Os cuidadores evitam este diálogo, na maioria das vezes, com recurso a frases feitas (por exemplo, “ainda és muito pequeno para compreender”) ou a explicações irracionais, nas quais eles próprios não acreditam e que podem deixar as crianças confusas (por exemplo, “o pai está num lugar especial”).
Naturalmente que as respostas anteriores são avançadas pelos cuidadores com as melhores das intenções, numa tentativa de proteger as crianças do sofrimento. Na verdade, as inseguranças do adultos acerca de como abordar este tema são acompanhadas por um enorme medo relativamente à potencial reação da criança.
Contudo, dada a capacidade de fantasiar das crianças, o medo do desconhecido tende a ser mais intenso e assustador do que enfrentar a realidade.
Que estratégias podem ser usadas pelos cuidadores para abordar o (inevitável) tema da morte com as crianças?
Em primeiro, seguem algumas sugestões em relação ao “onde”, “como” e “quando”, nomeadamente:
- É fundamental que o tema da morte seja introduzido pelos cuidadores (nos quais a criança confia) e num momento e espaço que transmita segurança à criança. Como por exemplo, durante o dia e no conforto da própria casa, para que exista tempo e disponibilidade para a criança pensar, colocar questões e o adulto responder. Introduzir este tema, por exemplo, à noite ou no momento de deitar a criança pode perturbar o sono. Da mesma forma, fazê-lo durante um passeio pode gerar confusão ou levar a uma desvalorização do diálogo.
- A morte deve ser explicada como um fenómeno com três características, designadamente: natural, inevitável e irreversível. Como sabemos, faz parte da vida de todos os seres vivos, inclusive daqueles que gostamos. Por exemplo, dizer à criança “todas as pessoas nascem e morrem, mesmo aquelas que gostamos muito, é o ciclo da vida”.
- É importante que o diálogo envolva uma linguagem simples e honesta, não só para a criança compreender, mas também para a encorajar a colocar questões. O uso de explicações vagas origina apenas confusão e medo. Tomem-se como exemplo a expressão “o pai viajou para um sítio melhor”. Esta expressão pode criar esperanças quanto ao regresso do pai, potenciar o medo da criança em viajar e/ou uma ansiedade excessiva perante a ausência de outros membros da família. Outro exemplo é a expressão “a mãe está a dormir para sempre”. Esta explicação pode originar pesadelos e/ou alterações do sono, dado que a criança pode começar a ter medo de adormecer e de não acordar. Um outro exemplo é a expressão “a tua irmã é uma estrela no céu”, a qual pode levar à esperança, ideias e planos irrealistas de alcançar o céu ou, na ausência de estrelas, a sentimentos de abandonado ou esquecimento.
- Os cuidadores podem também recorrer a aspetos físicos e concretos para explicar a morte. Por exemplo, “o avô morreu porque o coração deixou de bater, estava com muitas dores”.
- É recomendável explicar a causa da morte, para evitar que a criança crie fantasias ou até mesmo, culpar-se. Em casos de morte por doença, é importante reforçar que doença não significa morte, para prevenir o desenvolvimento de novos medos. Por exemplo, se um adulto após espirrar referir “acho que estou a ficar doente”, a criança pode considerar que existe o risco de este morrer e ficar assustada. A explicação da causa evita estas situações, podendo ser importante reforçar à criança que “é frequente as pessoas ficarem doentes, mas isso não significa que vão morrer. A tia morreu, porque estava doente há muito tempo e o coração deixou de ter força para bater”.
- É importante que o adulto expresse as suas emoções. Os adultos funcionam como modelos para as crianças e, por isso, ao reprimir as emoções, a criança agirá no mesmo registo. Quando o adulto expressa as suas emoções (por exemplo, chorar, dizer que está triste), a criança sente-se segura para dialogar e expressar os seus pensamentos e emoções. É crucial que o adulto ajude na identificação e exploração das emoções, pois algumas podem estar a ser vivenciadas pela primeira vez e a criança é incapaz de as denominar. Por exemplo, “é natural que te sintas triste ou zangada, eu sinto-me muito triste e, provavelmente, vais ver-me a chorar. Se quiseres chorar, também o deves fazer, não sintas vergonha ou medo, vais sentir-te mais aliviada”.
Ainda que as recomendações e princípios orientadores explorados anteriormente facilitem a compreensão do que é importante aquando do diálogo acerca da morte, por vezes, é importante recorrer a ajuda especializada e adaptada às necessidades e características da criança.
Não se encontra sozinho(a). Peça ajuda!
As explicações são de Sofia Gabriel e Mauro Paulino da MIND – Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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