Pablo Alborán é um dos últimos casos conhecidos mas, nos últimos anos, foram muitos os artistas a assumir a sua homossexualidade numa fase mais avançada da carreira. O cantor espanhol só aos 31 anos é que o fez. Justificou a decisão com uma necessidade de libertação. "Preciso de ser um pouco mais feliz do que aquilo que já sou", revelou o intérprete de "Perdóname" numa publicação que fez em meados de 2020, seguindo o exemplo de nomes como George Michael, Ricky Martin e Samantha Fox.
Em entrevista exclusiva ao Modern Life/SAPO Lifestyle, a cantora e compositora inglesa de 55 anos assumiu, há dois anos, que estava apaixonada pela norueguesa Linda Olsen, mas, apesar de partilhar regularmente fotografias da noiva nas redes sociais, não gosta de abordar publicamente o assunto. "Eu acho que a minha sexualidade tem sido muito sobrevalorizada", critica. "Eu acredito no amor, o amor é a única lei e é tudo o que me limito a dizer em relação a este assunto", refere a intérprete de "True devotion".
Apesar de ter namorado com a inglesa Mary Austin no início da carreira, Freddie Mercury viria, depois, a envolver-se sexualmente com vários homens. As fotografias do cantor com outros homens chegaram rapidamente à imprensa e o assunto acabaria por ser abordado nas conferências de imprensa dos Queen, com o vocalista da banda a acabar por assumir a homossexualidade publicamente. Apesar de ter revelado em "Fast love" que era adepto de engates e de sexo fortuito, George Michael também se viu forçado a admitir que gostava de homens depois de ter sido apanhado a tentar seduzir um polícia numa casa de banho pública, em abril de 1998.
Depois de ter sido detido em Los Angeles, nos EUA, o cantor, músico e compositor, falecido em 2016, revelou a orientação sexual e até abordou o assunto na letra do single "An easier affair". "Eu tentei mentalizar-me que era heterossexual", cantou George Michael em 2006. Depois de anos de especulação, Ricky Martin também veio a público confirmar aquilo de que muitos já desconfiavam, em 2010. O cantor porto-riquenho admitiu, na altura, que escondeu a homossexualidade "por medo e insegurança".
Em Portugal, Diogo Infante, Cláudio Ramos e Manuel Luís Goucha também assumiram publicamente a orientação sexual numa fase mais avançada da carreira. O apresentador da TVI fê-lo durante a entrevista que acompanhava uma produção fotográfica com Rui Oliveira, com quem casaria em abril de 2018, duas décadas depois de terem começado a namorar. "É a pessoa mais importante a seguir à minha mãe", afirmou na altura. "As pessoas olham para nós como dois homens com um olhar de absoluta normalidade", desabafaria meses depois. No verão de 2018, em entrevista à revista de Cristina Ferreira, Cláudio Ramos, que enquanto namorou com o então blogger Pedro Crispim sempre negou ser gay, decidiu confirmar, finalmente, aquilo que muitos já sabiam.
"Descobri que sou homossexual. Não sou bissexual", afirmou o apresentador do reality show "Big Brother 2020", que chegou a casar com a mãe da filha que tem. O ator e encenador Diogo Infante também demorou tempo a assumir a orientação sexual mas, hoje, fala publicamente dela sem qualquer tabu. O artista, que casou em 2013 com o agente Rui Calapez, foi uma das primeiras figuras públicas a casar com uma pessoa do mesmo sexo em Portugal. "Há pessoas que me dizem que fui inspirador", revela.
"Mas não me sinto uma referência [porque] a minha sexualidade não me define. De todo. É apenas uma parte de mim", confessou, em maio de 2020, em grande entrevista à revista TV Guia. "Não me define nem me revejo em tudo o que é homossexualidade ou no movimento", admite. "Claro que pensei [nas consequências do casamento]. Não sou inconsciente. Ainda vivemos numa sociedade conservadora em alguns aspetos", considera o ator, que garante nunca ter ouvido qualquer comentário desagradável.
"Nas redes sociais, foi incrível a onda de reações. Foi muito bonita, muito positiva, muito saudável", elogia Diogo Infante, que deixa, no entanto, um alerta. "Muitas vezes, a discriminação é silenciosa. Sempre fiz muita publicidade e lembro-me de, passado um ano, sentir uma quebra na procura", confidencia. Apesar da homofobia que ainda persiste, os artistas homossexuais dos tempos que correm estão, todavia, longe de serem obrigados a casar para poderem continuar a trabalhar, como antigamente sucedia.
Cary Grant e Randolph Scott, que pode recordar na galeria de imagens que se segue, viveram juntos durante mais de 11 anos, partilhando o quotidiano entre uma casa de praia em Santa Monica e uma mansão no bairro de Los Feliz, em Los Angeles, na década de 1930, mas, por causa do período opressor, conservador e moralista, em que viviam, os dois populares atores norte-americanos nunca assumiram a relação amorosa. Para esconder a homossexualidade, chegaram mesmo a casar. Um fê-lo por cinco vezes.
O outro fê-lo por duas. O agente de Roy Fitzgerald, um camionista que se converteria numa das estrelas maiores de Hollywood, obrigou-o a adotar Rock Hudson como nome artístico, porque era mais viril. Para calar os rumores de homossexualidade, forçou-o a casar-se com a sua secretária, Phyllis Gates. O matrimónio duraria um ano. Rodolfo Valentino, Montgomery Clift, Tab Hunter, Marlene Dietrich, Janet Gaynor, Anthony Perkins foram outras das celebridades obrigadas a viver uma vida de mentira(s).
Apesar de serem muitos os famosos que conseguiram sair do armário nos últimos anos, continua a ser grande o número de figuras públicas que a imprensa cor de rosa garante nunca ter tido a coragem de o fazer. Entre as celebridades mais apontadas figuram os nomes de Tom Cruise, John Travolta, Will Smith, Carlos de Inglaterra e Montgomery Clift. "Eu conheço, pelo menos, quatro atores que escondem a homossexualidade. Eles temem ser descobertos. É doloroso", lamentou a atriz Kate Winslet numa entrevista.
"Um ator muito conhecido conseguiu contratar um agente americano e ele disse-lhe que, apesar de saber que ele era bissexual, não queria que ele assumisse publicamente essa orientação sexual", revelou ainda a artista inglesa. Anualmente, a 17 de maio, assinala-se o Dia Internacional contra a Homofobia, a Transfobia e a Bifobia. A data foi instituída em 2004 para chamar a atenção para a violência, a discriminação e o preconceito de que muitas pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgénero continuam, hoje, a ser vítima.
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