A família deve não apenas sobreviver mas também renovar-se para permanecer um quadro rico onde os seus membros encontrem impulsos necessários à sua dupla necessidade de pertença e individuação.
A entrada de um novo membro na família por meio da adoção é uma possibilidade de transformação nas relações familiares nucleares, mas também com a família extensa. A integração de uma criança traz muitas vezes mudanças nas relações sociais. As relações estabelecidas nem sempre acontecem de modo positivo, mas importa salientar que também na integração de um novo membro na família é importante estar preparado para a mudança.
A relação é construída entre todos(as), através de gestos, palavras, interações, compreensão, tolerância, porque sabemos que não é o laço sanguíneo que nos assegura a autenticidade, a espontaneidade e o afeto na família. A rede de apoio familiar e social (amigos/as e colegas de trabalho) é um contributo indispensável nesta construção. Alguns estudos apontam para que as transformações sejam maioritariamente positivas, diversos conflitos podem ser solucionados e acontecem por vezes reaproximações.
Este engrandecimento das relações proporciona à família o apoio na adaptação e reorganização de papéis e funções que podem ser novas, se estivermos a falar de um(a) primeiro(a) filho(a). Se o processo de estabelecimento de papéis e funções for sólido e coerente, mais facilitador será o vínculo entre a criança e a sua nova família.
As famílias adotivas podem eventualmente ter menos apoio na sua decisão e posteriormente na sua parentalidade (porque esta não é considerada a forma convencional de família). É um desafio a construção da maternidade e da paternidade que exige equilíbrio, maturidade, flexibilidade e muito desejo de fazer parte dos momentos de vivência da partilha do ser, de todas as partes envolvidas para que a dinâmica familiar se manifeste adequada.
A família adotiva começa a existir a partir do instante em que a relação de vinculação e a construção de laços afetivos se evidenciam. E é muito importante que todos(as) os(as) envolvidos(as) estejam muito ativamente a investir neste processo.
O processo de adoção pressupõe o encontro de duas partes distintas que vivenciaram realidades diferentes e quando se “olham”, pretende-se que se ajustem expectativas, os pais e as mães devem ter a capacidade de se colocar no lugar da criança e não apenas aguardar que a criança se adapte. Estas questões têm aspetos particulares, dependendo das características dos pais/mães e filho(a). A idade da criança também é uma variável que pode interferir com o tempo e a facilidade de adaptação da nova família.
Para que esta transição seja um sucesso, a família deve dar tempo à criança e compreender as suas dificuldades em se comportar dentro do que é esperado, uma vez que as suas vivências têm diferentes regras e padrões de comportamento. É muito importante que os(as) pais/mães adotivos(as) respeitem e aceitem a sua história de vida para criarem um sistema familiar que incorpore aspetos das experiências de vida de todos os indivíduos.
As famílias questionam o tempo para que a adaptação possa considerar-se como positiva, mas o essencial é que a relação se consolide, sem que haja recuos, ou seja, que ocorra num sistema evolutivo e que no tempo que seja necessário exista com segurança e confiança para que o equilíbrio na relação permita que a família seja saudável.
Sandra Helena
Psicóloga Infanto-Juvenil
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