Muitas crianças sonham ser bombeiros, polícias, pilotos de aviação... Outras não! A medicina sempre foi um sonho de menino do cirurgião plástico Manuel Oliveira Martinho, até por ser uma tradição de família, que começou com o avô e depois com o pai, entre outros familiares.
«A medicina era uma realidade próxima do meu dia a dia e, por isso, marcou-me sempre», confessa.
«Senti que tinha mais vocação para ser cirurgião e o facto da cirurgia plástica reconstrutiva e estética ser mais criativa e me dar mais liberdade em termos de intervenção, foram, sem dúvida, fatores que contribuíram para escolher esta especialidade», revela ainda este especialista. A par da medicina, Manuel Oliveira Martinho licenciou-se também em educação física, o que acredita ser um enorme contributo no seu trabalho enquanto cirurgião plástico.
«Valorizo muito a harmonia do corpo humano e aproveito para aconselhar alguns pacientes a fazerem os exercícios que necessitam para melhorem a sua postura ou corrigir algumas desarmonias», explica. Numa época em que a imagem tem cada vez mais importância, Manuel Oliveira Martinho não é indiferente ao que, vulgarmente, denominamos como ditadura da imagem.
«Para determinadas pessoas, sim, existe uma ditadura da imagem que é exagerada e, às vezes, lhes serve de imagem de marca», ressalva. «No entanto, para a maioria das pessoas existe apenas a preocupação de corrigir problemas que causam transtorno psicológico, que, por vezes, é muito doloroso. Mas é positivo que as pessoas se preocupem com a imagem. Note-se, no caso da obesidade, que o facto de as pessoas se cuidarem é extremamente benéfico para a saúde», explica.
Na sua profissão, Manuel Oliveira Martinho reconhece que a relação de confiança é fundamental entre médico e paciente. O cirurgião plástico tem de ter a capacidade de avaliar em termos psicológicos os seus pacientes, perceber se os anseios estão dentro do bom senso ou se necessitam de apoio psicológico. «Acredito que é verdadeiramente importante transmitir confiança ao paciente. Para isso, deve cultivar-se alguma proximidade e amizade, de maneira que o paciente sinta que pode contar com o seu médico», assume.
Mas isso não significa ceder a todos os desejos dos pacientes. «Se o que desejam alcançar não estiver dentro do bom senso (nestes casos tento explicar o que seria mais adequado), tenho de dizer não. É muito importante perceber se o paciente é capaz de compreender o que podemos oferecer e o que vai conseguir alcançar com a cirurgia. No fundo, perceber se as suas expectativas são realistas», assegura. Daí discordar completamente com a ideia fantasiosa de que o cirurgião plástico é também um vendedor de sonhos.
«Deve é ser um amigo que pode concretizar alguns sonhos não irrealistas e informar sobre todas as possibilidades e riscos, o que é muito diferente. E há limites para o sonho. Só podemos prometer a realidade», defende. Para este cirurgião há razões e motivações claras na sua actividade. «No meu ponto de vista, a medicina não é um comércio. Nunca se deve ceder a uma qualquer tentação comercial se a pessoa que temos à frente não tem o perfil ou indicação para ser operada», diz com convicção.
O que mais gosta no teu trabalho?
O facto de ser uma actividade muito criativa, que pode ajudar as pessoas a sentirem-se melhor consigo próprias ou a resolver problemas resultantes de acidentes ou malformações que normalmente provocam grande infelicidade. Contribuir para ultrapassar ou resolver um problema de saúde é sempre compensador.
Já se submeteu a alguma cirurgia plástica?
Sim. Uma otoplastia unilateral (correcção do pavilhão auricular).
Já operou alguém da sua família?
Sim, alguns elementos. Ao contrário de outros profissionais que não se sentem cómodos em fazê-lo, tenho confiança e sinto-me à vontade com o meu trabalho, mesmo com aqueles que me são próximos.
Já algum paciente o comoveu de forma especial?
Sim, já me comovi muitas vezes, normalmente quando as pessoas ficam felizes e demonstram a mudança que os resultados podem ter na sua vida. Recordo-me, por exemplo, de uma doente, com cerca de 55 anos, que nunca tinha vestido uma saia por ter um defeito nas pernas que lhe provocava enorme desgosto. Na primeira consulta após a cirurgia, apareceu com uma saia e, para mim, foi muito marcante sentir e ver que tinha realmente mudado a vida daquela paciente.
Recordo também o choro de alegria de uma paciente após uma correção nasal, pondo fim ao desgosto que arrastava desde a adolescência. Relembro ainda o sorriso rasgado de uma jovem, após uma mamaplastia de aumento, que durante anos se recusava a ir à praia ou vestir um fato de banho pelo facto de não ter peito, o que para a generalidade dos amigos era apenas uma questão de vaidade.
Quais os hábitos de vida que considera mais saudáveis?
Sorrir apesar dos problemas que vão aparecendo e transmitir aos outros essa forma simpática de encarar a vida. Tentar manter a saúde e um peso ideal, fazendo uma alimentação saudável (mais vegetariana e com menos sal e menos gorduras animais), praticar exercício físico global com regularidade e em todas as idades.
O que faz nos tempos livres?
Jogo ténis ou corro, toco guitarra, leio, oiço música, passeio, vou à praia e adoro dançar.
O que seria se não fosse cirurgião plástico?
Sempre quis ser cirurgião, talvez por haver a tradição da medicina na minha família. Mas se não tivesse sido médico tinha muitas opções já que tenho um grande leque de interesses, nomeadamente enquanto enólogo, professor de educação física ou treinador desportivo, advogado...
Qual o avanço científico por que mais anseia?
A cura do cancro.
Texto: Joana Martinho
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