Com base na imagem de uma ressonância magnética do cérebro humano, a campanha desenvolvida pela Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) pretende dar imagem à vergonha, emoção comum nas vítimas, e que tal como a violência doméstica permanece, muitas vezes, invisível.
De acordo com os dados disponibilizados, entre 2013 e 2015 a APAV registou 22.373 casos de violência doméstica, sendo que a maior incidência se registou no ano passado com 7.864 processos.
Em termos de género, as mulheres são as mais afetadas, ocupando o papel de vítima de 80% dos casos. Mas a verdade é que o sexo masculino apesar de não ser tão noticiado também é vítima de violência doméstica.
Entre 2013 e 2015 foram registados 1.240 casos de violência doméstica em homens adultos. Um número preocupante se tivermos em conta o aumento de 14,4% verificado de 2013 (395 casos) para 2015 (452 casos).
“Sabemos que estatisticamente as mulheres ainda são mais vítimas deste crime do que os homens, mas aquilo que temos vindo a reparar nos nossos números é que entre 2013 e 2015 houve um aumento de quase 15% de denúncias de homens adultos vítimas de violência doméstica junto dos nossos gabinetes de apoio à vítima”, adiantou Daniel Cotrim, assessor técnico da direção da APAV, à agência Lusa.
Os casos de violência doméstica nos homens têm características específicas, que os distinguem da violência doméstica nas mulheres, já que são situações em que impera a violência psicológica. Os casos com mais denúncias recaem sobre maus tratos psíquicos (38,2%) e físicos (25%), mas a verdade é que o sexo masculino também é alvo de ameaças/coação (16,4%) ou injúrias/difamação (11,6%) por parte dos cônjuges, identificados com o principal agressor em e56% parte dos casos.
Consoante o perfil traçado, a vítima do sexo masculino tem mais de 65 anos idade (27,6%), tem uma situação profissional estável (29,8%) e com residência na região de Lisboa (18,9%), Porto (15,2%) e Faro (12,1%).
Por outro lado, o agressor é maioritariamente do sexo feminino (60,8%), empregado (25,5%) e com idades compreendidas entre 35-54 anos (32,2%).
Daniel Cotrim explicou que o mote da campanha é falar daquilo que muitas vezes impede os homens de apresentarem queixa quando são vítimas de violência doméstica: a vergonha.
“Sobretudo trabalhar esta questão e sensibilizar para as questões do medo e da vergonha, que surgem como principal barreira ao primeiro pedido de ajuda. O silêncio é uma grande arma que está do lado da agressora, na grande maioria das situações”, apontou.
O assessor técnico da APAV frisou que a lei portuguesa não tem género e não discrimina quem quer denunciar situações de violência doméstica, apoiando tanto homens como mulheres. O número de casos de homens que denunciam ainda é baixo, mas lembrou que o mesmo aconteceu com a violência doméstica no feminino, defendendo que é “preciso fazer alguma coisa abertamente”, dar apoio e mostrar que as associações já estão preparadas para prestar apoio aos homens vítimas de violência doméstica.
“É preciso que os homens se libertem deste peso do medo e da vergonha de pedirem ajuda, de terem medo de serem humilhados, de que não acreditem neles junto das autoridades ou das instituições. Felizmente muito se avançou e muito se aprendeu relativamente a estas questões”, defendeu.
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