Educação ou literacia?

A Reorganiza tem trabalhado os temas de literacia financeira ao longo dos últimos anos. Estes temas envolvem conhecer temas financeiros nas áreas de crédito, seguros ou investimento. No entanto, temos cada vez mais concluído que o domínio destes conceitos é cada vez mais assessório, porque as decisões financeiras têm muito mais de emocional do que de racional. Assim, parece-nos que a melhoria das decisões económicas muito se deve à educação financeira.

O que é educação financeira?

A educação financeira consiste em ajudarmos os nossos filhos a definir as suas prioridades e a conhecer os seus valores. Cada família tem os seus e é fundamental que os conheçamos, pois todas as decisões financeiras deverão ser baseadas naquilo que consideramos importante. Neste contexto, o papel do educador passa muito por ajudar o educando a percorrer o caminho das tentações de consumo dentro destas balizas. Não é fácil, mas é fundamental para os que queremos educar adultos responsáveis.

Estratégias de educação financeira

De seguida apresentamos algumas estratégias ou ideias que podem ajudar os nossos filhos a melhorar a sua relação com o dinheiro.

Semanada ou mesada

A semanada ou a mesada é uma importante ferramenta de educação financeira. Na prática, consiste em atribuir um valor para que os nossos filhos possam fazer as suas despesas mensais. Para ser um instrumento de educação, deveremos:

  1. Negociar o valor, tendo em consideração a realidade da criança e as suas despesas regulares. Na prática, fazer um orçamento pessoal;
  2. Garantir que é um valor contido, o que nos permite mostrar o valor do dinheiro e criar o efeito escassez, conseguindo-se assim que tenham de tomar opções;
  3. Acompanhar nas decisões, garantindo critérios adequados à nossa realidade e valores, podendo-se proibir algumas despesas que consideremos totalmente desadequadas;
  4. Incentivar a poupança e a solidariedade, trabalhando-se assim as virtudes da prudência e a generosidade.

E se optar por não dar mesada?

Várias famílias optam por não dar mesada, o que está também certo. Nestes casos, as crianças não deixam de ter as suas despesas, pelo que sugerimos a justificação para os pedidos de dinheiro e um acompanhamento próximo. A nossa resposta a estes pedidos deve estar assente em argumentos e em diálogo, evitando-se o “porque não”, o que promoverá a formação de consciências bem formadas.

Aproveite as idas ao supermercado

As idas ao supermercado podem ser ótimos momentos de educação financeira, na medida em que criam a possibilidade de falarmos sobre dinheiro e sobre a necessidade de tomarmos opções. Por vezes, somos tentados a dizer que tomamos certa decisão porque não temos dinheiro. Podendo ser verdade, talvez seja mais adequado que expliquemos que tomamos opções pela positiva. Deixamos de consumir certos bens para consumir outros. Deixamos de consumir para poupar. Ou simplesmente não gastamos em certas coisas porque não são boas para a família.

É certo que algumas idas ao supermercado se podem tornar pesadelos, na medida em que temos de lidar com birras e pedidos insistentes. A nossa recomendação é que não se ceda, porque cedendo estamos a criar precedentes muito difíceis de eliminar no futuro.

Envolva os seus filhos

Uma ideia que consideramos muito poderosa passa por criar um jogo em que envolvemos os nossos filhos no esforço de poupança em casa. Aproveite a última fatura de eletricidade, gás ou água e criem em conjunto estratégias para reduzir o seu valor nos próximos meses. Para criar um incentivo adicional, defina um pequeno prémio quando atingirem os objetivos propostos.

Planear a semana para tempo de qualidade

A nossa vida é uma correria. Saímos de um emprego e rapidamente entramos no “segundo emprego”. Esta exigência pode ter impactos na qualidade de tempo em família, o que muitas vezes se traduz na encomenda de comida fora (a praga do “Bolt”) ou a tentação de nos agarrarmos aos ecrãs para adormecer o cérebro. A nossa sugestão passa por tentar planear a semana para guardar algum tempo de qualidade para estar com o seu filho. Tempo para falar sobre os seus sonhos, as suas aspirações e as suas dificuldades. Tempo para o ajudar a pensar, refletir e tomar melhores decisões.

Criar uma conta poupança

As contas poupança podem ser boas ferramentas de educação financeira. Ajudam-nos a tornar mais visíveis os benefícios da poupança, para a qual necessitamos de tomar decisões (por vezes difíceis) e criar hábitos novos. Nesta fase, não nos focamos muito na rentabilidade da conta poupança, mas antes na criação de hábitos e tomada de decisão, mas se quiser optar por outros produtos, pode fazer sentido conhecer os fundos de investimento ou os seguros financeiros.

Estas e outras ideias podem ser úteis para ajudarmos a formar a consciência dos nossos filhos. Outras ideias estão disponíveis no nosso livro “Como ensinar o meu filho a poupar” que pode descarregar gratuitamente.