Júlio Isidro foi um dos convidados a marcar presença na festa do 20.º aniversário do Canal História. Em declarações exclusivas ao Fama Ao Minuto, o apresentador confessou ser um “consumidor habitual” do canal, falou sobre a história e a evolução do panorama televisivo em Portugal e esclareceu a recente polémica em que se viu envolvido.
Alegadas críticas aos programas de Cristina Ferreira e Júlia Pinheiro
“A lágrima faz a audiência”, esta foi a frase que disse recentemente a uma publicação e que levou Cláudio Ramos, no programa ‘Passadeira Vermelha’, da SIC Caras, a criticá-lo. No referido programa, o comentador associava estas palavras a um comentário menos positivo sobre os programas de Júlia Pinheiro e Cristina Ferreira. Acusações que o apresentador nega.
“É uma mentira pegada. Eu não me referi a programas absolutamente nenhuns”, esclarece. “Não me estava a referir a nenhum programa em especial, tenho a maior consideração por muitos dos meus colegas mais novos. Só tenho de ter. Só tenho também de aprender com eles algumas coisas de televisão.”, acrescenta, explicando o motivo pelo qual não faz tensão de mudar o estilo televisivo que o carateriza.
“O facto de eu me reafirmar enquanto alguém que não quer mudar é porque era ridículo eu agora aos 74 anos, com 59 anos de televisão, armar-me em moderno. Só uma visão distorcida e maldosa pode considerar que a minha afirmação visa alguém. Não, só me visa a mim.”, afirma, fazendo questão de deixar claro que as suas declarações se referem “genericamente” a quem fez as críticas, sem acusações particulares ou dirigidas a alguém em especifico.
“Eu era incapaz de me dirigir ao programa da Cristina [Ferreira], por quem tenho o maior respeito profissional e humano, ao programa do Manuel Luís Goucha, onde fui recentemente, ou aos programas seja de quem for”, reforça, tecendo elogios aos profissionais da nova geração.
“Acho que os jovens profissionais são todos muito bons. Eu não estou em nenhum pedestal cá de cima a ver a desgraça que hoje se faz. Eu estou no meu lugar, só que não quero é sair do meu lugar. Porque sou o último. Não há mais ninguém. Os que estão vivos são poucos e já estão afastados”.
Júlio Isidro recusa-se a abandonar o seu estilo “por respeito” pela sua geração e por uma questão de “coerência”. “Eu quero ser o que sou, como sou. Portanto, reafirmo: estou orgulhosamente no meu estilo. Orgulhosamente deslocado da moda. Era impensável eu agora armar-me em hipster”.
A preparar a saída de cena
A fazer dois programas na RTP Memória, ‘Inesquecíveis’ e ‘Traz para a frente’, o apresentador sente que no canal, do qual se orgulha, encontrou o espaço certo para dar cartas no seu estilo próprio.
“Não estou exilado na RTP Memória, não tenho nenhumas pretensões de fazer mais nada se não preparar a minha própria extinção.”, diz, esclarecendo logo de seguida a sua afirmação: “O que é preparar a minha própria extinção? É um dia destes, tranquilamente, sair de cena”.
Descreve a sua forma de fazer televisão como “elegante e respeitadora”, mas faz questão de dizer que “não quer com isto dizer que a nova não seja”. “É outra forma de elegância, de respeito”, explica.
“O ser clássico é usar um fato cinzento, o que é que eu hei de fazer? Não quero ser outra coisa porque a pior coisa que pode acontecer é quando nós nos queremos armar naquilo que não somos”, reafirma.
É, uma vez mais, com um enorme orgulho que se refere ao sucesso dos seus programas na RTP. “O meu ‘Inesquecível’ é habitualmente o programa mais visto na RTP Memória e já se verificou que o target vai até aos 45 anos. As pessoas também querem ver outra forma de fazer televisão”, acredita.
Porém, é ainda com maior vaidade que se declara um profissional completo. Edita todas as peças, escolhe os convidados e preparara cada programa. O esforço, garante, é para que o seu trabalho seja feito da forma que acha correta e não para conseguir a qualquer custo ter audiências.
“Não me esmifro para que o programa tenha audiência a qualquer preço. Mas, sempre que faço a evocação de alguém que já morreu fica desde logo combinado: ‘meus amigos, aqui não há choradeira. Vamos invocar a vida, dar revelo à vida’.”, acrescenta, deixando claro que esta é e será sempre a sua forma de estar. “É uma forma de estar, se calhar é antiga, peço de desculpa, mas é a minha”.
Com 59 anos de carreira, Júlio Isidro conta já com milhares de entrevistas feitas. No programa ‘Inesquecível’ são já mais de oito anos de emissões e 750 entrevistados. “Aquilo que eu estou a fazer é espólio, estou a trabalhar quase como uma missão. Estou a criar espólio para a história da televisão e quando sair, vou sair muito feliz”, diz.
A história da televisão é também a sua história
“Se me perguntar se aquela televisão que se faz hoje é infinitamente melhor que a do princípio, eu terei que dizer que não são. A não ser nas questões técnicas. Mas no que respeita à criatividade, eu acho que os pioneiros da televisão devem ter e são muitos poucos vivos nesta altura, o maior orgulho por aquilo que fizeram a construir a televisão em Portugal.”, diz o comunicador, que passou a fazer parte do panorama televisivo nacional entrando para a RTP dois anos depois da estreia do canal público (em 1957).
O fenómeno Conan Osíris - qual a opinião de Júlio Isidro?
Foi o presidente do júri na semifinal do Festival da Canção 2019. Título que, tal como faz questão de esclarecer, lhe foi atribuído apenas por ser o elemento mais velho e para que fosse o porta-voz dos pontos atribuídos por cada um.
A sua ligação ao festival é inegável, chegou a ser o apresentador do evento e agora, ainda que em pé de igualdade com todos os outros jurados, teve o poder de votar na sua canção favorita. Por isso quisemos saber qual a sua opinião sobre a música escolhida para representar Portugal na Eurovisão – ‘Telemóveis’ de Conan Osíris.
“Ele tem toda a legitimidade em estar na Eurovisão.”, começa por dizer. “Agora, com as nuances todas da história da Eurovisão, não faço a mínima ideia do que é que vai acontecer. Se um dia, há dois anos, surpreendentemente, aparece um menino com um ar muito enfiado, até frágil, porque estava muito doente, a cantar uma bela melodia e ganha, a seguir ganha uma senhora com uma canção que fala de galinhas e não sei o quê. A história da Eurovisão está cheia destas contradições.”, realça.
Na sua opinião, “a Eurovisão já está muito além de um festival de canções”. “As canções têm de ser feitas todos os dias em Portugal pelos cantores e compositores e devem ser divulgadas nas rádios e na televisão. É isso que eu penso”, rematou, aquele é, indiscutivelmente, um dos senhores da televisão portuguesa.
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