Nas palavras de Maria de Belém Roseira, o seu percurso não deixa grande margem para dúvidas. «Tendo eu integrado muitos gabinetes de Governo, fui construtora da história recente e fui atriz nesse filme. No que foram as grandes transformações na Segurança Social, na legislação do Trabalho e na Saúde», considera. A Saber Viver conversou com a ex-ministra da Saúde, que ajudou a fundar a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), foi vice-provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e administradora-delegada do Instituto Português de Oncologia (IPO). Pelo meio escreveu «Mulheres Livres», livro publicado pela editora A Esfera dos Livros.

Considera-se uma mulher livre?

Posso dizer que tive muitas oportunidades e que a época em que vivi não me impediu de as aproveitar. É certo que o advento da democracia alterou substancialmente o estatuto da mulher, pelo menos, do ponto de vista legal. Mas, hoje em dia, ainda são muitas as dificuldades vividas por muitas mulheres para conseguirem concretizar as suas escolhas de vida.

É mais uma mulher de política ou de ação?

Gosto muito de ação, mas orientada por princípios e critérios. Por isso é que prefiro dizer que tenho estado na ação política. É acção, o que eu gosto. Mas com sentido!

Leonor Beleza, durante a apresesentação do seu livro, disse que a participação política e empresarial das mulheres é ainda miserável. Concorda?

Sim. Tem sido muito difícil para as mulheres atingirem lugares de relevo. Parece que enquanto existir um homem disponível para um qualquer lugar, não devem as mulheres atrever-se a ele se candidatarem!

Dos cargos que teve, qual foi para si o mais enriquecedor?

Não apenas um, mas dois. O de vice-provedora da Misericórdia de Lisboa e o de administradora do IPO de Lisboa. Aprendi, nessas instituições, qual a verdadeira hierarquia dos problemas.

O seu percurso é algo atípico. Qual o segredo para gerir todas estas atividades?

Muito trabalho, muita dedicação e muito apego, e gosto pelo que estava a fazer. Sentia, diariamente, a enorme mais valia que o meu trabalho significava para imensa gente. E, claro, muita sintonia em casa em termos da importância do trabalho realizado com dedicação.

Que conselhos dá às jovens mulheres deste país?

Que acreditem no futuro e o construam investindo na sua capacitação e exigindo o reconhecimento da sua dignidade.

Sente que por ser mulher tem de se esforçar mais do que os seus pares homens?

Para obter reconhecimento, sim. É algo que toda a gente sabe!

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Como tem tempo para si e para os seus?

Com muita dificuldade. Tenho de cortar no tempo que seria para mim para poder dedicar um pouco, muito menos do que merecem, aqueles com quem e para quem vivo. É uma ginástica constante e, muitas vezes, não sucedida.

Gosta mais de ser chamada Maria de Belém ou Maria de Belém Roseira?

Depende. Em termos pessoais, Maria de Belém. Em termos profissionais, o segundo.

Preocupa-se com a sua imagem? Que cuidados tem?

Tenho algumas rotinas que faço quase automaticamente, gastando com elas o menor tempo possível. Limpo e alimento sempre a pele antes de me deitar, ando a pé ou subo escadas sempre que isso não signifique um sacrifício muito pesado face ao cansaço que tiver e como de tudo, sobretudo fruta e fibras, mas pouca quantidade. Bebo imensa água, não fumo e, claro, tento dormir um mínimo razoável, o que nem sempre é possível.

Não sai de casa sem o quê?

Um tracinho nos olhos...

Qual é o livro que está a ler?

«Não Te Vou Fazer Um Discurso» de Gabriel Garcia Márquez.

Como se vê daqui a 10 anos?

Com poder sobre o meu tempo, se a vida o permitir e o meu estado de saúde também!

Texto: Joana Brito