Tem um filho pequeno ou adolescente que anda sempre a mil à hora e com a cabeça no mundo da lua? Saiba que está longe de ser caso único! Chegou a colocar a hipótese de que é hiperativo? Com essas características, é possível, mas pouco provável. Apesar de ser cada vez mais comum ouvirmos pais afirmarem que os filhos são hiperativos, os estudos estimam que 3% a 7% das crianças em idade escolar sofrem de perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA), sendo os rapazes os mais afetados.
«Verifica-se um aumento do número de casos diagnosticados, mas não porque a sua frequência aumentou. Existe apenas uma maior sensibilidade das pessoas que lidam com crianças (como pais, professores e técnicos de saúde) para estarem atentos aos vários sintomas» esclarece Mafalda Navarro, psicóloga especializada nesta área. «A perturbação de hiperatividade e défice de atenção afeta entre 5% a 10% cento das crianças em idade escolar, afirmaram já publicamente os coordenadores do Clube PHDA.
Os riscos do rótulo
Não estando ainda hoje totalmente definida pela comunidade científica, acredita-se que na origem desta perturbação estarão fatores como a herança genética e um ambiente propício ao seu desenvolvimento. Trata-se de «uma perturbação psiquiátrica caracterizada por um padrão constante de desatenção, hiperatividade e impulsividade, capaz de comprometer relacionamentos interpessoais e o próprio rendimento escolar», descreve Mafalda Navarro.
Uma criança ou um jovem hiperativo e com défice de atenção está longe de ser, simplesmente, alguém com bichos carpinteiros ou com a cabeça no ar, apesar de estes serem dois dos vários sintomas da PHDA. «É uma perturbação que pode ser confundida com questões próprias do desenvolvimento da criança, ou da sua educação, que poderão ser corrigidas ao longo da adolescência e vida adulta», distingue a psicóloga.
«Uma PHDA mal diagnosticada é um rótulo muito perigoso, que acompanhará a criança durante todo o seu desenvolvimento, podendo até condicioná-lo», esclarece, ainda, Mafalda Navarro, psicóloga especializada nesta área. O diagnóstico é, por isso, essencial e fundamental, até para encaminhar a criança ou o adolescente para o tratamento mais adequado. Um estudo publicado no Journal of Pediatrics diz que a prática de exercício físico pode ajudar.
Como ter a certeza?
Perante a suspeita de pais e/ou educadores, a criança deverá ser avaliada por um neurologista ou psiquiatra. «A recolha de informação segue um protocolo específico, direcionado à criança, aos pais e à escola, que deverá avaliar aspetos neurológicos, neuropsicológicos cognitivos, psicossociais e familiares. Fazem-se variadíssimos testes psicológicos, exercícios de memória, provas de raciocínio matemático e concentração, por exemplo, que nos ajudarão na avaliação», afirma a especialista.
«Mas esta deve ser multidisciplinar, pois necessita da intervenção e apreciação de diferentes técnicos. Em complemento, um psicólogo usará uma bateria completa de testes psicológicos ou neuropsicológicos que complementem a informação recolhida», explica ainda. A importância de um bom diagnóstico é, por isso, fundamental. Uma criança poderá estar apenas excessivamente agitada, por exemplo, devido a uma crise familiar momentânea ou a uma alteração na sua rotina.
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Como enfrentar e tratar o problema
Mafalda Navarro é assertiva. «Apenas se considera preocupante quando as perturbações comportamentais se prolongam por mais de seis meses e se manifestam antes dos sete anos de idade, interferindo no seu quotidiano familiar, social e escolar», defende. Quando o diagnóstico confirma a suspeita, é indispensável que a criança seja tratada, para «não crescer estigmatizada, confundida com alguém que possui um comportamento disruptivo e desafiante».
O tratamento da PHDA, que inclui o uso de medicamentos e o acompanhamento psicoterapêutico, «é fundamental, porque ajuda a criança a lidar com os sintomas», refere. «Para além de que é também necessário fornecer informação aos cuidadores para que possam reestruturar o seu ambiente, reduzindo assim a sua ansiedade», conta ainda a psicóloga.
Um plano terapêutico adequado tem também um papel fulcral no futuro da criança «para que o desempenho escolar e social não venham a ser prejudicados e para minimizar possíveis consequências, como comportamentos agressivos e anti-sociais, perturbação da personalidade, abandono escolar precoce, abuso de álcool e drogas e depressão», justifica a especialista.
O recurso à medicação
Segundo Mafalda Navarro, assiste-se a um aumento do número de crianças que chegam à consulta de psicologia já medicadas pelos pais, algumas delas saudáveis, sem PHDA, uma situação que pode ter consequências graves. «Em alguns casos até com doses excessivas, muito prejudiciais para o desenvolvimento cerebral da criança, e outros em que, feita uma correta avaliação, se verifica que a criança nem sequer é hiperativa», conta a psicóloga clínica.
O tratamento farmacológico só deve ser seguido sob supervisão de um médico (neurologista ou psiquiatra) e ser sempre complementado com psicoterapia. «Os fármacos usados no tratamento da hiperatividade», descreve Mafalda Navarro, «são psicoestimulantes que vão atuar ao nível das sinapses».
«Atenuam a comunicação entre as células do cérebro (neurónios)», esclarece. «Isso permite acalmar a criança e facilitar a sua concentração. Mas o tratamento farmacológico, por si só, não é suficiente, e deve ser sempre complementado com psicoterapia», sublinha, ainda, a especialista.
A família e a escola
Lidar diariamente com uma criança com este distúrbio é extremamente desafiante e cansativo, obrigando a um esforço adicional por parte dos pais e dos educadores. Por isso, é importante que quem cuida dela tenha sempre em mente que os seus comportamentos resultam de uma perturbação neurológica e não da falta de disciplina.
«Nesse sentido, deve ser feito um trabalho exaustivo por parte dos profissionais de saúde junto dos familiares mais próximos da criança, de forma a fornecer-lhes informação adequada para lidar com ela. Os pais, por exemplo, podem ajudar os filhos a concentrar-se e a aprender a adotar comportamentos mais tranquilos e estáveis», assegura a psicóloga.
«Por outro lado, deverá ser fornecida à escola informação para trabalhar com a criança, na medida em que representa, também, um eixo fundamental na sua adaptação. São crianças que precisam, efetivamente, de uma atenção especial», conclui ainda Mafalda Navarro.
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Devo procurar ajuda?
Perturbações no comportamento da criança são motivo de alarme se se prolongam há mais de meio ano e se se manifestam antes dos sete anos, interferindo no quotidiano familiar, social e escolar da criança. Das várias características atribuídas à PHDA, estas são as mais relatadas, pelo que deve procurar ajuda em casos de:
- Agitação
- Irrequietude
- Desorganização
- Imaturidade
- Relacionamento social pobre
- Inconveniência social
- Problemas de aprendizagem
- Irresponsabilidade
- Falta de persistência
- Preguiça
Texto: Paula Barroso com Mafalda Navarro (psicóloga clínica na Clínica da Criança e do Adolescente)
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