A reprodução em quatro painéis táteis em gesso, que vai permitir aos deficientes visuais "ver" a obra do século XVI exposta no Museu da Santa Casa, nasceu, segundo a diretora da escola Ana Mestre, "de uma proposta lançada por uma docente", no âmbito das escolas solidárias da Fundação EDP.
"Este projeto vai permitir dar informação cultural a outro tipo de públicos", disse à Lusa Ana Mestre sobre a iniciativa da professora Teresa Mendes que, na escola profissional onde leciona, envolveu alunos provenientes do ensino secundário, com idades entre os 16 e 19 anos.
Teresa Mendes explicou que na colaboração com o grupo de invisuais está a ser feita a "sintetização de uma proposta de quatro painéis de acessibilidade gradual à informação que a pintura quer transmitir, sendo que os três primeiros são uma desconstrução do último".
"Adotar esta metodologia de acessibilidade gradual é importante", frisou a docente sobre a interação com os formandos do Centro Integrado de Apoio ao Deficiente (CIAD) da Santa Casa, procurando privilegiar as texturas escolhidas por estes em detrimento de outras que para eles "possam constituir ruído".
Ao todo, serão utilizadas "nove texturas para representarem aspetos como o metal, a pedra, o sangue, o cabelo, a nuvem ou o céu", acrescentou, reiterando que as escolhas partem sempre dos "operadores gráficos de braille do CIAD" que, ao receber as propostas, "avaliam se se assemelha ao que imaginam está representado no quadro".
Para a coordenadora do projeto Diana Monteiro esta iniciativa "melhorou a sensibilidade de alunos" que vêm de "percursos escolares complicados" e cujo nível de envolvimento, acrescentou a professora Teresa Mendes, fez até que "a turma traduzisse de inglês para português o dossiê para a preparação dos painéis".
O projeto dura desde novembro de 2016 e decorre em horário escolar, representando para Ana Mestre "muita aprendizagem" para uma instituição com "tradição de trabalho na área da inclusão".
Tiago Vidinha é um dos "consultores" que semanalmente "interpreta as texturas" que os alunos partilham com os formandos operadores gráficos de braille, tendo afirmado à Lusa ser este "um projeto de enorme importância".
Considerando a obra Fons Vitae "muito importante", o jovem lembrou que "quem a vê consegue-a interpretar”. E acrescentou: “nós, os cegos, para lá chegarmos, será sempre a partir de outros".
"Estamos a dar a nossa opinião sobre como ficaria melhor o quadro, quais são as texturas mais indicadas", disse Tiago Vidinha sobre um projeto que "está a correr muito bem e que, com este desenvolvimento, está a ficar uma obra muito boa".
Segundo Ana Mestre, uma vez concluída, "a obra ficará exposta no museu da Santa Casa, pois a ideia é que possa ser visitada por turistas com estas características ou por outras pessoas".
Comentários