Dirigido por Ricardo Correia, o espetáculo procura refletir sobre a forma "como a sociedade se estrutura, de maneira a que essas coisas se repitam", e sobre como os papéis de género podem influenciar ações de agressão e de submissão, em que "o homem acha que está autorizado a repetir padrões de violência e de controlo", contou à agência Lusa a atriz Sara Jobard.

A peça resulta do projeto de doutoramento que Sara Jobard está a fazer na Universidade de Coimbra, sobre teatro documental, e parte de cerca de 40 testemunhos de violência doméstica que recolheu, 11 dos quais com entrevista gravada em áudio.

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Surgiu depois um trabalho de colagem das diferentes frases desses relatos dados por mulheres brasileiras e portuguesas, centrando-se em monólogos a partir dos testemunhos recolhidos, explicou.

"Há muitas frases que se repetem e muitas histórias que são cíclicas", constatou Sara Jobard, sublinhando que é normal encontrar-se repetido o ciclo de "romance, ciúmes, depois ameaças, insultos, violência psicológica e agressão física e depois volta-se ao romance e tudo se repete de novo".

No palco, Sara Jobard e Beatriz Wellenkamp Carretas vão procurar repetir as cadências e formas de falar de cada uma das mulheres retratadas, num espetáculo que vive dentro de "quatro paredes", por ser num contexto de intimidade que tudo acontece.

"Vamos ao lugar onde não se pode entrar - à casa de cada uma. E o nosso cenário são caixas de mudanças, de cartão, que se vão transformando em móveis de casa, para construir a ideia de uma casa que está sempre em mudança - construída e reconstruída -, porque as mulheres também saem e depois voltam e há sempre essa história de mudança", notou Sara Jobard.

A entrada para a estreia do espetáculo no TAGV custa entre cinco a sete euros.

Depois da apresentação em Coimbra, Sara Jobard pretende levar o espetáculo a outros lugares, nomeadamente a associações que trabalham com mulheres vítimas de violência doméstica.