Ocupam espaço e ganham pó – mas vale a pena tê-los. E mantê-los. Um estudo da Universidade Nacional da Austrália divulgado recentemente revela que crescer numa casa com pelo menos 80 livros potencia o desenvolvimento cognitivo e diminui o risco de abandono escolar.

Os autores da pesquisa, liderada pela australiana Joanna Sikora, pediram a 160 mil adultos (homens e mulheres entre os 25 e os 65 anos) oriundos de vários países que tentassem lembrar-se de quantos livros tinham em casa aos 16 anos e submeteram-nos a testes de literacia, cálculo, informação e comunicação para avaliar as suas habilidades. Embora o número médio de livros de uma biblioteca doméstica diferisse de país para país – de 27 na Turquia a 143 no Reino Unido ou a 218 na Estónia – “os efeitos do tamanho da biblioteca na alfabetização revelaram-se evidentes em todos os locais”, como explicou Joanna Sikora num artigo publicado na revista Social Science Research e citado pelo jornal The Guardian.

“A exposição dos adolescentes a livros é uma parte integrante das práticas sociais que promovem competências cognitivas de longo prazo”, defendeu a mesma especialista, sublinhando que “crescer numa com uma biblioteca razoável aumenta as competências dos adultos” a diversos níveis.

Adolescentes que não tinham livros em casa – ou que tinham poucos – revelaram níveis de literacia abaixo da média; os que cresceram com aproximadamente 80 livros conseguiram atingir os níveis médios. De acordo com a mesma pesquisa, as pessoas com níveis mais baixos de educação secundária, mas que cresceram numa casa repleta de livros, revelaram-se mais aptas em termos de alfabetização, numeração e tecnologia do que universitários que cresceram com meia dúzia de livros. Nesta linha, os universitários que cresceram com poucos livros apresentavam níveis de alfabetização dentro da média. Já os que abandonaram a escola aos 13 a 14 anos, mas que cresceram rodeados de livros, mostraram competências acima da média, provando que “uma adolescência alfabetizada contribui para o sucesso educacional”.

Joanna Sikora explicou: “A exposição precoce aos livros é importante porque estes acabam por tornar-se parte integrante da rotina, ajudando a melhorar as competências cognitivas ao longo de toda a vida”.

O artigo levantou a possibilidade de o crescimento do mundo digital poder reduzir o impacto dos livros impressos, mas, por enquanto, crê-se que os efeitos benéficos das bibliotecas das famílias se mantêm em diferentes sociedades, sem sinais de diminuição ao longo do tempo. Mais: “Está provado que o tamanho da biblioteca está claramente associado a níveis mais elevados de competência digital”.

Para saber mais:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0049089X18300607