Após décadas de muita fama, Romana decidiu afastar-se a vida mediática há cerca de quatro anos. No entanto, agora está pronta para voltar ao mundo artístico.

Decisões que estiveram em destaque durante a conversa com Júlia Pinheiro, esta quarta-feira. Mas antes, a artista recuou até à infância e lembrou os episódios que marcaram esta fase da sua vida.

"A minha mãe chegava a ir pedir roupa à mãe [da Ana Malhoa]", recordou. "O ambiente em casa não era de silêncio, de serenidade. Os meus pais brigavam muito, havia muita gritaria e umas coisas a voarem de um lado para o outro... Mas foi o ambiente em que cresci. Fui habituada ali e pensei que fosse o ambiente natural. Ao não conhecer outro ambiente, aquilo torna-se uma coisa normal", acrescentou.

"Via a minha mãe triste muitas vezes, mas eu não sabia o que fazer. Era uma miúda", continuou, ao falar dos episódios de violência doméstica que assistiu em casa, explicando que "o pai educou-os dentro dos valores que ele achava que eram os melhores".

"Ele achava que estava a dar o seu melhor. Ele contribuía para que não nos faltasse nada, para que tivéssemos sempre a nossa comida na mesa... No entanto, ele tinha a sua maneira de ser, especial, que hoje vejo desta forma e quero encará-la assim. Já estive a falar com ele sobre isso, e ele acha que foi tudo perfeitamente normal. Mas eu não iria querer um pai assim para os meus filhos", partilhou.

E foi a falar da avó Amélia que Romana ficou em lágrimas, muito emocionada. "Ela sempre teve muita paciência para mim. Eu tinha três anos e lembro-me que chegava do infantário e cantava imenso aquelas músicas que aprendia, e ela adorava e estava sempre a puxar por mim. Os anos foram passando e ela dizia que eu tinha uma estrelinha, que tinha um condão. [...] Ela ficava horas a ouvir-me", disse.

Lembrando ainda o início, como era menor, o dinheiro que ganhava "não era seu". "A gestão, quem fazia era o meu pai. Ele dava-me à volta de cinco a dez mil escudos (25 a 50 euros) por espetáculo. Eu ia comprando as minhas coisinhas e ele fazia a gestão do resto", explicou, contando que "nunca viu o dinheiro" que ganhou nessa altura.

"Já quis [fazer as contas desse dinheiro], mas sempre que se toca em alguns assuntos, eles são sensíveis perante os olhos de algumas pessoas da família e não acaba bem. E como não acaba bem, eu fujo. Vivo muito mais sã e feliz, longe daquilo que foi o passado", confessou.

Aos 16 anos, o pai colocou Romana fora de casa e esta foi viver com o namorado. "Era rebelde, sim. Na altura estava a cantar imenso, estava a fazer muitos espetáculos e estava muito cansada. Estava esgotada e queria estar com os meus amigos, com o meu namorado que ele [o pai] odiava. Acho que até avancei com aquela relação na altura também para o confrontar porque era uma forma de o provocar", lembrou.

Mas também não viveu uma fase feliz com o então companheiro, com quem esteve durante cinco anos.

"Não foi boa ideia [juntar-me com o meu namorado], mas foi uma experiência que me levou para melhor. Como tinha 16 anos, eu não tinha sequer maturidade de ter um relacionamento e de viver com uma pessoa. O que é que eu sabia da vida? Foi uma aprendizagem. Não fui maltratada, mas éramos muito miúdos e, se calhar, há certas imagens que acompanhei na minha infância e que achava que eram normais", recordou.

A dada altura, foi surpreendida com um vídeo da tia, Ágata, que "sempre foi uma referência". Sobre a relação de ambas, contou: "Hoje somos duas mulheres maduras que já passaram por muitas coisas, e falamos sobre todas essas coisas. [...] Somos duas mulheres unidas, falamos diariamente, temos muito carinho uma pela outra".

Já a relação com o pai não é de grande proximidade, ao contrário da mãe, com quem fala "diariamente".

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