John Galliano faz hoje 60 anos. Nascido em Gibraltar, um enclave britânico no sul de Espanha, filho de um canalizador gibraltense e de uma dona de casa espanhola, Juan Carlos Antonio Galliano-Guillén, como foi registado, tinha apenas seis anos quando se mudou com a família para Inglaterra. Na Saint Martin's School of Art, em 1984, licenciou-se em design de moda, uma paixão de adolescência. Pouco depois, lançava a primeira coleção de roupa, inspirada na revolução francesa, com críticas positivas.
A boutique Browns adquiriu-a toda para a revender de seguida. Entusiasmado com o interesse, decidiu criar a sua própria etiqueta. As (más) parcerias que estabeleceu, primeiro com o empresário Johan Brun e, depois, com o empreendedor Ole Peder Bertelsen, levaram-no à bancarrota, em 1990. É nessa altura que emigra para Paris, onde conhece o estilista marroquino Faycal Amor, dono e diretor criativo da marca Plein Sud, um apoio decisivo. Logo no ano seguinte, colabora com a cantora Kylie Minogue.
John Galliano cria os figurinos para a digressão de promoção do disco "Let's get to it", que dão (muito) nas vistas, mas pouco depois termina a colaboração com Faycal Amor. Anna Wintour, a poderosa chefe de redação da edição norte-americana da revista Vogue, apercebe-se de todo o potencial do designer de moda inglês e decide promovê-lo. O jornalista André Leon Talley, então correspondente europeu da revista Vanity Fair, apresenta-o à socialite portuguesa São Schlumberger, a segunda mulher do empresário norte-americano Pierre Schlumberger, colecionadora e mecenas. É também através dele que chega a John Bult e Mark Rice, gestores da empresa de investimentos que o passa a financiar.
Em julho de 1995, John Galliano começa a trabalhar para a Givenchy e, em outubro de 1996, substitui Gianfranco Ferré na Christian Dior. O estilista inglês atinge o auge da fama. Tem o mundo e as celebridades a seus pés mas as drogas, o álcool e as polémicas em que se vê envolvido quase que lhe custam a carreira. Em fevereiro de 2011, depois de ter sido detido na sequência de afirmações antissemitas proferidas num bar parisiense, é despedido da Dior. Sabe-se, depois, que já tinha proferido frases semelhantes antes.
Em setembro desse ano, John Galliano é condenado em tribunal. Negou sempre as acusações, apesar de existirem vídeos que o incriminam e que mostram que estava alcoolizado. "Foi desterrado da moda e da sociedade por causa de uma bebedeira", refere a jornalista Dana Thomas. Nos dois anos seguintes, desaparece de circulação. Muda-se para uma clínica de desintoxicação, no deserto do Arizona, nos EUA. Por influência da amiga Anna Wintour, Oscar de la Renta convida-o a voltar ao corte e à costura.
Muitos veem o gesto do criador de moda dominicano como o sinal de que o elege para seu sucessor mas a especulação não passa disso mesmo. Em outubro de 2014, o anúncio da contratação pela Maison Margiela, onde ainda permanece hoje, acaba com todas as dúvidas. "John Galliano perdeu-se na Dior. Os desfiles tornaram-se demasiado teatrais", acusa Dana Thomas. "A força do anonimato de Martin Margiela tem sido uma espécie de penitência", analisa Alexandre Samson, colaborador do Museu da Moda de Paris.
A discreção de fera amansada de hoje contrasta com a rebeldia extravagante de outros tempos. "Aprendi muito acerca de mim. Redescobri a criança que nasceu para criar. A dada altura, pensei que a tinha perdido", desabafa o estilista. "Espero que um dia volte a ter a sua própria casa de alta costura, nem que seja um projeto mais pequeno, que lhe permita voltar a criar a beleza no seu estado mais puro", refere Dana Thomas, autora do livro "Gods and kings - The rise and fall of Alexander McQueen and John Galliano".
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