A intolerância à lactose é a incapacidade do organismo em digerir lactose, um açúcar existente no leite e nos seus derivados. Este distúrbio intestinal, de acordo com a pediatra Mónica Pinto, "resulta da falta de uma enzima, a lactase, que é responsável pela degradação da lactose no intestino delgado". "Ao chegar ao cólon intacta, a lactose provoca gases, diarreia, dor abdominal e náuseas", esclarece a especialista.
Apesar de ocorrer "mais na idade adulta", segundo a National Digestive Diseases Information Clearinghouse (NDDIC), um organismo de saúde norte-americano afeto a um outro, o National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases (NIDDK), "os bebés prematuros são mais propensos a desenvolver esta patologia porque os seus níveis de lactase não aumentam até ao terceiro trimestre da gravidez".
Neste sentido, os pais devem estar atentos aos mais pequenos sinais de alarme e procurar ajuda médica sempre que existirem suspeitas de "diarreia, cólicas, gases ou dor abdominal recorrente", recomenda Mónica Pinto, acrescentando ainda que, no caso dos bebés, "pode verificar-se também o rabinho assado", após a ingestão de leite. Uma situação que muitos pais, menos informados, tendem, por vezes, a desvalorizar.
Quais são as causas da intolerância à lactose na infância?
Pode dever-se à falta congénita da enzima, a lactase, o que é raro, ou a situações que causam lesão intestinal como uma gastroenterite aguda, uma diarreia crónica ou uma parasitose que, ao lesar a mucosa, resultam num défice transitório de lactase, secundário à lesão.
Que consequências, a curto e longo prazo, pode provocar no organismo?
Pode causar dor abdominal recorrente, diarreia crónica ou fezes ácidas, causando feridas nas nádegas. Pode, ainda, fazer com que a criança recuse a ingestão de leite uma vez que provoca náuseas, dor e mal-estar e, consequentemente, reduzir o aporte de cálcio e provocar má progressão estaturo-ponderal.
Durante a infância, em que idade é mais frequente ocorrer a intolerância à lactose?
No primeiro ano de vida, pode manifestar-se devido a causas congénitas ou após diarreia a rotavírus, uma vez que a mucosa é mais imatura e pode demorar mais a recuperar da lesão. Além disto, é frequente na criança mais velha e no adolescente uma vez que surge de forma insidiosa à medida que vai diminuindo a capacidade de degradação da lactose.
Que crianças são mais propensas a sofrer de intolerância à lactose?
As crianças com patologia intestinal ou filhas de pais com intolerância à lactose.
Como é feito o diagnóstico?
Através de uma avaliação clínica, do pH das fezes e nas crianças maiores pelo teste de H expirado. Se a história é sugestiva o que se faz é uma prova de evicção e se os sintomas desaparecem assume-se o diagnóstico.
Uma criança com intolerância à lactose será, necessariamente, um adulto com este problema?
Não necessariamente, porque já vimos que pode ser transitório mas, em muitos casos em que não há um desencadeante, pode persistir na vida adulta.
Uma vez detetada a intolerância à lactose, que cuidados devem os pais ter?
Pode ser necessário recorrer a dieta de evicção, usando produtos que não tenham lactose mas tendo o cuidado de manter um bom aporte nutricional e de cálcio. Os alimentos ricos em lactose podem ser mal tolerados, como o leite, queijos frescos, gelados de leite e por aí fora...
Na realidade, a dieta é definida pelos sintomas que evocam os alimentos. O iogurte e queijos curados têm menos quantidade de lactose e, se forem tolerados, se não derem origem a sintomas, podem ser ingeridos. Já existem no mercado produtos específicos sem lactose, nomeadamente leite.
Texto: Claúdia Vale da Silva com Mónica Pinto (pediatra)
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