Nos últimos anos, o bullying tem vindo a ser uma das problemáticas mais estudadas, especialmente em contexto escolar, o que tem contribuído para despertar a preocupação e o interesse dos agentes educativos perante este fenómeno comportamental. Atualmente, o conceito de bullying é conhecido e utilizado no dia-a-dia por quase todas as pessoas quando se referem a comportamentos agressivos.
No entanto, apesar da sua “popularidade”, este conceito ainda é associado a situações que não representam bullying, pela sua definição. Deste modo, antes de falarmos sobre combater esta problemática, sinto necessidade de, em linhas muito gerais, esclarecer este conceito: o bullying é um comportamento de agressividade intencional, repetido, que apresenta um desequilíbrio de poder e que ocorre entre pares (como por exemplo, colegas inseridos num mesmo contexto).
Não podemos exigir menos comportamentos que revelem intolerância e necessidade de poder às crianças e jovens quando os seus contextos incitam a essas atitudes
Quando falamos de bullying e de ações que combatam este fenómeno devemos ter em conta não só medidas de curta duração e de intervenção, mas medidas preventivas que possam de facto ter impacto nas pessoas que envolvem. As inúmeras ações de sensibilização dirigidas aos estudantes, bem como aos seus encarregados de educação e professores, são importantes, sim, mas por si só não bastam para combater esta problemática. As entidades educativas devem apostar numa abordagem sistémica e a longo prazo, que envolva todos os agentes educativos presentes nas vidas das crianças e jovens.
Além disso, é indispensável considerar de que forma incentivamos a individualidade, competição e a busca da perfeição às nossas crianças e jovens. Para que os comportamentos pautados pela agressividade diminuam, necessitamos urgentemente de criar condições para que exista um ambiente de maior entreajuda, compreensão e aceitação do próprio e dos outros e de criar um ambiente de empatia, valorizando os seus benefícios.
A alteração de um comportamento não ocorre se não existir motivação e compreensão dos benefícios de mudar esse comportamento. Não podemos exigir menos comportamentos que revelem intolerância e necessidade de poder às crianças e jovens quando os seus contextos incitam a essas atitudes. Devemos perguntar-nos de onde surgem os comportamentos agressivos e de que forma se expressam. Desde cedo, as crianças devem compreender as suas emoções, saber geri-las e aceitá-las, tendo essa mesma atitude perante as emoções dos outros. As crianças devem reconhecer as suas características individuais e as dos outros e aprender a respeitar e valorizar essas diferenças. E devem compreender o impacto das suas ações nos que os rodeiam.
É essencial incentivar e capacitar as nossas crianças e jovens
Quando refletimos acerca de formas para intervir no bullying é importante considerar todos os seus intervenientes e não apenas o autor e o alvo do comportamento. Então e o papel dos bystanders? Aqueles que veem, assistem e nada fazem. É essencial incentivar e capacitar as nossas crianças e jovens a adotar um papel ativo no seu contexto e, ao promover um ambiente de empatia, fazemos precisamente isso: quando nos colocamos no lugar do outro e compreendemos o que ele sente, conseguimos ver alguém a sofrer e virar as costas porque não é nada connosco? Não, não conseguimos.
As escolas, num trabalho conjunto com os encarregados de educação e toda a comunidade, devem formar as crianças e jovens para “saberem ser” consigo próprios e com os outros, devem contemplar o desenvolvimento pessoal e social dos seus alunos e criar uma cultura de empatia. Esta é a forma mais eficaz de combater a violência.
Um artigo de opinião da psicóloga Andreia Nogueira, responsável pelo projeto "Escolas de Empatia", promovido pela associação Par-Respostas Sociais.
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