
Quando estiver zangado, concentre-se em acalmar-se.
Desvie a atenção do seu filho. Em vez de descarregar a raiva nele, exercite o seu autocontrolo. Saia do espaço comum e procure um lugar onde possa respirar fundo e estimular pensamentos positivos por alguns minutos.
Não se esqueça que a raiva que está a sentir, por mais legítima, é sua.
Guarde-a ou extravase-a de outra forma. Mais tarde, de cabeça fria, aborde o assunto e explique o que o deixou furioso, sublinhando que não pode aceitar determinado tipo de comportamento.
Pais são modelos dos filhos. Cuidado!
Se o seu filho agiu de forma indisciplinada, lembre-se que "disciplina" significa orientação e esta será mais eficaz quando lhe passar a fúria. É um trabalho dos pais serem modelos dos filhos, mostrando-lhes como lidar com as emoções de maneira construtiva. Isso significa nunca agir sob o domínio da raiva.
É saudável exteriorizar a raiva?
Desde que não seja com outra pessoa, sim. E é saudável reconhecer essa raiva e ter coragem de identificar o que ela está a esconder: mágoa, medo, tristeza, desapontamento. «Se você se permitir sentir essas sensações, sem lutar contra elas, a pouco e pouco começam a desaparecer.»
Mas, é ou não suposto dar uma lição ao seu filho?
Sim, mas a raiva não é a lição mais adequada. Acalme-se e mais tarde explique à criança que ela se comportou de forma errada e que isso o deixou triste. Aproveite para falar no esforço que fez para se conter e, assim, estará a ensinar-lhe a importância do autocontrolo. E pode castigá-la, sim, mas de forma racional e proporcional à asneira que a criança cometeu.
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