Desde o início da pandemia, que o nosso dia a dia mudou radicalmente. Somos a toda a hora confrontados com uma multiplicidade de números; números de infetados, de recuperados, de internados, de mortes, tanto ao nível nacional como também à escala mundial. Ao longo da fase de confinamento, sentíamos um certo alívio ao perceber que, ao nível nacional, os números seguiam, de forma geral, uma tendência decrescente, o que nos ajudou a serenar as nossas preocupações e receios relativamente ao vírus. Sentíamos de certa forma, uma mistura de orgulho e de alegria por perceber que as medidas tomadas surtiram efeito.
No entanto, o mês de setembro é definitivamente o mês do desconfinamento para todos. As crianças e jovens vão regressar às escolas, os adultos vão regressar ao trabalho de forma presencial. Tudo isto assusta-nos e os números vêm reforçar os nossos receios e intensificar a nossa ansiedade.
A verdade é que os números irão aumentar. Esta é a realidade, a nossa realidade atual. É precisamente desta forma que devemos encarar esta fase da nossa vida, como sendo “a realidade atual”. Aceitar a situação. De nada vale tentar negar ou encontrar teorias que refutem os perigos e/ou consequências desta pandemia. No meu entender é perda de tempo e perda de energia.
Este processo de aceitação pode ser difícil, por isso é necessário manter-se informado. Procurar fontes credíveis como a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou, ao nível nacional, a Direção Geral da Saúde (DGS). Nestas duas fontes encontra toda a informação que realmente importa. Não se esqueça, tudo o que é em demasia é mau. Recolher uma avalanche de informação proveniente de várias fontes só prejudica e deixa-nos ainda mais inseguros.
Posto isto, é necessário retomar a rotina com algumas nuances, como é evidente, mas não devemos, nem podemos parar. Ficar à espera de que tudo isto passe não é a solução. Neste caso, a máxima “a vida continua” nunca foi tão assertiva.
O nosso dia a dia poderá eventualmente ser caracterizado por algumas oscilações emocionais entre sensações de calma, de ansiedade e medo perante o desconhecido. É importante conseguir gerir estas emoções, racionalizando-as e percebendo que estamos todos a viver a mesma situação. Contudo, se apesar de todos os esforços, não conseguir controlar os pensamentos, medos e sensações, recomenda-se que procure ajuda de um profissional de saúde, de um psicólogo, que o irá ajudar a ultrapassar as suas dificuldades.
É conhecido que o bem-estar dos colaboradores impacta na saúde da empresa. Neste momento, as diretrizes transmitidas principalmente pela DGS devem ser respeitadas. Neste sentido e com intuito de diminuir a ansiedade antecipatória do regresso ao trabalho, é fundamental que o colaborador tenha conhecimento prévio das medidas de contingência adotadas pela empresa, bem como das medidas de proteção individual, preparando-se mentalmente para a nova rotina no contexto laboral.
De salientar que neste momento, o regresso ao trabalho nunca será algo muito pacífico e tranquilo. Por ser um processo de readaptação, as primeiras semanas poderão ser mais stressantes. Os comportamentos e normas de segurança estarão sempre muito presentes nos pensamentos, como se a mente estivesse sempre atenta para não errar ou falhar no cumprimento dos mesmos. Contudo, felizmente, a repetição cria o hábito e talvez, após algum tempo, toda esta rotina tornar-se-á o “novo normal”.
De notar que é importante saber distinguir o stress da ansiedade. A maior parte dos colaboradores irão sentir algum stress no momento do regresso ao trabalho. Este stress é caracterizado por alguns receios, algumas preocupações perante a “novidade”, mas que ao longo do dia e das semanas irá atenuar. Falamos de ansiedade quando existem sensações físicas que perturbam o nosso funcionamento. O coração acelerado, as mãos suadas, as insónias, são alguns dos sintomas da ansiedade. Caso experiencie algumas sensações de ansiedade, tente estar atento à frequência e intensidade das mesmas. Se porventura, com o tempo, as sensações teimarem em não desaparecer, é importante recorrer à ajuda de um profissional de saúde.
Por norma, o regresso às aulas representa um momento repleto de emoções quer seja para as crianças e jovens como também para os pais. O mês de setembro tem, para a maior parte das famílias, uma conotação melancólica. O fim das férias de verão, o regresso à rotina e às responsabilidades do dia a dia, exigindo um esforço de (re)adaptação por parte de cada um.
Sentir ansiedade é perfeitamente normal e esperado neste período de transição e/ou de mudança. Contudo, este novo ano letivo revela-se ainda mais desafiador. Os pais podem sentir-se presos num conflito interno entre o medo do desconhecido e os factos. Isto é, entre as preocupações e medos do vírus e a importância da retoma da atividade escolar de forma plena e dos seus benefícios no desenvolvimento das crianças e jovens. Contudo, é importante lembrar que os cenários criados na nossa mente, impulsionado pelos medos, são sempre os mais negativos possíveis e que raramente correspondem à realidade.
Uma forma de combater os pensamentos disruptivos é manter-se informado, conhecer por exemplo, o plano de contingência da escola, perceber como vai ser o funcionamento da mesma, tudo isto irá ajudar a diminuir a ansiedade associada ao regresso às aulas. Os filhos conseguem sentir quando os pais ou cuidadores estão mal, tente ter uma boa gestão das suas emoções e fomente um ambiente de segurança permitindo uma comunicação serena e aberta que permita às crianças e jovens sentirem-se à vontade para expressar as suas preocupações e/ou dúvidas.
Seguem algumas dicas para minimizar a ansiedade do regresso às aulas nas crianças e jovens:
- Transmita confiança: As crianças e jovens refletem muitas vezes o estado emocional dos seus cuidadores/pais. Mantendo uma atitude calma e serena perante o regresso às aulas, ajudará as crianças e jovens a sentirem-se mais tranquilos.
- A criança deve ajudar a comprar o material escolar: Deixe que a criança faça parte do processo de aquisição do material escolar. Nem que seja escolher a cor do caderno ou da mochila. Este processo é importante para ajudá-la a consciencializar-se que o início do ano letivo está cada vez próximo.
- Rotina de horários: É conveniente que a criança tenha horários de deitar e acordar. O sono é fundamental para o nosso pleno funcionamento (cognitivo e físico).
- Atenção aos sinais de ansiedade: Ter em atenção o aparecimento de alterações comportamentais nas crianças. Apesar de não conseguirem expressar de forma plena o que sentem, as suas emoções são projetadas nas suas atitudes e formas de ser e de estar. A melhor forma de lidar com esta ansiedade é fomentar uma comunicação aberta, ouvindo os medos e receios da criança e ajudando-a a ultrapassar o seu desconforto.
Um artigo da psicóloga e psicoterapeuta Cécile Domingues, diretora da Clínica da Mente.
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