A situação é comum, mas continua a deixar a maioria dos adultos constrangida. Falamos de sexualidade infantil precoce, um tema tabu que leva alguns pais a procurarem a ajuda de especialistas.
À revista Veja a psicóloga Rosely Sayão explica que, a partir dos cinco anos de idade, as crianças começam a estabelecer os primeiros contatos sexuais através de brincadeiras, sendo que antes podem mostrar interesse nos genitais de outras crianças (ou dos pais) e fazer aquele tipo de perguntas que deixa os adultos nervosos. “É aos cinco anos que a criança começa a explorar o corpo em busca de situações de prazer”, defende a especialista.
Um pouco mais tarde, entre os seis e sete anos, a energia sexual sofre aquilo a que psicóloga chama “processo de derivação”. “É quando a criança passa a dirigir a sua energia para a aprendizagem da sexualidade”.
Num extenso artigo do site Psicologias do Brasil, a psicóloga clínica Marciane Sossmeier traduz o receio dos educadores: “Incapazes de discernir as diferenças entre a sexualidade da criança e a do adulto, os pais temem que os filhos exibam comportamentos de natureza sexual. E é através do modo como eles – adultos – apresentam a sexualidade à criança que ela constrói as suas crenças acerca disso”, percebendo o sexo “como agradável ou indecente”.
O problema é que, “pressionados pela repressão de que foram alvo no passado, os pais acabam por punir ou censurar os filhos em vez de tentarem explicar-lhe o tema”. Sossmeier ressalva que “é importante perceber que a criança não se excita como o adulto”. “A masturbação infantil é uma experiência exclusivamente sensorial, onde a criança sente prazer com o corpo. O que acontece é que quando toca nos genitais, o seu corpo responde a um estímulo físico que desencadeia uma sensação agradável, sem a presença das fantasias eróticas comuns ao adulto.”
Ao explorar o corpo, “a criança vai encontrar zonas erógenas, através das quais experimentará uma sensação de prazer que quererá repetir. É normal e saudável que perceba e se interesse pelo corpo humano, assim como por tantas outras coisas que a rodeiam”, diz a psicóloga brasileira.
Sossmeier defende que, às vezes, os pais têm de intervir. “Se a situação se tornar demasiado constrangedora, uma boa estratégia é desviar a atenção da criança para algo de que ela goste. E por se tratar de uma questão íntima, a conversa deve ocorrer em ambiente privado, cabendo ao adulto “explicar que apesar de não serem coisas feias, essas experiências devem fazer-se a sós”, porque o corpo da criança é só dela. Também assim “se ensinam os conceitos de privacidade e proteção”.
Relativamente a questões embaraçosas, “é importante responder apenas ao que foi perguntado, com uma linguagem acessível e clara”. Já sobre a clássica brincadeira de pai e mãe, talvez seja útil usar algum material de apoio. “As crianças brincam sem estarem presas aos conceitos de diferença de sexo e ignorando conotação erótica. Nesse tipo de brincadeira, o que elas fazem é investigar os corpos de bonecas para perceber as diferenças físicas entre rapazes e raparigas”. Por curiosidade, “até podem querer ver o sexo do amiguinho. É interessante mostrar figuras apropriadas à idade, explicar a anatomia de cada sexo e ensinar a máxima do respeito pelo corpo do outro”.
A psicoterapeuta brasileira Verónica Esteves de Carvalho deixa alguns conselhos para os pais:
- As conversas sobre sexualidade devem ser o mais naturais possível. Nesse sentido, os pais devem abstrair-se ao máximo das conotações eróticas próprias dos adultos.
- Julgamentos e preconceitos, sempre que possível, devem ser deixados de lado para que a sexualidade não seja um tabu.
- Deve ensinar-se à criança noções de privacidade, do que é público e do que é privado – e até onde ela pode ir com o seu corpo e com o corpo do outro.
- É fundamental respeitar a privacidade da criança quando ela revela vergonha ou desconforto perante a sexualidade.
- A criança não deve ser exposta à sexualidade dos adultos (seja no banho, no quarto com os pais ou com os irmãos mais velhos, na televisão, etc). Estes estímulos geram precocidade e deixam-nas vulneráveis.
- Existe um limite entre o que é natural e o que pode exceder o comportamento característico de cada fase da vida sexual. Se a criança se masturbar frequentemente ou tentar ser tocada nos genitais, se mostrar interesse excessivo por questões sexuais, se repetir cenas sexuais de conteúdo adulto ou, pelo contrário, não revelar qualquer interesse pela sexualidade humana, isso pode ser um sinal de alerta.
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