Aos 63 anos, Maria de Belém, deputada, advogada e jurista acaba de fazer a sua estreia literária com a publicação do livro «Mulheres livres. Escritoras, políticas, filósofas: 12 mulheres que ultrapassaram preconceitos e viveram de acordo com as suas ideias e os seus ideais», editado por A Esfera dos Livros.

Em entrevista à Saber Viver, a ex-ministra para a Igualdade justifica a escolha das protagonistas da obra.

Entre elogios e reivindicações, fala ainda sobre o papel das mulheres na sociedade e na política e revela os cuidados que beleza que procura ter diariamente. Depois deste, não exclui a hipótese de poder vir a lançar outro(s) livro(s), mas assegura que um escrever romance é algo que não está nos seus planos.

O que a levou a escolher estas 12 mulheres para o seu primeiro livro?

Houve a preocupação de escolher mulheres incontestáveis nos seus domínios de afirmação, dos primórdios aos fins do século XX, de preferência já desaparecidas – a única excepção é Simone Veil – em actividades e esferas de acção diferentes e em diversos espaços geográficos. Portanto, extensão temporal, extensão da área de afirmação, extensão geográfica.

De todas, qual é aquela com que mais se identifica e porquê?

Gosto de todas, muito. Mas confesso que é surpreendente a actualidade do pensamento e da análise de Hannah Arendt.

Trocava a sua vida pela de alguma destas mulheres?

Não posso comparar-me com elas e com a sua grandeza. Servem-me, contudo, de modelos no sentido de não me afastar da minha coerência, da minha verdade e da minha intervenção livre.

Apesar do pioneirismo que aponta a Maria de Lourdes Pintassilgo, a verdade é que, depois dela, Portugal não voltou a ter nenhuma mulher primeiro-ministro e só nesta legislatura tivemos uma mulher presidente da Assembleia da República. Também ainda nunca tivemos uma mulher na Presidência da República. Apesar de todos os avanços, a política continua a ser um atividade maioritariamente de homens, não concorda?

Sim, maioritariamente e será difícil que deixe de o ser. Marca disso é o ainda se notar a ausência de mulheres. Isso significa que não é ainda corrente que haja mulheres nos lugares que refere.

Continua a fazer sentido uma Lei da Paridade na política?

Claro que sim. A prová-lo, o impacto que a sua aplicação determinou no sentido de haver mais mulheres nas eleições com base em listas.

O seu livro retrata o percurso de 12 mulheres excecionais mas de outras épocas. Se tivesse que pegar em figuras contemporâneas, mulheres do nosso tempo, para dar continuidade a esse projeto, que figuras incluiria nessa obra?

Penso que há imensas. Imensas, mesmo. E cada vez mais! Porque são inúmeras as que conquistam lugares visíveis. Por isso, mais difícil a escolha. Teria que ser bem pensada e reflectida.

Falando agora da Maria de Belém mulher, tem segredos de beleza, cuidados particulares com a alimentação ou pratica exercício para se manter em forma? Quais são as suas preocupações a esse nível?

Como de tudo, em pouca quantidade. Bebo muita água. Ando a pé e subo escadas, desde que possa. Limpo sempre a cara à noite e não dispenso um creme intensamente hidratante porque tenho a pele muito seca. E trabalho muito e durmo pouco, o que não é muito bom para a saúde...

Veja na página seguinte: Como a deputada se define enquanto mulher

A nível pessoal, como se define como mulher?

Uma mulher preocupada com o meu país, com o mundo e com o futuro. Por isso intervenho, estudo muito para poder fundamentar devidamente as minhas posições e não paro, quer no plano político, quer no cívico.

E como é que vê o papel da mulher nos dias de hoje?

Muitas vezes com dupla jornada, no trabalho remunerado e em casa. Com muitas incompreensões e vitima dos preconceitos de sempre mas cada vez mais ciente do seu valor e da sua dignidade.

Depois deste livro, tem ideias ou projetos para outros? Gostava de escrever um romance, por exemplo?

Ainda não. Foi um exercício difícil porque tenho muito pouco tempo, tal a variedade de tarefas em que estou envolvida. Romance, não estou a ver...

Texto: Luis Batista Gonçalves