A proliferação de imagens da guerra na Ucrânia, de ataques terroristas, tiroteios em escolas, genocídios, conflitos entre grupos rivais e outras lamentáveis ocorrências para as quais frequentemente não encontramos explicações, infelizmente, tornaram-se parte do nosso dia a dia, originando, não raras vezes, crises de raiva, tristeza, ansiedade, medo, insegurança e outros sentimentos difíceis de controlar, sobretudo por parte dos mais novos.
Estes conteúdos que se generalizaram nas nossas casas podem afetar profundamente as crianças e jovens, influenciando a forma como pensam e agem. Fique atento: é comum que se desenvolvam alterações nos padrões do sono e do comportamento, que as crianças percam o apetite e até que manifestem dificuldades de concentração. Se estas mudanças se tornarem duradouras equacione procurar a ajuda de um psicólogo.
Evite, antes de mais, que os mais pequenos sejam expostos, direta ou indiretamente, a estas imagens na medida em que estão em desenvolvimento emocional e não têm estrutura psíquica devidamente amadurecida para lidar com estes conteúdos extremamente agressivos e nocivos para a saúde mental, mesmo quando acontecem a milhares de quilómetros de distância.
Feita esta ressalva, tome nota que, sempre que a situação assume uma dimensão capaz de prejudicar o bem-estar quotidiano da criança, impõe-se uma conversa aberta sobre o assunto com o intuito de facilitar a identificação e gestão das suas emoções. As crianças precisam regularmente desse apoio para aprenderem a gerir a ansiedade e o stress desencadeados pela torrente de imagens violentas com as quais, involuntariamente, se têm confrontado.
As conversas sobre violência e eventuais traumas que, entretanto, possam ter surgido podem ser extremamente difíceis, mas nunca deixe de as ter na medida em que se revestem de enorme importância para o futuro da criança e a sua qualidade de vida. A ocorrência de vários episódios violentos e stressantes num curto espaço de tempo pode ser bastante desafiante, principalmente para um cérebro em desenvolvimento. Tenha em consideração que a informação a prestar e a abordagem a seguir devem ter, sempre, em linha de conta a idade da própria criança e o seu grau de maturidade.
Em qualquer circunstância, iniciar um diálogo pode ser algo complexo, mas necessário. Tenha sempre presente que há algumas coisas específicas a ter em mente quando se pretende discutir de forma eficaz e empática eventos traumáticos:
1. Seja proativo e tente acalmar
Para a criança é complicado entender os atos violentos - se para os adultos a guerra é assustadora, para os mais novos pode ser ainda pior. Por isso, discutir tópicos como violência e, por exemplo, racismo pode ser esmagador para muitas crianças, mas evitar estas conversas pode criar ainda mais ansiedade e stress. Ao ter estas conversas, faça perguntas abertas para obter mais informações sobre o que estão a sentir e porquê. Escute as suas preocupações. Encoraje as perguntas e responda-as da forma mais honesta e sensível possível, procurando apoiá-la em relação ao que está a sentir. Dê espaço a que criança verbalize as suas emoções. E procure acalmá-la, fazendo-a ver que todos os conflitos/guerras têm um fim. O apoio dos que se lhe são próximos é fundamental para que consiga ter a tranquilidade necessária para enfrentar as suas emoções - pais ansiosos tendem a ter filhos ansiosos. Ensine a valorizar as formas pacíficas para resolver os conflitos, mostrando que há muitas pessoas no mundo disponíveis para ajudar. Evite dizer-lhe para não se preocupar em relação a algo que a criança já consegue perceber que preocupa todas as pessoas à sua volta. Se o fizer a criança perceberá que não está a ser sincera.
2. Seja um iniciador consistente de conversas
Eduque para a não violência. Infelizmente, estes eventos, desafios e experiências fazem parte da história e da atualidade. A regularidade das conversas contribui para promover a compreensão. Falar sobre os sentimentos difíceis e eventuais angústias, permite filtrar a informação e corrigir possíveis ideias erróneas que possam estar a ser consolidadas no cérebro da criança. Para facilitar a concentração e compreensão experimente dividir as conversas mais complexas em subtemas.
3. Seja honesto e aberto
Isto é particularmente crítico para os pais em quem as crianças mais confiam para as ajudar a gerir os principais desafios. Seja honesto sobre o que sabe e não sabe, como se sente, e o que está a fazer para a ajudar a sentir-se seguro e apoiado. Esta abertura poderá contribuir para a criança contornar as suas vulnerabilidades e assim ganhar confiança para procurar mais vezes ajuda. Não negue a existência da violência. Faça a criança perceber que não está sozinha nem desapoiada. No caso das crianças mais velhas, experimente, por exemplo, assistir ao telejornal ao seu lado, encorajando-a a dar a sua opinião, podendo de seguida enquadrar a situação e debater em conjunto as notícias que estão a ser veiculadas - pensar numa situação complexa em conjunto pode revelar-se essencial para que a criança consiga aprender a gerir os seus sentimentos.
4. Confiar nos recursos para ajudar
Quando se trata de traumas e experiências associados a casos de violência, injustiça e questões sociais, informe-se sobre os recursos disponíveis para o ajudar a si e à criança.
Avalie a necessidade de procurar o apoio de um especialista, sempre que as alterações de comportamento e do sono se tornem duradouras.
5. Encoraje a socialização
Se a criança sentir que pode ser útil e fazer algo para ajudar, estará a conquistar para si própria maior confiança e segurança. Ajude a fazer a diferença, por exemplo, contribuindo com a doação de bens alimentares, roupas e outros materiais para as populações mais carenciadas, vítimas de países em conflito.
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