Mas, e aqui há sempre um mas, estes métodos alertam também os pais que vai ser preciso serem “resistentes e persistentes”.
O que significa isto? Que o bebé provavelmente vai chorar nas primeiras noites.

Talvez haja alguns bebés que efectivamente, com alguma mudança do ambiente e as rotinas diárias propostas, reajam bem e até nem chorem nada. Acreditamos que os pais desses bebés achem que textos como este são exagerados. “Eu apliquei esse método e vi maravilhas”, dir-nos-ão.

Mas esses foram os casos em que não ocorreu verdadeiro “treino de sono”.
Não foi preciso. E esses bebés não são todos os bebés.

O nível e impacto do choro em cada bebé não pode ser universalizado. Se alguém lhe disser “o seu bebé vai chorar, mas é só porque não está habituado. O choro não lhe vai fazer mal nenhum”, esse alguém está a mentir-lhe.

É impossível avaliar a priori o impacto individual que um momento de desespero pode ter em cada um dos nossos bebés. O potencial traumático de cada evento varia consoante os indivíduos e o seu contexto.

Não sabemos portanto quais serão os bebés que irão debater-se e chorar mais, pedindo desesperadamente contacto físico com os pais para poderem voltar a um estado de regulação que lhes vai permitir relaxar, reduzir níveis de ansiedade e adormecer. Não sabemos também o impacto que esse choro, esse pedido de ajuda não atendido, terá naquele momento  para aquele bebé específico.

Sim, é certo que é dito aos pais que podem pegar ao colo o bebé (as estratégias pick up, put down) mas não adormecê-lo (o bebé, exausto, muitas vezes adormece mal os pais lhe pegam ao colo). Os pais são também instruídos a usar palavras chave de conforto como “eu estou aqui” ou “é hora de dormir”. Para um bebé tranquilo, apenas levemente irrequieto, até poderia ser suficiente.

Mas será isto suficiente para um bebé cujo nível de stress já ultrapassou qualquer possibilidade de regulação? Não.

E os pais saberão que não é suficiente. Porque apesar de estarem a  fazer tudo o que lhes disseram, o bebé não se está a acalmar.

O problema é que por essa altura o colo deixou de ser algo que instintivamente usamos para acalmar os nossos bebés. O colo, disseram aos pais,  deve a todo o custo ser evitado, é algo a ser usado em ÚLTIMO caso (assim mesmo em maiúsculas como é escrito no mais recente livro de treino de sono editado em Portugal). Convenceram-se os pais de que o colo é um mau hábito, um sinal de fraqueza, um erro, uma “muleta”. E quando o colo, o conforto físico é precisamente o que o bebé precisa, e não vai abdicar dele sem dar luta, as respostas acabam.

Os pais ficam então com uma escolha entre mãos: seguir as instruções para serem “consistentes” ou até mesmo “resilientes” como haviam sido motivados a fazer, o que na prática significará persistir mesmo que o bebé continue a chorar, ou…  pegarem no bebé.
Talvez ao fazerem a segunda opção, sentirão que o “bebé ganhou”. Que nunca irá “auto-confortar-se”.  O que ninguém lhes disse é que o auto-conforto, a auto-regulação não vêm como prémio do campo de batalha. É muito mais profundo que isso.

A verdade é que é plausível para nós que estes métodos aparentemente “amigos do bebé”, acabem por ter exactamente, e em alguns bebés, o mesmo efeito que os métodos de extinção. Talvez intuindo isso,  alguns treinadores de sono alertem os pais de que é mesmo possível que o bebé vomite durante o episódio de choro. De alguma forma conseguem convencer os pais de que isto não os deve impedir de continuarem, como se um bebé que vomita num episódio de choro porque pede colo, não fosse um bebé que atingiu níveis de stress que vão muito para além da sua capacidade de se auto-regular.

Na nossa perspectiva, um bebé que chora ao ponto de vomitar para que lhe dêem colo, não deveria nunca ser considerado algo “normal”.

E alguém sugerir isto devia ser o suficiente para levantar muitas questões em todos nós.
Será mesmo necessário passar por isto?
É este realmente o caminho para um sono pacífico?

Autoras:
Constança Ferreira, Terapeuta de Bebés
Mariana Cordeiro Ferreira, Psicóloga Clínica

Centro do Bebé