Quando deve começar a dar a mesada aos seus filhos? Como é que pode ensiná-los a gerir o seu dinheiro?
Se ainda não fez estas perguntas, o dia vai chegar. E muito provavelmente mais cedo do que estará à espera. Prepare-se!
Se até ter filhos a sua vida financeira se fazia a dois, com crianças em casa vai ter de redobrar a atenção com o seu orçamento familiar e atender às novas exigências ao seu governo do lar pelo novo ministério dos filhos. A mesada (ou a semanada) é, muitas vezes, o pontapé de saída para dar às crianças um papel de relevo no seu caminho financeiro.
Ricardo Ferreira, autor do livro «Educação Financeira das Crianças e Adolescentes» e representante do projeto Escola Financeira, sublinha o «compromisso mútuo» de pais e filhos que precisa de ser respeitado e deixa alguns conselhos, nomeadamente de monitorizar constantemente o processo, de não interferir com os gastos do filho para que estes possam «aprender por si», de evitar montantes extra e de promover incentivos à poupança e não confundir resultados escolares com mesada ou semanada.
E, já agora, se o seu filho lhe pedir um aumento? Faça de gestor da sua empresa que é o lar e perceba «se o aumento é necessário ou se é resultado de uma má gestão», indica o especialista em finanças pessoais. Atribuir responsabilidade aos mais novos é fomentar bons gestores e potenciais poupadores. Segundo os dados mais recentes sobre o comportamento dos portugueses, por cada 100 € do rendimento disponível (o que realmente conta depois de descontados impostos e outras obrigações fiscais ao seu rendimento bruto) as famílias conseguem poupar em média 12,6 euros, o que corresponde uma taxa de poupança na ordem dos 12,6%.
Os números de 2013 revelam a preocupação das famílias com o futuro e ultrapassa o valor de 2012, de 12%, mas manter os bons hábitos de poupança pode ser um testemunho entre gerações. Desde a idade dos porquês até à adolescência, os pais podem fazer a diferença na poupança dos filhos. «Educar passa muito pelos exemplos, pelas vivências que proporcionamos aos nossos filhos no nosso dia a dia», refere Sónia Ramalho, uma das responsáveis do projeto de educação financeira para crianças e jovens É tempo.
«Educar financeiramente também passa em grande parte pelo exemplo, e pela relação dos adultos com o dinheiro», refere ainda. Ricardo Ferreira lembra o epistemólogo Jean Piaget para afirmar que «as crianças constroem representações mentais desde muito cedo. A promoção dos valores e a construção de conhecimentos financeiros junto das crianças terão reflexos a prazo», alerta o especialista.
Esses conhecimentos irão, nomeadamente, «permitir uma melhor adaptação de comportamentos e um reforço da compreensão de múltiplos elementos, como é o caso de normas, papéis sociais, crenças, valores, decisões de consumo e poupança, etc», acrescenta ainda Ricardo Ferreira. Mas se é importante começar a explicar o que é o dinheiro e como se pode poupar, dar o primeiro passo pode ser difícil até pelos maus hábitos existentes.
«A poupança hoje em dia é muitas vezes falada como castigo. Devemos falar na poupança como algo bom, como uma forma, uma ferramenta, para alcançarmos os nossos sonhos associando a poupança a um desejo da criança: uma bicicleta, um jogo novo, um telemóvel», explica Sónia Ramalho.
A mesada e o banco
Para os pais e filhos que conseguem poupar a pergunta natural é «O que fazer ao dinheiro?».
Sónia Ramalho, do projeto É Tempo, acredita que «estas questões acabam por ser muito do foro familiar, mas é importante a criança perceber que é bom que o dinheiro que ela guarda para o futuro esteja no banco, a crescer».
Esta especialista em educação e literacia financeira salienta, no entanto, que «não devemos cair no erro de colocar todo o dinheiro que a criança vai amealhando no banco não lhe dando oportunidade de comprarem as suas pequenas coisas nem de concretizarem os seus objetivos», diz. Permitir que a criança adquira tudo o que quer é um erro mas não autorizar que não compre uma ou outra coisa também pode não ser pedagógico.
A maioria dos bancos tem soluções ajustadas a crianças e jovens, mas em 2013 a Proteste Investe, da DECO, Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, indicava que «nenhuma das contas para crianças proporciona, no primeiro ano, um rendimento superior aos depósitos tradicionais a 12 meses». Fazer as contas aos juros que rendem os tradicionais depósitos acessíveis aos pais ou as contas a prazo para as crianças é uma tarefa fácil, por exemplo, num balcão de um banco.
Assim, pode decidir a melhor solução até porque o dinheiro poupado pelos seus filhos não tem que ir obrigatoriamente para contas para os mais pequenos quando pode render mais em contas para crescidos. A DECO, no mesmo trabalho sobre produtos financeiros para crianças, aconselhava, mesmo, os pais que tivessem de esperar mais de cinco anos pelos retornos, a fazerem a repartição das poupanças por diferentes produtos financeiros, como fundos de investimento ou ações.
3 palavras para ensinar hoje às crianças:
1. Juros
Explicar o conceito de juros é fundamental para as crianças e jovens perceberem como funciona a sua vida financeira, uma vez que são os juros que podem ajudar a crescer o dinheiro numa conta bancária ou em títulos de baixo risco como os certificados de aforro.
2. Capitalização
Mostrar como se gera dinheiro através de mais dinheiro é explicar a lógica do sistema bancário. A capitalização num depósito a prazo, por exemplo, não é mais do que gerar juros de outros juros já pagos anteriormente.
3. Orçamento
A vida significa recursos escassos para a maior parte das famílias. Faça um orçamento familiar com os seus filhos e envolva-os na missão de poupança na sua casa. Um orçamento familiar pode ser a forma mais fácil de mostrar que é preciso fazer escolhas.
Sites úteis para pais:
Texto: Nuno Alexandre Silva com Ricardo Ferreira (dinamizador do projeto Escola Financeira e autor do livro «Educação Financeira das Crianças e Adolescentes») e Sónia Ramalho (dinamizadora do projeto de educação financeira para crianças e jovens É Tempo)
Comentários