O seu rosto é familiar dos portugueses. Marcello Antony, ator brasileiro de ascendência italiana, estreou-nas nas telenovelas em "O rei do gado", em 1996. Seguiu-se "Salsa e merengue", depois "Torre de Babel" e "Terra nostra". Em 2018, mudou-se para Portugal e entrou em "Valor da vida", um dos projetos de ficção da TVI. A viver em Cascais, nos arredores de Lisboa, o artista revela como vai passar a quadra natalícia, fala da nova vida portuguesa e antecipa o futuro.
Estamos em pleno período de festas natalícias. Liga muito ao Natal ou prefere o réveillon?
Para mim, o Natal é distinto do ano novo. O Natal é uma coisa mais familiar. O Ano Novo uma festa mais para os amigos. Não é que também não passe o réveillon com a família, mas faço essa distinção...
E tem alguma tradição especial nesta altura do ano?
Só as coisas que são cliché. Nós gostamos de montar a árvore em família e de colocar os presentes ao pé da árvore. Fazemos a ceia tradicional à mesa com tudo aquilo a que temos direito... Não deixa de ser um ritual!
Já fez a árvore de Natal?
Fizemos no início de dezembro. Fiz até um time-lapse [gravação com aceleração da imagem] com a família a montar árvore até ao resultado final...
Este ano, o Natal e o réveillon vão ser em Portugal ou no Brasil?
Vão ser em Portugal. Já é o segundo ano que os passamos em Portugal. Foi o ano passado e agora este...
Emigrou para Portugal em 2018. Que balanço é que faz desta mudança para o nosso país? Já se habituou ao frio que se tem feito sentir nos últimos dias?
Eu adoro o frio e já estava um bocado cansado do calor do Brasil. Isso já é uma vantagem! Já estamos muito habituados ao frio, sim. É claro que, no início, houve alguns percalços mas, depois, adaptá-mo-nos muito facilmente. É claro que sentimos falta de algumas coisas do Brasil mas não com aquela ânsia que tínhamos no início.
A vida que faz hoje em dia em Portugal é muito diferente da que fazia no Brasil?
É basicamente a mesma coisa, com a diferença que aqui saio mais à noite. No Rio de Janeiro, como ultimamente, infelizmente, sair à noite não era muito recomendável, acabava por ficar muito em casa. Aqui, como temos segurança, sinto-me muito mais à vontade para poder frequentar eventos como este, de apresentação do programa de réveillon do espaço de eventos Sud Lisboa Hall.
Já conhece Portugal inteiro ou ainda não teve oportunidade de andar por aí a explorar o país?
Já explorei bastante o país mas, por incrível que pareça, ainda não conheço o Algarve...
Por que é que deixou o Algarve para o fim?
Não sei, acho que faltou oportunidade. Eu cheguei já com a telenovela em gravações. Eu vim para cá por causa de uma telenovela que se passava em Guimarães. Por isso, durante seis meses, fui muito ao norte. De Setúbal para cima, conheço Portugal todo.
O mais para sul que fui foi até à Herdade do Esporão [em Reguengos de Monsaraz no distrito de Évora]. Já fui a Braga. É uma cidade lindíssima! Também fui a Espanha. Aluguei uma autocaravana com a família e fomos, para conhecer.
Antes de se mudar para cá, vinha muito a Portugal de férias?
Não. Estive em Lisboa há quatro anos, com a minha esposa, para conhecer a cidade. Na altura, lembro-me de comentar com a minha mulher como é que seria se morássemos aqui... Um pensamento muito distante. Imaginá-mo-lo apenas por curiosidade. Nunca imaginei que, dois anos depois, pudesse estar a realizá-lo. Estou muito feliz e adaptado!
E, em relação a novos projetos, como é que estamos?
A base da minha vida agora é Portugal. Como sou ator, a minha profissão permite-me que continue a trabalhar como ator até ser velhinho. Se eu, eventualmente, tiver algum convite para fazer uma telenovela ou algum outro trabalho no Brasil, irei fazê-lo, mas depois voltarei para Portugal.
É como se fosse o inverso, como se eu estivesse no Brasil, me chamassem para Portugal para um trabalho e, depois de o fazer, regressasse. A diferença é essa! Por enquanto, não tenho nenhum convite nem de Portugal nem do Brasil. Estou numa fase estranha, esquisita, em que ainda não está acontecendo nada.
Vai a caminho dos 25 anos de carreira. Teve sempre uma vida profissional muito intensa…
Muito, muito... E, de uma certa forma, estou a querer reinventar-me. Não estou aqui à espera para fazer telenovelas. É claro que, se surgisse algum convite, ele seria analisado e, muito provavelmente, até o aceitaria mas, por enquanto, apesar de estar cá há um ano e sete meses, ainda considero que estou numa fase de adaptação profissional.
Em termos de vida pessoal, já estou adaptado. A minha mulher é chef gastronómica e eu estou a incentivá-la a desenvolver os projetos que ela tem nessa área aqui, que passam, talvez, por abrir um restaurante. Mas, para isso, tem de encontrar o local certo. Ela já está a avançar com o projeto de catering dela. Está a iniciar-se agora. Já tem quatro eventos marcados...
Em Portugal, é, sobretudo, conhecido pelas telenovelas. Representar em televisão é o que mais gosta de fazer ou, à semelhança de muitos outros atores, prefere teatro e/ou cinema?
Apesar de ser muito conhecido da televisão, a minha formação é teatral. Eu formei-me como ator de teatro na Casa das Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Fiz várias peças. Não tive o caminho facilitado por ter um rostinho bonitinho. Eu estudei o ofício, formei-me como ator, fiz várias peças e, na sequência desses trabalhos, é que iniciei a minha trajetória na televisão.
Ter esse rostinho bonitinho, como acaba de o descrever, ajudou-o ou prejudicou-o mais?
Tenho uma história curiosa. No início, antes de fazer o teste para a minha primeira novela, ainda antes de ser conhecido, ia a muitos castings e fazia anúncios. Uma vez, fiz um casting para o anúncio de um supermercado, passei no teste e, uma semana depois, a produtora ligou-me a dizer que eu não podia fazer o anúncio porque o dono do supermercado achava que eu não tinha o perfil das pessoas que queria que frequentassem o supermercado dele.
Eles pagaram-me na mesma mas eu fiquei a pensar que não tinha cara de povão, como ele falou. Na época, não era conhecido, estava no início e enfrentei uma situação destas. Eles pagaram-me como se tivesse feito o anúncio, menos mal, mas senti uma espécie de descriminação...
Nos últimos anos, temos visto muitos atores portugueses a emigrar para o Brasil para trabalhar em telenovelas, sobretudo na Globo. É o caso do Ricardo Pereira e Paulo Rocha e, mais recentemente, do José Condessa, por exemplo, que têm sido recebidos de braços abertos. Cá em Portugal, o fenómeno é mais recente. Neste momento, temos vários atores brasileiros a trabalhar em Portugal, como é o caso da Lucélia Santos e do Edwin Luisi, mas o mercado ainda não está tão aberto para vocês. Também sente isso?
Eu acho que isso é natural porque o Brasil tem um mercado de 210 milhões de pessoas. Portugal só tem 10 milhões de habitantes. O mercado fica muito restrito. Neste caminho inverso que os portugueses estão a fazer, há muito trabalho para eles poderem fazer várias coisas. Não há mercado para muitos brasileiros. Existe mercado, sim, mas para um ou, eventualmente, para dois num determinado papel que o exija.
Em qualquer sítio de Portugal, há brasileiros e essa miscigenação tem que estar refletida nas telenovelas, mas a proporção é menor. Se forem muitos os atores brasileiros numa produção, fica desproporcional em relação ao número de atores portugueses. Também há algum receio de que venhamos invadir-lhes o mercado de trabalho. Essa é uma questão que já não se coloca no Brasil, uma vez que o país tem um mercado enorme.
Quando veio para Portugal, foi morar para o Restelo, em Lisboa. Agora, vive em Cascais. Quando anda na rua, é reconhecido muitas vezes. Existem diferenças na forma como era abordado no Brasil e como agora é abordado cá?
A abordagem cá é muito mais tranquila...
Mas faz uma vida normal? Vai, por exemplo, ao supermercado ou deixa de ir a um restaurante para não ser incomodado?
Sou abordado de uma maneira muito tranquila. Se entro num táxi ou num Uber, a conversa flui naturalmente e, só no final, quando chego ao meu destino é que me dizem que gostam muito do meu trabalho. No Brasil, é muito comum haver uma certa histeria...
Estamos prestes a entrar em 2020. Qual é o seu grande desejo para o próximo ano?
Muito trabalho para todos! O ser humano precisa de trabalhar para se sentir produtivo. Eu poderia embarcar aqui nuns clichés e pedir paz e amor mas acho que, talvez, a palavra que possa traduzir 2020 seja respeito. Se as pessoas tiverem mais respeito umas pelas outras, consequentemente vem a paz, o amor, a concordância e a fraternidade. Acho que é isso!
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