Foi na manhã desta quarta-feira, 3 de julho, que Carina Rodrigues conversou com Cláudio Ramos e Maria Botelho Moniz sobre a fase difícil que passou recentemente.

Atualmente formada em assistente de medicina, sem planear, Carina ficou grávida de Giovani. "Não esperava nada. Inicialmente foi aquele susto, tenho 20 anos, o que é que vou fazer", recordou, referindo que logo de seguida, quando recebeu o apoio do companheiro e da família, tudo ficou mais nítido.

Mas, em maio, a vida trocou-lhe as voltas. Apesar de tudo, diz, acredita que foram os planos de Deus.

A gravidez foi sempre de "altos e baixos". No primeiro trimestre, lembra, perdeu sangue e teve de ficar em repouso absoluto. Mas depois tudo ficou bem até que viveu um novo susto, quando colocaram a possibilidade de Delman poder ter Trissomia 21. Tal risco foi posto de parte mais tarde.

Estava a correr tudo bem até que aos seis meses, no início de maio, fez uma ecografia em que se apercebem que Delman estava a fazer pressão no seu rim. Na altura, Carina sentia "muitas dores nas costas".

A infeção ainda não tinha sido detetada e começou logo a tomar medicação. No dia 3 de maio foi-lhe detetada uma bactéria que, diz, "matou os seus filhos". Na verdade, já tinha a infeção mas ainda não tinha sido diagnosticada.

"Pedia sempre: 'Filho, sai daí. E ele ouvia-me porque quando a dor parava, sentia que era ele a mexer-se'. Eu sentia mesmo tudo", partilhou.

Acabou por ficar em casa e estava nas suas rotinas quando, numa quinta-feira, sem saber o que seria, "teve uns corrimentos que dizem que é normal ter na gravidez". "Era estranho e senti que estava ali qualquer coisa [que não estava bem]", relatou.

Ligou para para o médico e o mesmo disse-lhe que seria normal. Os filhos "continuavam a mexer". "Até ao último momento, estavam comigo".

O dia que marcou a vida de Carina Rodrigues

No dia 13 de maio começou a sentir "pressão" na zona inferior da barriga, como se estivesse com "dores da menstruação". Ligou para as urgências e acabou depois por pedir à madrinha para a levar ao hospital. "Senti que algo não estava bem", lembrou, sem saber na altura que iria perder os seus meninos.

O caminho que fez para o hospital foi deitada no carro e assim que chegou à unidade hospitalar, os enfermeiros vieram buscá-la. "Disse-lhe logo para que se esquecessem de mim, que eu não existia, que eles [os bebés] é que eram o futuro", contou.

Na sala da ecografia, pediu para que não lhe escondessem nenhuma informação e foi-lhe depois explicado que estava em trabalho de parto e que o primeiro filho estava a nascer. "Ainda é um bocado difícil lembrar-me de tudo o que aconteceu", confessou.

A madrinha ligou para a família de Carina, que estavam em Portugal para celebrar o aniversário do filho de Fanny Rodrigues. Entretanto, o companheiro de Carina, Giovani, que estava a trabalhar, também veio a "correr para o hospital".

"Quando ele entra, eu estava deitada a falar com eles [bebés] e a pedir um milagre à Nossa Senhora de Fátima", disse ao falar da chegada do companheiro ao hospital.

Mais tarde, foi-lhe dito que talvez conseguissem salvar o segundo bebé, Delman, mas que nasceria com complicações e teria de ficar preso a uma cadeira de rodas. Uma decisão de última hora que não levou Carina a hesitar. Queria salvar o filho, Delman, a todo o custo.

"Para mim não era eu que importava, eram eles", frisou durante a conversa com os apresentadores, elogiando também a equipa médica que a acompanhou.

Carina, lembra, contou para os filhos, falou sempre como eles "como se estivesse a falar para uma pessoa normal, eles reagiam a tudo".

A perda do primeiro filho

"Começo a chorar, mas não é de tristeza. Eu ia conhecer o meu filho. Quando ele esticou a mãozinha, era como se estivesse a dizer 'olá mamã'", destacou, ao falar do nascimento de Enzell.

"Só lhe dizia que ele tinha de ir quando ele quisesse, que toda a gente o amava muito e que ia ter uma vida excelente cá fora, mas que de certeza ia ter uma melhor lá em cima. Disse-lhe que era preciso ter muita coragem para ficar aqui, mas mais se precisa para ficar lá em cima a olhar por nós, porque é muito difícil olhar por uma pessoa. Vejo o meu filho a reagir, a tentar respirar, como me tinham avisado", relatou. "Vê-lo a tentar respirar e não conseguir… era o pior sentimento que se podia ter, para mim ele estava a sofrer", continuou.

"Os enfermeiros acariciaram o meu filho. Disse-lhes que ele era lindo, que parecia um ratinho", destacou, contando que o bebé morreu 18 minutos depois de nascer e que esteve sempre com ele.

A perda do segundo filho

Nisto, Delman ainda estava dentro da sua barriga e o suposto era conseguir aguentar mais três semanas até ao nascimento do segundo filho. "Escondi todas as minhas dores, ninguém se apercebeu de nada, só no fim", contou.

"Ele estava bem, já tinha ocupado o espaço de um bebé normal, estava todo esticado, todo lindo, sempre com as mãos para cima… O pior era eu, a casa não estava segura, o ambiente não estava firme. Quando o médico me perguntava se eu estava bem, eu dizia que sim. Ele perguntou-me se eu ia aguentar três semanas, e eu disse que tinha de aguentar", acrescentou.

O companheiro percebeu logo que Carina não estava bem, mas esta não queria que ele falasse com a equipa médica. Estava, diz, com 42º de febre, desidratada, não comia. Fez análises e o médico veio logo de seguida. Carina não queria que o filho nascesse porque sabia que ia perdê-lo. "Sentia que não estava a proteger o meu filho, sentia culpa", admitiu.

"Por causa de uma bactéria que não sei de onde veio, o meu útero [que era a casa deles] não estava a aguentar. É complicado para uma mulher sentir que uma parte de si está a falhar", acrescentou. "Explicaram-me que sem mim não há bebé. […] E eu disse-lhe [ao médico]: 'Está a pedir-me para eu matar o meu filho. Não posso fazer isso, uma mãe não faz isso'", continuou.

Mas o menino nasceu dois dias depois, a 15 de maio, mas desta vez "adormeceram" Carina e só acordou depois do parto. O bebé acabou também por morrer 18 minutos depois.

Antes de terminar, destacou que aceitou o convite para estar no programa da TVI a contar a sua história para "alertar que uma infeção não é só uma infeção urinária, foi o que me tirou os seus filhos".

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