A Fundação Calouste Gulbenkian recebeu a 20 de fevereiro, o 2º Seminário de Oncologia Pediátrica, uma iniciativa da Fundação Rui Osório de Castro, instituição de solidariedade social sem fins lucrativos que apoia a oncologia pediátrica nas áreas da informação e da investigação científica.
O evento contou com cerca de 120 participantes interventivos nos debates, mais do dobro das participações do seminário anterior, sendo que cerca de 20% eram pais ou familiares de crianças com doença oncológica, que originaram maior esclarecimento sobre a doença pediátrica, impactos e mensagens positivas de confiança nos profissionais de saúde e trabalhos realizados em Portugal.
No decorrer do seminário foi ainda apresentada a 1ª edição do Prémio Rui Osório de Castro / Millennium bcp. No valor de 15 mil de euros, esta atribuição pretende distinguir projetos capazes de incentivar e promover a melhoria dos cuidados prestados às crianças com doença oncológica.
O primeiro painel foi dedicado ao tema “Cancro na Criança – é possível prevenir?” onde o Dr Armando Pinto, do IPO do Porto, falou sobre dados e causas prováveis do cancro na criança, sempre com o reforço de que esta é uma doença que não pode ser prevenida e que entre as causas mais prováveis estão as extrínsecas (poluição, pesticidas ou radiação, por exemplo); intrínsecas (idade, etnia, raça ou peso no nascimento, por exemplo) e genéticas.
Em diferentes faixas etárias incidem mais diferentes tipos de cancros – abaixo dos 5 anos a maior prevalência é de Neuroblastomas enquanto, em idades acima dos 10 anos, registam-se mais os cancros ósseos. Nos cancros de melhor prognóstico (como os Linfomas) a taxa de sobrevivência supera os 80%, enquanto nos cancros de pior prognóstico (todos os do Sistema Nervoso Central, Ósseos e Neuroblastomas) a taxa ronda os 60%.
O segundo painel focou “A Vida para Além da Doença” onde a intervenção da Dra Maria de Jesus Moura, da Unidade de Psicologia do IPO de Lisboa, recaiu sobre o impacto psicossocial do cancro numa família: a necessária e, nem sempre fácil, comunicação entre o casal, com os irmãos, com os profissionais de saúde e com a própria criança, as emoções e a aceitação normais às várias fases de adaptação a uma situação de crise como é o surgimento de um cancro num dos elementos da família.
Outro tema abordado com a Dra Alexandra Paúl, do Hospital Pediátrico de Coimbra, foi o regresso à escola, nem sempre fácil, mas que poderá ser suavizado com a existência e envolvência de professores nos vários serviços de oncologia pediátrica do país mas também pela envolvência dos professores destas crianças das escolas que frequentavam antes de iniciar os tratamentos.
O debate foi também marcado pelos testemunhos positivos, generosos e de muito amor de mães que viveram com a doença.
“Prestação de Cuidados Integrados” foi outro dos temas que contou com a intervenção da Enfermeira Filipa Rodrigues, do Serviço de Pediatria do IPO de Lisboa, que abordou o tratamento fora do hospital e a importância da articulação do hospital com centros de saúde, hospitais e com as próprias famílias, a fim de facilitar e melhorar a qualidade de vida das crianças e das suas famílias evitando um internamento mais demorado ou que despendam de muito tempo com deslocações ao hospital. Neste momento, apenas 26% das crianças em tratamento têm apoio na comunidade.
A segunda intervenção coube ao Enfermeiro André Silva, da UMAD do Hospital de São João, que explicou a experiência da Unidade Móvel de Apoio Domiciliário – um projeto de prestação de cuidados ao domicílio constituído por médicos, enfermeiros e assistente social que promove um acompanhamento diário dos pacientes em casa. Ainda no apoio ao domícilio, mas ao nível emocional, Patrícia Caldeira Pinto, da Acreditar, apresentou a Equipa Arco-íris, uma unidade de voluntários que presta apoio num amplo conjunto de necessidades que surgem originárias do dia a dia – apoio emocional aos pais, apoio nos estudos, criação de momentos de lazer e brincadeira, facilitação de ligação entre outros serviços de apoio, por exemplo.
No painel “Ensaios Clínicos e Investigação”, o Dr Ximo Duarte, do IPO de Lisboa, apresentou os ensaios clínicos que estão a ser realizados em Portugal e debateu um pouco sobre o nível de exigências da realização destes estudos bem como alguns desafios existentes – falta de financiamento, falta de infraestruturas adequadas, falta de profissionais completamente dedicados às investigações são três das principais falhas a apontar.
Neste sentido, e com o objetivo de ser um contributo para o avanço no conhecimento da área da oncologia pediátrica, o seminário foi ainda marcado pela apresentação do Prémio Rui Osório de Castro / Millennium bcp. O envolvimento da Fundação Millennium bcp foi explicado pelo seu Presidente, Fernando Nogueira, que acredita nesta atribuição como um apoio à progressão do conhecimento e regressão da doença, oferecendo maior esperança a crianças e pais e realização profissional aos profissionais de saúde oncológica.
O prazo de submissão das candidaturas inicia a 01 de junho e termina a 30 de outubro 2016. Em fevereiro de 2017 é apresentado o projeto vencedor. Os interessados poderão consultar o regulamente em www.froc.pt.
O Seminário de Oncologia Pediátrica existe como uma plataforma de sensibilização e debate para o cancro infantil – primeira causa de morte não acidental na população infantojuvenil, com cerca de 350 novos casos a surgirem em Portugal.
O 2º Seminário de Oncologia Pediátrica marcou o encerramento da Semana Dourada, iniciativa da Acreditar e da Fundação Rui Osório de Castro que teve como objetivo de assinalar o dia internacional da criança com cancro (15 de fevereiro) e sensibilizar a comunidade em geral para a causa dinamizando uma série de actividades de norte a sul do país.
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